quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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por el_brujo

"Os socialistas poderiam conquistar,

mas não o socialismo,

que pereceria no momento

do triunfo de seus aderentes".

Robert MICHELS

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Ano de 2008, ano de eleições para definição do Alcaide da cidade e, também, dos futuros Edis... Ano em que a “face” demiúrgica dos candidatos são modeladas/re_modeladas/construídas pelas mãos experimentadas dos marqueteiros de plantão, que com uma série interminável de artifícios vende até gelo para esquimó. Ano em que os eleitores são caçados à laços pela estrutura de poder dos partidos políticos.

Organizações políticas que se estruturam para mostrar com toda pujança a sua força política de domínio e controle sobre os dominados territórios de mando e desmando. Espaços instáveis de exercícios de sonhos e fantasias estimuladas pelos mecanismos de divulgação para que o povo sempre esteja em busca de um salvador da ‘pátria amada mãe gentil’.

E para que esse ‘poder’ das organizações políticas se concretize, faz-se necessário ter sob suas asas os ‘melhores’ candidatos (políticos profissionais subsidiados pelo capital excedente nas mãos das elites partidárias) aos olhos do corpo técnico do partido. Eduardo Pinheiro – in “O Nascimento da Teoria das Elites” – nos dá uma ajuda, com suas leituras/conhecimentos na área das ciências políticas, sobre o sistema oligárquico constituído pelas novas ou velhas elites encasteladas nos partidos políticos:

... todas as formas de organização, não interessa quão democráticas ou autocráticas sejam suas intenções no início, eventualmente e inevitavelmente desenvolverão tendências oligárquicas...”.

O Pinheiro – apoiando-se em nomes como Gaetano MOSCA, Vilfredo PARETO e Robert MICHELS – re_encontra o Calcanhar de Aquiles dessas organizações, por natureza própria, verticalizadas. Ou seja, a delegação do pensar os problemas, sonhos e desejos individuais. E, também, a delegação do ‘fazer’, do executar as soluções encontradas e ou desejadas. A delegação à terceiro do verdadeiro poder, que deveria ser intransferível. Pois é de fato e de direito individual, mesmo que colocado em movimento coletivamente:

A Lei de Ferro da Oligarquia ocorre porque qualquer organização precisa de delegação. Esta delegação leva ao desenvolvimento de bases de conhecimento, habilidades e recursos numa liderança, o que acaba mantendo essa liderança no poder.

Vejamos, então que os sonhos individuais não terão espaços de realizações dentro dessas estruturas políticas, visto que os sonhos e desejos são rapidamente neutralizados pelas mãos habilidosas dos técnicos especializados em poder, e que estão apoiados na elite oligárquica do partido político. É bom destacar que o desenrolar da execução destes sonhos, inicialmente individuais, passam a ser também coletivos, pois sonhar/desejar é um bem que se compartilhar entre vários homens e mulheres de boa vontade. E vemos, também, essa preocupação nos estudos desenvolvidos por Pinheiro:

A especialização e a burocratização são os processos principais por trás da Lei [de ferro da oligarquia]. Elas criam um grupo especializado de administradores numa hierarquia organizacional, que por sua vez leva a uma racionalização e criação de rotinas de operação e tomadas de decisão.

Mas, lamentavelmente, os nossos sonhos e desejos são absorvidos pelos elementos responsáveis pelo controle (burocracia) dos sistemas internos destas organizações, que os normatizam, padronizam, e nos excluem de pensar, e decidir sobre os problemas que dizem respeito ao individuo e a coletividade socialmente ativa no exercício do fazer o pensado por um e por uma maioria...

Quase acontece um deslize em direção ao mundo do esquecimento. Ato falho, pois já estamos em plena campanha política de esclarecimento e reflexões:

vote nulo, não sustente parasitas!!!


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Até um fim, talvez..., Por Eduardo Nunes



Até um dia, até talvez, até quem sabe (...), como diz a letra dessa canção. Vou me perder, vou te perder pela cidade. Na cidade, perdido circulo à deriva pelos becos. Entro e saio em becos. Cruzo por barracos, de zinco, sem pintura, sem telhado. Lá no morro, as gerações sofrem ainda por falta de água, cultura, lucidez, loucura. Cidade de deuses, mitologias guerreiras urbanas, ancestralidades vitimadas pela escassez de feijoada, de literatura, de solidariedade.

4X4 é o tamanho do barraco, onde Doralice, eu bem que te disse, amar é tolice, morou... e criou seu filho e depois seu neto, que não chegou aos dezoito, nem mesmo aos oito! Se foi, para donde? Não foram as águas que o levaram, nem as enxurradas, foram balas, metralhadas por um justiceiro. Guerra de guerrilha na arte de Sun Tzu, do território traiçoeiro: fácil de entrar, mas difícil de sair. Mundo voraz, da cidade sem lei, sem as coisas belas que eu sei que há.

Verdade desdita, sem palavras, na fronteira da terra do nunca. Ponto de fuga, rota sem bússola (norte-sul), ideologia, eu quero uma pra viver. Redes de trocas solidárias nas ruas íngremes, ladeiras sem-fim, abaixo o pântano a céu aberto, infestado de ratos/relógios que marcam o dia do juízo final.

Tensão na cidade-mundo, na cidade-alta, na cidade-baixa, na cidade-média, na cidade-grande e pequena ribalta. Um quê de espanto, de pranto, de fim de mundo. Foram todos condenados pela cidade, ficaram todos presos na cidade, na sitiada-cidade do medo. Cidade-espelho, espectro, inflexível, ser-vil, sutil mensagem do amanhecer. Vou pro morro rezar! Cânticos, músicas, louvações, pro que deve ser louvado. Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

Louvo o amor que espanta a guerra.

Até um fim... até talvez,
Quem sabe.

PS: algumas frases são de letras de músicas que falam da cidade e da luta por uma vida melhor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Dois militantes do movimento anarquista norte-americano (italianos de nascimento, mas cidadãos do mundo por opção) são executados na cadeira elétrica por ordem da justiça do estado de Massachusetts – E.E.U.U........

