segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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20 Anos Depois...
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A partir de hoje, e nas próximas postagens estaremos fazendo uma análise dos últimos 20 anos.
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A escolha desse intervalo se deu em homenagem ao jornal O Inimigo do Rei, um jornal anarquista que sobreviveu entre os anos de 1977 e 1988. Aquele jornal tentava, em suas edições, desmistificar tanto os dogmas políticos de esquerda, quanto os de direita, do mesmo jeito que nós do Mídia Rebelde tentamos hoje, neste pequeno espaço que teimamos, às vezes cinicamente, em utilizar.
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Os textos aqui apresentados também já deverão servir de preâmbulos do Seminário sobre A Doutrina do Pensamento Único, que acontecerá nos dias 16 e 17 de Outubro desse ano, no Sindicato dos Petroleiros, no Tororó, em Salvador.
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Para começar, o integrante do ISVA e um dos criadores do jornal O Inimigo do Rei, Eduardo Nunes...
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Boa leitura para todos.
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Biobibliografia da contestação, por Eduardo Nunes
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"Se quiseres um escudo impenetrável, fica dentro de ti mesmo"
Thoreau
A prisão fabrica um verdadeiro exército de inimigos interiores
Foucault
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Caos na cidade, no país, no mundo. Um clima de anarquia e tensão por todo lado. Essa era a situação há 20 anos atrás, e agora como estamos? Caos no mundo, no país, na cidade. Um clima de tensão e anarquia por toda parte.
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No início dos anos 1980, enterrávamos a pequena e rebelde Revista Barbárie, restrita a 5 números, publicada num período de 3 anos de intensa atuação e encerrava-se também a atuação nos bairros, nos sindicatos e universidade. Não sem perplexidade, des-razão e uma sincera desilusão, simplesmente, imergimos num mar de calamidades e mudanças rápidas. Anos mais tarde, via desaparecer também o valoroso e anárquico O Inimigo do Rei (1988) que ajudei a criar e participar dos primeiros números.
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Estava em 1988 com meus 33 anos de idade, concluindo o mestrado de ciências sociais na UFBA, e, ao comprar um apartamento, fiquei desempregado e tendo que cuidar de uma filha de 7 anos de idade. Ainda ouvia Lou Reed e The Doors, mas já avistava os estertores dos punks e dos Rolling Stones, heraclitianamente, tudo se transformava em perfumaria. Agora me tornei sambista convicto e depois, quem sabe...
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Naqueles tempos de cólera, precisava sobreviver. Desempregado, parti para múltiplas atividades, desde prestação de serviços para o próprio Estado na área de meio ambiente, à aprendizagem e produção com apicultura, minhoca, milho, feijão, galinha caipira e outros bichos.
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Esses anos serviram-me para ter mais paciência, saber esperar e partir para novos desafios.
A navegação com os computadores estavam aparecendo por aqui, no país das caravelas sem vento. A euforia dos novos tempos democráticos, ao contrário, das explosões libertárias que ocorreram na Espanha com a morte de Franco, provocou por aqui, prematuramente, a morte dos nanicos, da imprensa alternativa, da verdadeira contestação. O Estado como épocas anteriores absorvia e manipulava aos poucos toda a rede sindical. Então o que fazer? Sobreviver, sobreviver, era a palavra de ordem.
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Acompanhando essa crise, vimos o desabar do muro de Berlim e as asas da borboleta fizeram ruir também diversas outras ditaduras, implodidas pela falta de liberdade, pela falta de igualdade e pela falta de solidariedade. Fim de mais de um século de esperanças libertárias. Fim da história? Ainda não...
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O mundo capitalista aponta então suas armas, com prazos de validade já para vencer, para outros territórios onde a instabilidade política era o principal propósito para fazer prevalecer seus interesses econômicos. Nesse cenário, surge um novo tipo de terrorista, não mais com apenas um revólver, uma bomba no bolso do paletó, ou uma faca, mas com dezenas de bombas pregadas pelo corpo todo, dentro de automóveis ou nos aviões comerciais. Chegará o dia em que esses terroristas terão em suas mãos, em seu controle, pequenas bombas atômicas, químicas, radioativas.
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Nos anos 90, mudei novamente de atividade, passei para a condição de professor universitário e, paralelamente, desenvolvia atividades comunitárias. A vida melhorou, melhorou tanto que consegui viver dois anos no final da década em Barcelona, na cidade anarquista, estudando para o doutorado na Faculdade de Geografia e História da Universidade de Barcelona. Lá visitei os grupos anarquistas e tive a possibilidade de participar de um primeiro de maio com a histórica CNT.
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Além do mais, pude visitar o CIRA na Suíça. Bons tempos esses! Concluí meu doutorado, no início do século XXI, levantando uma discussão sobre o papel da ciência, tecnologia e sociedade e, continuei lecionando na universidade.
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A partir daí, ampliei minhas ações nos bairros de Salvador e retomei os laços com antigos companheiros de luta. Desse modo, voltei aos antigos sonhos de pequenas comunidades alternativas tão sonhadas nos anos 1970 quando era estudante universitário. Voltei a freqüentar um pequeno espaço libertário no bairro de Valéria, onde passei a aprender a importância da natureza e da relação do ser humano com ela e com o cosmo.
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A horta natureza de iniciativa da família Mendes que ajudei a construir juntamente com a família Santos, Albuquerque e muitas outras que por ali passaram, hoje, transformada numa agrofloresta com muitas vidas para sustentar e sonhos para sonhar.
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Os sonhos, portanto, continuam quase os mesmos, os medos ainda são também os mesmos. A esperança se reforça nas ações cotidianas, nos olhos das pessoas com que convivo. Para além do inferno aqui na terra e do nirvana lá no plano astral, continuo caminhando, pois ainda há caminhos a ser percorrido, antes de voltar ao pó.
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Então, o que aconteceu nesses últimos 20 anos:
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A espécie humana e as demasiadamente humanas estão em ritmo acelerado de extinção. Os carros permanecem sobre quatro rodas, mas aumentaram assustadoramente, consumindo milhões e milhões de litros de gasolina, poluindo cada vez mais as cidades e o planeta. Pobres aos milhares, ou melhor, bilhões de pobres apodrecendo nesse planeta favela.
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Oceanos contaminados, devastação acelerada das florestas, contaminação dos solos pela química, inúmeras e diferentes espécies também em extinção. Concluindo com um pensamento indígena: somente aprenderemos que dinheiro não se come, quando destruirmos a última árvore e o último rio.
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Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Essa idéia nos parece um pouco estranha.
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água,
como é possível comprá-los.”

