quarta-feira, 1 de outubro de 2008

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20 Anos Depois...
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Hoje publicamos mais um texto da série "20 Anos Depois". O autor do texto é El_Brujo, pseudônimo de um velho militante anarquista, colaborador do jornal O Inimigo do Rei nos anos 80, e da APPL (Associação em Prol do Pensamento Libertário) nos anos 90. Hoje participa do grupo de editoria deste blog.
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Boa leitura...
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No ano de 1977 os fantasmas re-encontram o caminho da liberdade no exercício de pensar/fazer um jornal anti-monarquista. Isto nos tempos em que milicos substituem milicos de verde-oliva na troca-de-guarda da república de bananas nanicas amarelecidas pelo tempo que segue inexorável para o lixão da história.

Os fantasmas re-organizam-se sem distinções de qualquer natureza, seja em função das pupilas gustativas privilegiadas para sabores refinados (sorvete de mangaba é um exemplo clássico!), de raça ou de cor de pele, de gênero ou opção sexual, saberes ou títulos honoríficos acumulados nos brasões de família, etc...

Re-constroem os caminhos da liberdade com pacotes de jornais embaixo do braço, latinhas de spray nas mãos e com o grito da rebeldia. Fazem-se, assim, ouvir pelas ruas, nas escolas, fábricas e mil outros tantos recantos as tênues, mas persistentes, vozes rebeldes de estudantes, professores e trabalhadores.

Declamando versos à pleno pulmão por liberdade política, igualdade econômica e fraternidades entre homens e mulheres de boa vontade buscando o reverso de uma triste realidade que se traduz como dominação: as mãos fascistas que lhes apertam as cordas vocais e impõem o peso do retrocesso político sobre os ombros de um povo amordaçado.

Ressaltemos que essas ações foram realizadas no auge da ferrenha ditadura militar implantada em 1964, e que perdurou por quase vinte e cinco anos nesta nossa república de bananas nanicas galopada pelas patas dos cavalos encastelados em quartéis e palácios sólidos que se desmanchavam no ar como bolhas de sabão não som do pátria amada salve, salve!

E que perdurou até à consumação completa da orquestrada abertura política planejada pelo Gal. golbery do couto e silva: medidas provisórias (ações econômico-administrativas) sobre as poupanças homeopaticamente acumuladas, e também sobre o erário público-privado pelas famílias mafiosas dos farias (pc) & mello (zélia) & collor (fernando), que substituiu a já manjadissima dobradinha são paulo & minas gerais com o seu aristocrático café com leite.

Mas as vozes solitárias dos diletos rebeldes espalhados por este país vão se juntando uma aqui (do yapóqui ) outra acolá (ao chuí) na construção de um fazer política de forma inovadora e revolucionária: sem deus, sem pátria e sem patrão.

Contrapondo-se às práticas das esquerdas marxista-ortodoxas com suas alianças político-partidárias com as organizações pequeno-burguesas, sedentos todos esses agrupamentos políticos por migalhas provenientes das estruturas verticais do Estado, pouco lhes importando se capitalista ou estatal. Que em momento de crise não se furta em ceder alguns anéis para não perder o pescoço de um só golpe da afiada lâmina da Gillette alemã.

Num tempo de muito medo e incertezas, os nossos jornaleiros e jornalistas por excelência, ousaram levantar a bandeira negra da ação direta, da autogestão, do federalismo autonomista e da solidariedade. Rebelando-se contra o aparato de condicionamento ideológico da esquerda tupiniquim que tentava ser um dos negociadores de uma transição, outra vez, gradual e segura para a surrada democracia café com leite dos mineiros com paulistas. Isso num momento truculento da nossa história política com seus instrumentos de vigilância, controle e repressão: SNI, Dops e outras siglas mais sanguinolentas.

Trazem, os nossos anti-monarquistas, para a luta cotidiana uma visão dionisíaca (pão, tesão e autogestão!!) em oposição ao determinismo maniqueísta de fim-de-mundo (o capitalismo está condenado há findar-se e nada poderá ser feito para postergar o seu fim...) que nos é proposto nas receitas de bolos-prontos assinadas por ilustres verborrágicos-cozinheiros-canibais (Fidel Castro, Lênin, Trotsky, Josef Stalin, Enver Hoxha, Pol Pot, Tito, Mao Tsé Tung, Ernest Mendel, etc.) em seus livrinhos de auto-ajuda – em que tem a resposta certa para qualquer assunto ou seja de um tudo – financiados pelas inúmeras “igrejas” marxistas-leninistas-stalinistas ou as reformistas de todas as ocasião, tais como os social-democratas das escolas jesuíticas dos “boffes” & “bettos” com as suas teologias das virgens-santíssimas-do-além-e-do-amém!

E os inimigos do rei – velhos ou novos –, cientes por encontrar o seu próprio caminho no faça você mesmo, isso sem recorrer à qualquer resposta pré-fixada nos sussurros de qualquer esfinges, têm para si um simples e pragmático lema:
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pensar global e agir local!!
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Um comentário:

Anônimo disse...

um pequeno adendo, a título de contribuição...

Félix Guatarri:

“o rei está por toda parte. Que a luta já não se limita a um único front -- o Estado -- mas que os fronts se
multiplicaram ao infinito e estão também em nós.”

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