Este crime ocorreu há oitenta e um anos*. Para sermos mais exatos: no dia 23 de agosto de 1927. Na época, eles foram condenados pelo governo capitalista dos Estados Unidos da América do Norte sob a acusação de roubarem a quantia de quinze mil dólares da empresa Slater Merril Shoe Company e, também, da morte de dois funcionários da referida empresa.

Este caso, de perseguição política, inicia-se em um bonde com a prisão dos trabalhadores Bartolomeo VANZETTI (vendedor de peixe) e Nicola SACCO (sapateiro), com a justificativa de que era para averiguação por porte ilegal de armas de fogo... Fatídica tarde de 5 de maio de 1920, pois o drama ao qual foram convidados a participar se estenderá por sete longos anos num processo jurídico viciado, cheio de intrigas e falsidades. E cujo único objetivo era calar àqueles que se negavam a participar do falacioso “SONHO AMERICANO” de prosperidade da burguesia capitalista.

Durante aqueles sete anos, nos quais estiveram presos, desenvolve-se uma campanha de cunho internacionalista, onde a solidariedade humana e o desejo de justiça (que são basilares para a formação de uma verdadeira humanidade) nortearam a ação dos COMITÊS DE DEFESA espalhados pelos quatros cantos do globo, visto que este processo “comoveu meio mundo e mobilizou milhões de consciências para além das muralhas da ideologia”1. Os “COMITÊS” constituem-se para denunciar a forma irregular e arbitrária em que o processo estava sendo conduzido pela justiça norte-americana, que sempre se autodenominou como “a quintessência das civilizações requintadas”2 e clamar pela absolvição dos prisioneiros, já que as provas apresentadas não eram conclusivas, mas sim meramente especulativas.

Atados aos preconceitos mesquinhos da sociedade capitalista, o juiz, o promotor e os jurados negaram o direito de defesa aos dois anarquistas, quando com alegações pueris e sem consistência jurídicas, recusaram todas as declarações das testemunhas de defesa que foram apresentadas ao tribunal do júri pelos advogados dos réus. E, por conseqüência também, as testemunhas de acusação com declarações subjetivas, maliciosas e dúbias destilaram o seu ódio ideológico contra os “indesejáveis”, seus inimigos políticos declarados.

Só cinqüenta anos depois, em agosto de 1977, o governador do estado de Massachusetts, o Sr. Michael S. Dukakis, reconhece oficialmente, perante os senadores do estado, que os eletrocutados foram “submetidos a um processo viciado desde o principio e realizado numa atmosfera de intolerância, hostilidade e ódio” e depois, numa entrevista à imprensa, declara: “Deixemos claro em nossa proclamação que não estamos discutindo a culpa ou a inocência dos réus, mas a conduta do tribunal”. Entendemos que ao Sr. Governador do estado de Massachusetts, faltou coragem e dignidade, que são necessárias para reconhecer que a questão em julgamento era de caráter político, ou seja: estava em julgamento às convicções ideológicas desses desinteressados trabalhadores, militantes do movimento anarquista. E não um mero erro jurídico na interpretação do código penal, que sempre representa os interesses econômicos e a manutenção do status quo da burguesia capitalista e de seus apaniguados.

O extermínio (é a palavra certa, tenham certeza!!) dos opositores ao regime de exploração capitalista tem sido uma prática em vários momentos da história deste sistema econômico excludente, que coloca a grande maioria da população na miséria para lhe garantir o lucro fácil no final do balanço anual.

O caso SACCO & VANZETTI, é uma pequena amostra dos estragos que se faz as vidas humanas, quando a sociedade se cala e com o seu silêncio referenda a perna capital... Colocar nas mãos do Estado, seja ele de direita, centro ou esquerda, um instrumento tão poderoso como a pena de morte, é um contra censo perigoso, pois provavelmente poderá vir a silenciar as vozes dos que clamam por liberdade, terra, paz, saúde, educação, etc. Mesmo que este silêncio seja por um curto espaço de tempo, é um grande estrago na construção de uma via revolucionaria. Utilizando-se do rótulo de defensores perpétuos da liberdade, da lei e da razão (meros fetiches para os burgueses capitalistas!!) para tentar calar a voz de protesto de um movimento político, no qual SACCO & VANZETTI eram membros ativos na conscientização dos explorados e oprimidos. E o único crime que cometeram foi tomarem para si: a bandeira negra da liberdade: O ANARQUISMO.

NOTAS:
1) MÁRIO PONTES, introdução ao livro de KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL.
2) MÁRIO RODRIGUES, Jornal AMANHÃ, de agosto de 1927.

FONTES:
1) KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL, Editora SALAMANDRA, 1977.
2) CLÓVIS MOURA: SACCO E VANZETTI – O PROTESTO BRASILEIRO, Editora Brasil Debates, 1979.

* Este texto foi publicado inicialmente no boletim da APPL (Associação em Prol do Pensamento Libertário): O LIBERTÁRIO, Nº. 17, AGOSTO DE 1997.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Tristes Especialistas em Generalidades, por Carlos Baqueiro


Há no curso de jornalismo, como em toda a vida, pessoas que tentam nos ensinar e passar seus pontos de vista sobre o mundo, sobre a vida. Mas no final das contas a escolha que faremos e levaremos à frente será sempre nossa.

No terceiro semestre do curso havia um professor que dizia: “O Jornalista é um Especialista em Generalidades”.

Triste especialidade.

O mesmo professor, apenas como mais um referencial do que se aprende na escola de jornalismo, disse também que o jornalista nunca deve mentir... mas não haveria problemas em omitir informações, desde que fosse por um bom motivo, segundo meu mestre (mas esse tema nem vou discutir hoje aqui).

Voltemos a triste especialidade.

A edição da Revista Veja dessa semana pode ser um bom exemplo para se entender o que vem a ser o Especialista em Generalidades (obviamente a revista pode ser exemplo de tanta coisa ruim no jornalismo que nem dá prá se falar de tudo).

Os jornalistas generalistas da revista deram na veneta de falar de educação essa edição.

Primeiro, com uma certa razão, criticam a situação de estudantes que não conseguem compreender um texto ou realizar contas simples. Já ensinei a disciplina História na Aceleração de 7ª e 8ª Séries há cinco anos atrás e deu para perceber isso muito bem.