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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não me faço de rogado, por el_brujo
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como não sou candidato a nada e nem pretendo alcançar os picos de audiência no horário nobre, deixo fluir – sem nenhuma barreiras de rima, métrica, estilo ou outras quaisquer ­– as energias da com_vivência societária acontecida no último domingo (21/09/2008), lá no bairro de valéria/ssa/ba...
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e o faço em forma de versos, visto que as iniciativas ­­– ou melhor dizendo o movimento ­– de economia solidária, autogestionária e sustentável ecologicamente clamam por testemunhos/depoimentos sinceros e desprovidos de segundas, quiçá terceiras, intenções:
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levanta...
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e leva o teu corpo para tocar o sol,
que, lá fora, brilha solitário!!
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e leva a tua mente para tocar a vida,
que, lá fora, clama por liberdade!!
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e leva o teu corpo para dourar ao sol,
que, lá fora, nos encandeia majestosamente!!
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e leva a tua arte/trabalho para expor ao povo,
que, lá fora, está ávido por novidades!!
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e leva o teu desejo para compartilhar com todos,
que, lá fora, sorriem à sombra de árvores frondosas!!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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A Feira foi um sucesso, por Eduardo Nunes
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. . Contou com a presença internacional de visitantes da Espanha e da Colômbia, além dos amigos do bairro da Palestina, Coutos, da Lagoa da Paixão, de Mata Escura e da própria Valéria. Os que levaram algo para vender, conseguiram apurar alguma coisa.
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Conseguimos realizar um evento de boa qualidade, organizado e bastante alegre. Devem ter frequentado umas 100 pessoas por lá. Estiveram presentes também pessoas que estão trabalhando com políticos, nesse período eleitoral, por dinheiro, mas que nós conhecemos no dia a dia do bairro, que frequentam e ajudam nosso trabalho. Tivemos atrações artísticas contando histórias (Maristela) e Palhaço (Igor e Carla), plantio de árvores, troca e venda de produtos.
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A feira na frente do ISVA deu visibilidade para o trabalho que desenvolvemos e ouvi de algumas pessoas que visitaram o espaço pela primeira vez que estavam impressionados com o trabalho e o local.
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ASSISTAM AO VÍDEO PRODUZIDO COM AS IMAGENS DO QUE OCORREU NO DIA DA 1ª FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E ECOLOGIA.
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VEJAM E COMENTEM !!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Meio Ambiente e Solidariedade, por Carlos Baqueiro