Mas a Veja, como de praxe, aproveita-se da necessária informação sobre a situação da educação no Brasil para escancarar seus pontos de vista sobre o mundo... perceba-se mais uma vez, os pontos de vista sobre o mundo dela. Mas escancaram tudo como se aquele ponto de vista fosse o verdadeiro, o absolutamente verdadeiro, o verdadeiramente estanque.

Assim tiram proveito e lançam mão do direito que têm da livre expressão para dizer que um dos culpados da situação da educação são os professores que “incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos”. Numa matéria com o título “Prontos Para o Século XIX”, as especialistas em generalidades Monica Weinberg e Camila Pereira relatam, em gráfico, que 29% dos professores se identificam com Paulo Freire. Ihhhh....

Será que com aquele exemplo do gráfico elas queriam dizer que Paulo Freire representa idéias do Século XIX, ou melhor, representa “ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos” ?

Paulo Freire, falecido em 1997, foi sempre um educador de referência para todo o mundo, não só para indivíduos socialistas, como ele o foi. Criou um método de alfabetização que preza os valores locais do educando. Foi dele a frase seguinte: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Você acha que um sujeito que falava de liberdade, autonomia, igualdade, deveria ser negado por educadores como seu referencial ? Será que um cara que disse que nos afirmaríamos na rebeldia e não na resignação, representaria “idéias anacrônicas” ? É claro que não !!!

A reportagem também é feita com base em uma pesquisa nos livros escolares usados em escolas privadas. Ali a revista (as autoras da reportagem ou seu editor ??) constata uma série de “informações distorcidas”, e “miopias ideológicas”, termos estabelecidos pelas autoras da reportagem.

Conhecem aquele ditado que diz prá gente sempre se olhar no espelho antes de falar dos outros ?

Acho que se aplica a revista Veja, pois é óbvio que ela também tem suas “miopias ideológicas”. Aliás, todos nós as temos. E elas surgem, clara ou ofuscadamente, por má fé, ou inocentemente, quando se escreve uma dissertação de Geografia, uma carta de repúdio à violência policial, ou um artigo em um blog.

Não é a toa que a "miopia" da revista defende boa parte das posições de direita ainda presentes no país. Há 13 anos atrás ela atacava a Petrobras (e ajudava a Bob Fields na identificação da empresa com os antigos dinossauros). Hoje, ela critica a criação de uma nova estatal de petróleo, chamando-a ironicamente de PetroSALro (defendendo a Petrobras ???)...

Mas é isso...

A imprensa brasileira e seus especialistas generalistas estão ai, em nosso dia-a-dia. Tentando nos convencer a acreditar no mesmo que os seus donos acreditam. E com uma vontade danada de que todo mundo pense que são imparciais e que não nos mentem.

Mas a Revista Veja pode querer tudo. Estabelecer uma nova concepção educacional (mesmo que saibamos que é bem antiga), pode querer distorcer a história para que tudo que ela fale faça sentido, pode querer até que gostemos das suas páginas de publicidade. Uma coisa é ela querer. Outra é aceitarmos isso tudo. Como já tinha dito no início do texto a escolha final em aceitar ou não será sempre nossa.

Ah... E vejam só que coisa. A elite "larga" os cursos de licenciatura para os filhos do povão e agora seus representantes midiáticos querem que aqueles rapazes e moças crescidos, e que aprenderam bem ou mal a serem educadores, defendam os mesmos ideais que ela precisa reproduzir para se manter no poder (competitividade e resignação até o último fio de cabelo).

Querem que os professores neguem que o capitalismo explora, querem que os professores defendam as posições ideológicas dos donos dos grandes conglomerados empresariais, querem até mesmo que os professores assassinem seus ídolos.

E tudo isso com a ajuda dos seus especialistas em generalidades.

Por isso tudo, é preciso se cuidar.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Segundo o aforismo de Albert Camus: “Eu me revolto, logo, existimos”.

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Um dentre mil e um e-mail(s) recebidos, destaco um que fora enviado por um dileto amigo das terras das lamparinas/candeias. E nele, o e-mail, se contava uma história sobre um ‘tolo’ que sempre apanhava para si uma moeda de menor valor venal e de maior valor volumétrico, sempre que era estimulado a escolher entre a maior ou a de menor tamanho.

Parco numerário que era ofertado por um grupo de ‘espertos’ cidadãos, que sem ter o que fazer para preencher o tempo de ociosidade – após a justa jornada de trabalho – buscava uma motivação para humilhar e se rir do ‘tolo’ e da sua opção, pois não compreendia a sua escolha: optar sempre pela moeda de menor valor monetário.

Estigmatizado, o tolo em questão, tentava tirar proveito de todas as situações que lhe apresentam como desfavorável e ganhava assim, diariamente um valor necessário para a sua manutenção mínima. Isto sem está diretamente inserido no mundo do trabalho como assalariado e sem mostrar a sua inteligência peculiar e particular de raciocínio rápido: uma moeda de menor valor mas recebida diariamente, à uma moeda de maior valor uma única vez.

Podemos, por escolha individual e intransferível, romper com essa dicotomia que a cultura competitiva do capitalismo pequeno-burguês tenta nos impor. E que se potencializa nas relações entre as pessoas, que tentam reproduzir esses valores ideológicos tentando subjugar àqueles que estão inferiorizados nos estratos sociais e econômicos, ou seja, os ditos incapazes – ‘os tolos’, os velhos, os gordos, os feios, etc - para o sistema produtivo de feição capitalista (menor investimento e maior retorno de capital: exploração, mas eufemisticamente chamado de lucro).

E, também, re_produtivo da hierarquia inter-pessoal, da disciplina alienante, da planificação da vida, etc. Já nos indicava o filosofo franco-argelino Albert Camus, que REVOLTAR-SE é o primeiro passo para a consciência de nossa situação de alienado e explorado por esse sistema econômico...

Eis a possibilidade de um caminho (REVOLTAR-SE), que pode ser compartilhado e trilhado coletivamente: façamos coisas novas, diferentes e que não façam parte da engrenagem produtivista de mais e mais chaminés fumegantes. Engrenagem, almejadas pelos pequeno-burgueses capitalistas, que só tem como meta, objetivo e perspectiva o fazer de um tudo visando o lucro e o acúmulo de capitais.
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Mas um alerta se faz sempre necessário, pois não se pode viver eternamente incólume diante da opção que só tem o ‘fazer’ e o ‘ter’ com uma norma inquestionável para o ‘ser’. Sejamos 'sapiens', 'tecnológicos' e preferencialmente humanos na nossa existência cotidiana !!!
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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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A VOZ DA EXPERIÊNCIA, por Anderson Souza.

Esta semana procurei saber nas ruas a opinião das pessoas sobre a relação entre crimes e o desemprego que assola o Brasil. Na primeira entrevista, resolvi trabalhar apenas com uma personagem, o militar aposentado Antônio Argôlo, de 89 anos. Nascido na extinta Fazenda Boa Vista, em Santo Antônio de Jesus, veio para Salvador ainda adolescente; tempos depois, aos 19 anos, entrou para a polícia. Casado e pai de sete filhos, está sempre disposto para conversar e relatar acontecimentos passados e presentes.

O vídeo é resultado de uma conversa que durou pouco mais de uma hora, condensada em aproximadamente oito minutos. Violência, política, desemprego são os focos dessa que acredito ser uma rica entrevista. Confiram e discutam o tema exposto. Pois, se por um lado a opinião e a experiência dos antigos deve ser sempre respeitada, isto, definitivamente, não significa que eles estejam sempre com a razão. Por outro lado, entretanto, também é provável que, nesse caso, o entrevistado não esteja errado. Pelo menos em parte.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Por uma Educação Transformadora, por Carlos Baqueiro



Há milhões de anos o ser humano se preocupa em transferir experiência e conhecimento aos seus descendentes. Afinal de contas o somos seres de cultura. E essa cultura só existe historicamente porque as pessoas conseguem, através de sua linguagem, mantê-la e transforma-la, dialeticamente, no decorrer de sua vida no planeta.

Nas sociedades ditas primitivas a função de transferência de saber era de todos os indivíduos. A transferência se dava no dia a dia das pessoas, sem que houvesse alguém ou algum lugar que limitasse essa transferência. Alguns dos seres humanos conseguiram sistematizar essa forma de transferência. Deram consistência e direção a ela e possibilitaram a existência do que podemos hoje chamar de Educação.

Sacerdotes, reis, filósofos, conseguiram através de seu esforço intelectual construir uma arte/ciência de transmissão de saber, e, a partir deste saber, conseguiram deter e manter também o poder político dentro da sociedade em que estavam inseridos. E do poder político ao poder econômico. Mas somente na Idade Média, na Europa, a educação se torna um produto da Escola. A atividade de ensinar passou a desenvolver-se em espaços específicos, cuidadosamente isolados do mundo dos adultos e quase sem qualquer relação com a vida cotidiana.

Durante séculos este tipo de educação ficou reservado aos nobres e religiosos, e posteriormente, à burguesia que, na medida de sua ascensão, exigia os mesmos privilégios que detinham os aristocratas. Como os privilégios não chegavam a todos, a maior parte da sociedade não tinha qualquer vantagem em todo desenvolvimento levado pela educação. Na realidade todo, ou quase todo, desenvolvimento na Educação, foi em detrimento da maioria dos indivíduos.

Muitos não se resignaram a aquele estado de coisas. O anarquista russo, Mikhail Bakunin, em meados do século XIX, atacava aquele formato de educação:

A primeira questão que temos de considerar hoje é esta: Poderá ser completa a emancipação das massas operárias enquanto recebam uma instrução inferior a dos burgueses ou enquanto haja, em geral, uma classe qualquer, numerosa ou não, mas que por nascimento tenha os privilégios de uma educação superior e mais completa? Propor esta questão não é começar a resolvê-la ? Quem souber mais dominará naturalmente a quem menos sabe e não existindo em princípio entre duas classes sociais mais que esta só diferença de instrução e de educação, essa diferença produzirá em pouco tempo todas as demais e o mundo voltará a encontrar-se em sua situação atual, isto é, dividido em uma massa de escravos e um peque­no número de dominadores, os primeiros trabalhando, como hoje em dia, para os segundos.

Movimentos populares, sindicatos, entre outros, se mobilizaram e chegaram até a criar suas próprias escolas. E não só escolas, mas teatros e universidades, e toda uma gama de locais e organismos que tentavam criar uma nova cultura, transformando a existente em alguma coisa mais descentralizada e democrática.

A burguesia de uma forma mais inteligente que a aristocracia sabia que aquele foi o mesmo caminho que ela tomou para ascender politicamente. Formar sua própria cultura. Portanto seria imprescindível criar instrumentos que dificultassem e anulassem aquela ascensão das classes trabalhadoras.

Desde a Revolução Francesa a burguesia faz surgir as suas escolas públicas. Os ingleses abriram suas escolas também no século XVIII. Napoleão vai dar uma face final a aquela forma institucional. Naquelas instituições os pobres ignorantes seriam socializados, isto é, seriam “educados”, para tornarem-se bons cidadãos e trabalhadores disciplinados.

O ensino público, gratuito e obrigatório, patrocinado por Estados Burgueses, foi visto como a melhor maneira de garantir a democratização do conhecimento. O canto da sereia foi ouvido por aqueles mesmos que diziam defender os direitos do povo. E tanto em regimes ditatoriais, como na Alemanha nazista ou na União Soviética, quanto em regimes ditos democráticos, como nas “nossas” democracias ocidentais, as escolas começaram a trazer e fortalecer o germe do controle social.

William Godwin, filósofo inglês, já em 1793, temia por isto, mas poucos lhe deram ouvidos. Em seu livro, Investigação Acerca da Justiça Política, ele denunciava:

... todo projeto nacional de ensino deveria ser combatido em qualquer circunstância pelas óbvias ligações com o governo, uma ligação mais temível do que a velha e muito contestada aliança da Igreja com o Estado. Antes de colocar uma máquina tão poderosa nas mãos de um agente tão ambíguo, cumpre examinar bem o que estamos fazendo. Certamente que o governo não deixará de usa-la para reforçar seu próprio poder e para perpetuar suas instituições.

Porém, mesmo depois de 200 anos de estabelecido o controle estatal e autoritário, as vezes, quase imperceptível, dentro da sociedade, ainda é tempo de colocarmos um pé atrás quanto a uma educação monolítica, seja estatal ou privada.

O que devemos fazer, é nos por de pé e trabalhar por um formato educativo que permita a todos, educandos e educadores, transformarem as escolas onde vivem boa parte de suas vidas, em locais de alegria e felicidade, com todos em busca de uma vida melhor para toda a população.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Sobre o Consumismo...


Texto transcrito do Boletim Bandeira Negra, de Setembro de 2004.

Viver supõe colocar-se a disposição de si mesmo, criando dia a dia a alegria de experimentar e desfrutar de tudo que é novo.

Mas quando somos pequenos e parece que desfrutamos, comendo “guloseimas” completamente cheias de deliciosas químicas, perdemos, na realidade, a ocasião de ocupar a rua correndo e descobrir um enorme mundo que nos rodeia e nos é desconhecido.

Quando vamos crescendo somos aparentemente felizes comprando produtos de marca que nos fazem parecer “mais interessantes” para o resto das pessoas, mas perdemos a linda ocasião de ser corpos livres que desfrutam do que fazem ou sentem, em lugar de adormecer nossas mentes com a ânsia superficial e desesperada de que nos olhem ou contemplem. Quando gastamos tempo e energia para conseguir os objetos anunciados na TV, estamos esquecendo nossa capacidade de criar, imaginar e desenvolver nossas capacidades em gozar desse tempo da nossa existência.

Quando vamos crescendo, e não descansamos até conseguir um carro fabuloso ou uma moto “incrementada”, deixamos de lado o prazer da relação com as pessoas porque agora já unicamente somos disciplinados a nos satisfazer com objetos metálicos, de fria textura e desoladora realidade.

Quando vendemos nosso futuro de liberdade, para adquirir um “apartamento de não sei quantos metros quadrados” ou um “quarto e sala bonitinho”, é obvio que hipotecamos nosso futuro de felicidade, porque já unicamente nos dedicamos a pagar e pagar... condenando-nos ao cárcere da competitividade desumanizada.

Consumir é sinônimo de paraíso de liberdade e quanto mais gastamos e gastamos, mais adormecemos o sentido da vida e nossos sonhos se convertem em pesadelos, nossa verdade em subjetividade, nosso amor em conta corrente e nossa liberdade no pássaro abatido pelo tiro fortuito desta triste realidade.

Aprender a viver é desfrutar do pequeno e insignificante da vida, do sentimento que transborda nossas relações, do improvisado e desvalorizado; é em definitivo estar disposto a abordar o mundo sem essa maleta de necessidades em que convertemos nossas ilusões e desejos.

Livre tradução do texto encontrado no Boletim La Racha,
Número 10, Junho de 1998,
assinado pelo Coletivo da Escola Paidéia,
Mérida, Espanha.

P.S. - Há um belo vídeo de propaganda bem anti-consumista na Internet. Serve de complemento ao texto acima:

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

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Entrevista sobre O Inimigo do Rei (Final)



Continuação da Entrevista iniciada na Segunda-Feira...

Outra coisa que me chamava à atenção no jornal era o aspecto gráfico, era muito bem desenhado, as fotos, os títulos, as capas eram muito bem sacadas... (risos)

Acho que nisso aí entrava a experiência do pessoal de jornalismo. Os caras sabiam o que era diagramação. E tinham feito seus jornais experimentais dentro da UFBA. Mas além de tudo isso havia a criatividade anárquica (aquela que não deixa barreiras quanto a qualquer mudança na forma de fazer as coisas, como diria Paul Feyerabend).

Mas temos de lembrar que muitos jornais foram diagramados fora de Salvador, naquela onda de rodízio federativo (todo mundo tinha de fazer um pouquinho de cada coisa).

E o que mais você gostava nessa publicação?

Acho que eu gostava de tudo. Até mesmo das brigas internas. (risos)

Mas algumas coisas me chamavam mais a atenção. Uma delas era colocar em prática as idéias anarquistas: Federalismo (tomadas de decisão eram feitas entre todos os grupos que participavam – São Paulo, Bahia, Rio, Rio Grande do Sul, etc.); Ação Direta (acho que a frase certa para isso seria: Odeia a Mídia, torne-se a Mídia...); Autogestão (aqui no grupo da Bahia tudo era feito de forma autogestionária, festas para angariar fundos, pichações, manifestações, reuniões).

Ou seja, “O Inimigo do Rei”, além de ser um propagador de idéias libertárias por todo o Brasil também contribuiu para o amadurecimento político de muita gente, graças ao trabalho que os indivíduos tinham para editá-lo, publicá-lo e distribuí-lo.

Como você avalia “O Inimigo do Rei” com as publicações libertárias atuais feitas no Brasil?

Outro dia entrei numa comunidade do orkut que dizia lutar pela liberdade e igualdade. Em poucas semanas percebi que as pessoas que a criaram e eram seus moderadores montaram regras que impedia de serem discutidos alguns assuntos. E censuraram indefectivelmente textos e opiniões. Inclusive os meus. Esse ranço censor nas pessoas é terrível. No jornal “O Inimigo do Rei”, se existia um dogma era esse: Não ter censura.

As publicações libertárias e anarquistas estão pulverizadas. Pouca coisa é feita com conotação claramente nacional (“Libera...”, “Letra Livre”, pelo menos tentam isso). José Carlos Morel de São Paulo, em entrevista feita com ele em 2004, abordou justamente esse assunto. Para ele o fim do jornal “O Inimigo do Rei” em 1988 tem a ver com isso. Com essa necessidade de as pessoas (anarquistas, principalmente) fazerem coisas regionalizadas, localizadas. E uma dificuldade danada de unir forças, de ir em direção a alguma forma de centralização.

Isso talvez seja considerado uma coisa negativa para alguns. Mas para mim esse cacoete centralista é herança de outras doutrinas (paralelas ao anarquismo). Prefiro essa fragmentação de idéias mesmo. Isso é benéfico para o pluralismo de idéias. “O Inimigo do Rei” conseguiu existir (centralizando boa parte de um movimento anarquista brasileiro) devido às condições conjunturais, naquele momento de fim de ditadura e redemocratização. Mesmo assim foi uma “centralização” bem federalizada (e muuuuito pluralista), até mesmo porque os anarquistas baianos (fundadores do jornal) eram bem radicais com relação a isso.

Você já percebeu como é pobre, em vários sentidos, a imprensa sindical brasileira? É de doer! (risos)

Pobre mesmo. Mas não é só o boletim sindical que é pobre de idéias interessantes. É toda a imprensa. Também com os cursos de jornalismo com mais disciplinas de Marketing do que de qualquer outro tema, só pode dar nisso. Os jornalistas estão se tornando o pessoal de Recursos Humanos (RH) das empresas, e levando isso para dentro dos jornais e boletins. Os pobres boletins hoje não discutem mais formação política, nem tem mais as opiniões da base de trabalhadores. Agora eles são somente fonte das idéias estanques dos iluminados dos partidos que aparelharam os sindicatos.

Hoje se você for discutir política ou filosofia com um jornalista você vai ficar entristecido. E isso vai deixando essa função, tão importante para o fortalecimento da liberdade de expressão, cada dia mais a reboque dos políticos, empresários, donos de jornais, etc. É triste mesmo.

Um tempo atrás li uma entrevista com o José Arbex, e ele disse que “o partido mais forte neste país é a imprensa”. Concorda? (risos)

Na realidade, o partido mais forte no país é o PC, Partido dos Capitalistas. (risos) E como bem sabemos a imprensa (os donos dos jornais, das TVs, dos rádios) faz parte desse partidão. E ele está sendo disseminado nas micro-estruturas da sociedade justamente por todos os grandes órgãos midiáticos. E é isso que está gerando algo chamado de Pensamento Único por um cara chamado Ignacio Ramonet.

Os jornalistas que trabalham para os grandes órgãos de imprensa têm dificuldade de achar brechas para uma mudança de discurso. E, a cada dia que passa, os discursos de jornalistas e de assessores de comunicação das empresas, por exemplo, ficam mais parecidos. A gente não sabe mais se está recebendo informação isenta ou se é publicidade descarada. Infelizmente, para a população, até a Internet começa a ficar parecida com isso tudo, graças aos grandes portais, propriedades das mesmas famílias e corporações que são donos dos jornais clássicos.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

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Entrevista sobre o jornal O Inimigo do Rei (Continuação)...



Continuação da entrevista iniciada na segunda-feira.

Houve algum tipo de reprimenda dos “reis” e “coronéis” da época ao jornal? Uma coisa que me chamava à atenção no jornal era o viés sarcástico de muitos textos.

Quando o jornal foi publicado pela primeira vez, em outubro de 1977, a censura prévia à imprensa estava com seus dias contados. Não era mais necessário apresentar todo o conteúdo de um jornal para os censores (situação de que foram vítimas “O Pasquim”, “Opinião”, “O Movimento” etc).

Mas, mesmo assim, o jornal era de difícil distribuição. Poucas bancas aceitavam vender “O Inimigo do Rei” (principalmente se as capas tinham alguma coisa “estranha”, como dois homens se agarrando, por exemplo). A polícia não deixava a gente vender em áreas de grande concentração popular (e muitas vezes aqueles que tentavam eram corridos pelo cheiro do cassetete). Pelo menos uma vez, tivemos a certeza de que a Polícia Federal estava de olho nos indivíduos que participavam do jornal, pois um cara se dedurou, depois de algum tempo tomando muita cerveja com a gente. (risos)

Acho que era o tal desse "viés sarcástico" que incomodava tanto a direita, quanto à esquerda.

E a esquerdalha tradicional, que era muito criticada, se incomodava com o jornal?

Isso. A grande repressão era mesmo da própria esquerda. Os caras dos partidos marxistas não aceitavam que os anarquistas ficassem vendendo jornal nas áreas “deles”, dentro das universidades. Além disso, a partir da venda dos jornais ainda dava para fazer propaganda boca a boca. Como o jornal falava mal de seus “ídolos”, malhando a invasão da Checoslováquia, a ditadura da Albânia, a idolatria chinesa etc., eles partiam para a violência física pura e simplesmente, correndo atrás dos anarquistas quando estavam em maioria. (risos) Ou sacaneando com a imagem dos anarquistas (dizendo que eram pequeno burgueses, que eram militares infiltrados etc., coisas bem manjadas a séculos).

Pena que alguns anarquistas ficaram do lado de marxistas. Esses anarquistas se danavam dizendo que o jornal malhava mais a esquerda marxista do que a ditadura, e aí teve até crise porque muitos anarquistas deixaram de dar apoio ao jornal, por causa disso. Aliás, outra crise dentro do jornal aconteceu por causa de uma confusão entre os anarquistas também. Houve uma crítica quanto ao “excesso” de matérias falando de homossexualismo. Essa crítica partia mais do pessoal da velha guarda, acostumado com os jornais antigos (“Ação Direta”, “A Plebe” etc.) que não se detinham nada ou quase nada em assuntos sobre sexualidade, mas também gerou um grande mal estar (e acho que até hoje vem gerando).

Acho que “O Inimigo do Rei” foi o primeiro jornal a fazer críticas abertas e contundentes ao PT, e a “desconfiar” do Lula, não?

Na construção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) até que tinha gente anarquista envolvida. Os anarquistas pareciam perceber algo de interessante no "novo sindicalismo". As perspectivas de autonomia e pluralismo sindicais eram bandeiras da CUT em seus primeiros tempos de vida, sendo simpáticas aos libertários.

Mas quanto ao Partido dos Trabalhadores (PT) a desconfiança era para valer. Desde as primeiras idéias do partido dos operários, lá pelos anos de 1978 e 1979, após as greves do ABC paulista.

Um dos melhores exemplos de críticas ao Partido dos Trabalhadores, que seria criado no começo dos anos 80, foram os textos do saudoso Ideal Peres, publicados no jornal. Ele, usando diversos pseudônimos, escreveu um bocado contra o futuro partido. Em um dos seus textos, com o irônico título "Oba! Oba! Partido dos Trabalhadores...", ele escrevia o seguinte:

"Criar o Partido dos Trabalhadores é, implicitamente, aceitar a regra do jogo estabelecido pelas classes dominantes. E caminhar pela ação indireta. É abandonar a luta de confronto direto entre produtores e o sistema. É entregar a um grupo, a solução dos problemas que só os próprios operários em conjunto poderão solucionar. É, em uma palavra, cair em total alienação".

Nada mais atual, né? Um texto escrito a mais de 25 anos atrás.

Continua na Sexta-Feira...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

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Entrevista sobre O Inimigo do Rei



A entrevista foi feita por Moésio Rebouças, anarquista de São Paulo, ao participante deste blog, Carlos Baqueiro, para a Agência de Notícias Anarquistas.

Ai vai parte do material produzido por Moésio. Na quarta-feira e sexta-feira faremos a postagem do resto da entrevista.


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Ousado, irreverente, polêmico, criativo, contundente, bonito, autogestionário, visionário, anárquico. Esses eram alguns dos “ingredientes” do jornal “O Inimigo do Rei” (1977-1988). Talvez, um dos jornais mais marcantes da história da imprensa alternativa brasileira.

Recentemente, o baiano Carlos Baqueiro, juntamente com Eliene Nunes, lançaram o livro “O Inimigo do Rei – Imprimindo Utopias Anarquistas”. Na entrevista a seguir, Baqueiro, fala um pouco mais dessa experiência de comunicação autogestionária, onde o “jornalista também era o jornaleiro”.


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Como foi escrever o livro “O Inimigo do Rei – Imprimindo Utopias Anarquistas”? Tenho que te contar que esse jornal me marcou bastante, principalmente os primeiros números, o final nem tanto, acho que já tinha perdido o fôlego. Mas considero esse um dos melhores impressos alternativos já editados no país. Será que a "qualidade" desse jornal se deve ao fato de que ele era feito por jornalistas? (risos).

Cara, não foi só a você que ele marcou não. Conheço gente de Rondônia, da Paraíba, do Ceará, de Santa Catarina e tantos outros lugares que ainda hoje se lembram de textos do jornal que marcaram suas vidas. O jornal por menos organizado que pudesse parecer conseguia ter uma distribuição inacreditável por todo o país. Antonio Mendes, um dos fundadores do jornal, fala em entrevista que ia visitar os amigos e parentes no Ceará e levava uma boa quantidade de jornais deixando pelas cidades por onde passava.

Mas não acho que o fato dele ter tido a contribuição de jornalistas tenha sido a única causa da boa “qualidade” do jornal. Primeiro porque o termo qualidade de um jornal reconhecido hoje em dia não tem nada a ver com a qualidade de que estamos falando. Quando alguém tinha coragem de mandar textos para o jornal ninguém estava esperando que este texto fosse embasado por teorias iluminadas, ou que fosse uma obra subtraída de qualquer erro de gramática.

O que se esperava era a militância que vinha junto com o texto. Que todos estivessem imbuídos de fazer tanto o trabalho intelectual como o trabalho de transpiração, pichando os muros com propaganda anarquista, colando cartazes de madrugada com as capas do jornal, fazendo manifestações libertárias em frente a teatros, cinemas etc.

Já fazia algum tempo que eu tinha esse projeto de falar do jornal "O Inimigo do Rei". Já em 1997, consegui, com o apoio de Berla e Tavares, que também faziam parte da Associação em Prol do Pensamento Libertário (APPL), e viajaram para o Rio de Janeiro, fazer uma entrevista com Renato Ramos e outra com Tangerini. Pena que a segunda entrevista ficou impossível de ser ouvida e transcrita devido à interferência no áudio (e até hoje não consegui mais falar com o Tangerini).

Quando tive que fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para me formar na faculdade de jornalismo, no final de 2007, a idéia ressurgiu, e o resultado foi um livro, publicado com o auxílio da Editora Achiamé e um vídeo-documentário.

Para quem não conheceu, de forma resumida, o que foi o jornal “O Inimigo do Rei”? Quando ele surgiu, periodicidade, tiragem... É um absurdo dizer que essa publicação esteve à frente do seu tempo, principalmente pelas temáticas abordadas?

"O Inimigo do Rei" foi um jornal anarquista. O seu primeiro número foi publicado em outubro de 1977, ainda durante o período da ditadura militar. Não tinha uma periodicidade muito regular. Durante a sua existência, entre 1977 e 1988, em alguns anos o jornal saia trimestralmente, em outros anos nem mesmo uma edição era publicada. Algumas das primeiras edições chegaram a ter 20 páginas, outras apenas 8.

Aqui em Salvador já ouvi entrevistados dizendo que se vendeu até 2.000 exemplares de uma edição. O anarquista paulista José Carlos Morel afirmou que em São Paulo uma das edições (com Elba Ramalho na capa) conseguiu vender 4.000 exemplares.

Ele surgiu a partir da união de alguns estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), como herança de pequenos informativos estudantis mimeografados, como “O Fantasma da Liberdade”.

Segundo Ricardo Liper (um dos fundadores do jornal na Bahia) o jornal era uma espécie de “O Pasquim”, só que bem mais radical nas suas críticas sociais. Acho que foi isso mesmo. Ele foi tanto de seu tempo, acompanhando as necessidades de indivíduos de se inserirem no mundo da política (como tantos e tantos outros jornais alternativos da época), quanto saiu desse tempo, ultrapassando a conjuntura.

Assim ele discutiu a situação dos prisioneiros comuns, quando todo mundo só falava de prisioneiros políticos; ele falava abertamente de aborto, racismo, e sexualidade, quando grande parte dos outros alternativos se preocupavam apenas com o cotidiano político e econômico do país, de uma forma macro.

Falando em Elba Ramalho, outros artistas “conhecidos” também ocuparam as páginas do jornal, como Zezé Mota, José Celso Martinez, Valter Franco... Aliás, o anarquista e cantor baiano Raul Seixas nunca foi entrevistado pelo jornal, não?

Caetano, Gil, Reichembach etc. Tem uma frase de Jô Soares em um dos últimos números do jornal dizendo que todo artista deveria ser anarquista, para não querer fazer propaganda de ninguém durante as eleições (com aquela roupa de rei anão). (risos)

Existe uma foto "andando" por aí em que Raul Seixas (já bem fraquinho, antes de morrer) usa uma das camisetas de nossa "grife", fazendo propaganda do voto nulo.


Continua na Quarta-Feira...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

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“A afirmação mais forte da modernidade era que nós somos o que fazemos;
a nossa experiência mais viva é que nós já não somos o que fazemos,
que somos cada vez mais estranhos às condutas
que nos impõem os aparelhos econômicos,
políticos e culturais que organizam a nossa experiência…”

Alain Touraine (in: 1997)

No capitalismo tupiniquim se vende de um tudo: de senha/ ticket password em filas que se prolongam quilométricas nas poli-clinicas ou hospitais público para uma intervenção médica de um maior grau de complexidade, passando pela garantia (salvação) por um lugarzinho bem quentinho nos quintos, perdão, digo reino dos céus... até chegarmos ao ‘direito à preguiça’ para a classe média (pequena burguesia) desgostosa e sem perspectiva dentro deste processo produtivo que já aniquilou a sua pretensa possibilidade de auto-suficiência de um produtor independente.

Ou seja, o chamado rebelde, ou o termo mais apropriado para os de classe média seria eterno desajustado, será, tenham certeza disso: o futuro desempregado altamente qualificado com seus mil e tantos cursos de especializações variadas e com amplo espectro de conhecimentos sem ‘assunto que se sustente’ ou de pouco recheio na sua empadinha pessoal.

Pois com esse incentivo ao acomodamento, visando basicamente, assim uma postura de conformidade no procedimento protocolar das relações de produção, tais como vigiar, controlar e punir os não-ajustados nestes espaços de monitoramento das reações previamente catalogadas para uma boa relação de convivência intra-murros, pois lhes falta a coragem para dar um passo além dos espaços seguros de sobrevivência de classe.

É simplesmente mais uma proposta (‘o direito à preguiça’) apresentada como solução para as insatisfações individuais diante deste sistema de fiscalização, controle e, quando se fizer necessário, repressão: o capitalismo. Está claro que essa proposta em si não traz nada de novidade, pois só é uma velha forma requentada e re-apresentada como mote para alavancar uma nova postura comportamental diante da vida produtiva, tal como a elevação transcendental (auto-estima) do indivíduo, e que também traz consigo um pretenso objetivo ‘político’ na prática cotidiana de adaptação à exploração/ extorsão capitalista do fruto do trabalho alheio.

Capitalismo que se mantém firme e forte, é bom que se diga com todas as letras em negrito para que os arautos do fim do mundo possam ouvir e sair da letargia compulsória em que vivem. Firme e forte em sua sangria desatada para tudo absorver, controlar e claro neutralizar qualquer resistência a sua expansão comercial, política e ideológica em cada canto deste planeta, terra do salve-se quem puder. Temos aqui se forjando com um novo perfil figurativo (design), pois a ‘preguiça’ como ação comportamental consubstanciada em idéias e no ideal humanitário de um tipo tão necessário à classe média desses tempos do consumo efêmero e dependente do crediário a se perder de vista: ‘relaxe e goze’... Haja vista que não dá mais para gastar/ consumir sem eira nem beira!

“Deveríamos ser os jardineiros deste planeta. Cultivá-lo como ele é e pelo que é. E encontrar a nossa vida, o nosso lugar. Mas isto está muito longe não só do atual sistema quanto da atual imaginação dominante. O imaginário da nossa época é a expansão ilimitada, a acumulação de produtos de consumo: um aparelho de televisão e um micro em cada quarto. É isso que devemos destruir. É nesse imaginário que o sistema se apóia”
Cornelius Castoriadis (in: 1990)
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Temos aqui, em moto contínuo, a dinâmica das mil e uma inutilidades do mercado de necessidades construídas pelos artífices das ilusões para serem consumidas por dependentes compulsivos destas pseudo novidades. E que estando antenado, isto é em sintonia fina com as constantes, necessárias e intermináveis transformações nos mecanismos de adaptações mercadológicos, propõe intervenções lúdicas (vulgarmente conhecida como quiméricas palhaçadas) de e no comportamento dos não-ajustados. Donde de um lado se tem o técnico especialista em marketing, esperto como ele só, que a tudo transforma em ‘belo’ e por conseqüência direta dessa nova roupagem (conceitualização paradigmática) em um produto vendável para consumidores menos atentos ou pouco esclarecidos de suas necessidades imediatas...

E do outro lado o otário mal amado e inseguro que tudo que vê quer comprar para justificar – como uma possível solução para as suas neuras somatizadas em stress e outros neologismos no campo da psique – o seu apego ao trabalho de tempo integral, isto tudo sem o necessário respeito aos direitos trabalhistas ou até religiosos, que nos diferenciam das incansáveis máquinas construídas com um fim específico: substituir o trabalhador manual, minimizar os custos relativos e aumentar a produção de bens para o consumo.

Aqui fazemos o nosso particular e necessário grande parêntese, pois ninguém é de ferro: observem que os ocidentais apresentaram, e respeitavam como tal, o dia de sábado como um intervalo necessário para uma pausa, mesmo que insignificante, diante da imensidão da luta contra a natureza na sua transformação para o uso fruto dos que podem pagar ou se endividar. E nisto o mito do criador/herói dá a sua pequena contribuição quando diz que é finita a sua intervenção no ato laboral/ ‘fazer’ e descansa como qualquer outro ser que reconhece as suas limitações físicas, psíquicas e existenciais.

E qual é a pergunta que fica dessa lengalenga de ‘direito à preguiça’ para a classe média, onde se tenta rimar em versos a dor da incapacidade de extrair cem por centro de um processo produtivo qualquer e a plasticidade única contida na ‘beleza’ subjetiva e inútil, melhor dizendo sem utilidade prática alguma, duma cândida flor de açucena!!!

O ‘capitalismo’, que por hora continua ‘selvagem’ como sempre o foi e que por todas as indicações das nossas parcas observações continuará a sê-lo, quer realmente apreender esse aspecto antropológico (“o direito à preguiça”) da existência humana, bem como as suas correlatas limitações? A “preguiça” que lhe é por essência constitutiva antagônica e destrutiva enquanto sistema de produção e de relações interpessoal, pois vai no sentido contrário aos seus pressupostos básicos de vigilância, controle e da punição dos seus pares em situação de desvantagem!

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