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo.
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva.
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva.
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Toquinho
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Neste domingo, dia 21 de setembro, fui testemunha de que ainda é possível se solidarizar com outros seres humanos, e construir algo positivo, em que parte de uma comunidade esteja envolvida, sem diferenças partidárias, políticas e religiosas.
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A 1ª Feira de Economia Solidária de Valéria aconteceu assim. Moradores, colaboradores, e até estrangeiros, participaram desse evento a partir das 9 da manhã, e seguiram ali até às 17 horas.
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Uma grande barraca foi montada em frente ao ISVA (Instituto Sócio-Ambiental de Valéria) e abaixo dela se protegeram dos pingos de um dia chuvoso vendedoras de bolsas, camisetas, dvd, bolinhos e brigadeiros (o bolo de aimpim estava muuuuuito gostoso)...
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Durante todo o dia aconteceram diversas manifestações. Teatro de Rua, com palhaços e suas palhaçadas... leituras de histórias para crianças (que juntou em seu redor também atentos adultos)... palestras ao ar livre sobre plantas medicinais... atividades esportivas (a garotada jogando gudi e correndo parecendo doidos)...
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Ao final, como um clímax do evento, Antonio Mendes, um dos colaboradores na construção da feira, com a ajuda de muitos daqueles que ali se encontravam, plantou e deu uma aula de como plantar, mangueiras e abacateiros.
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Abaixo deixamos fotos tiradas durante a feira e um vídeo do momento em que José Antonio, morador do bairro da Palestina, e Antonio Mendes, de Valéria, falam sobre as plantas e suas curas.
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A Montagem da Barraca feita por Integrantes do ISVA e Moradores. Na Segunda Foto os Visitantes da Espanha e Colômbia.

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Participantes da Feira, observando o Palhaço do Teatro de Rua ou admirando e pechinchando os produtos para compra.
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Palestra Pública sobre Plantas Medicinais

Na Quarta-Feira traremos outro vídeo com um resumo do que aconteceu durante a feira.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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I FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E ECOLOGIA, por ISVA

Foto: Aula sobre Meio Ambiente para Estudantes de Escola de Valéria

Convidamos a Comunidade de Valéria, Palestina e adjacências para participar da 1ª Feira de Economia Solidária e Ecologia de Valéria, no dia 21 de setembro das 9:00 às 17:00 horas em frente ao espaço aberto do Instituto Socioambiental de Valéria – ISVA (Jardim Terra Nova, Fim de Linha de Valéria- DERBA).

Venha participar de uma feira de trocas, vendas e artes com os mais variados produtos: roupas, mudas de plantas, plantas medicinais, lanches, remédios naturais, livros, etc.

O objetivo da feira é festejar o DIA DA ÁRVORE (grande fornecedora de oxigênio), conscientizando a população da importância das árvores para a sobrevivência do planeta e da vida na terra. Estabelecer redes de trocas e solidariedade. Promover a participação cidadã e o respeito à natureza.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL DE VALÉRIA

ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES ZUMBI DOS PALMARES

INSTITUTO FELIZ CIDADE

ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO ALTO DE SANTA CRUZ

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES PEDE SOCORRO

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Ecologia e Meio Ambiente, por Antonio Mendes

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A nossa terra é feita de milhares de pequenos pedaços pelos quais nós somos responsáveis. Se cada um de nós se responsabilizar por um pedaço, então teremos um planeta onde poderemos, juntos conviver melhor.

Planeta solidário e libertário é o conjunto de todosos que decidem se dedicar a um pequeno pedaço de nosso planeta, de seu passado e de seu futuro. Onde quer que vivamos, a participação de cada um de nós é indispensável e única.

Junto com sua escola, em sua rua e na comunidade, você pode participar de uma AÇÃO DIRETA importante. Plantando árvores, protegendo os animais domésticos e os animais selvagens.

Não queimar matéria orgânica no solo, pois o incêndio e a fumaça causam profundos danos aos seres humanos. Não jogar lixo na rua. Fazer coleta seletiva na sua própria casa, com apoio das crianças, separando os materiais orgânicos dos inorgânicos.

"DESTRUIR UMA PLANTA É CRIME !!!"
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I FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E ECOLOGIA
DE VALÉRIA
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21 DE SETEMBRO DE 2008 (Domingo)
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DAS 9:00 ÀS 17:00
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Instituto Socioambiental de Valéria - ISVA

(Jardim Terra Nova, Fim de Linha de Valéria- DERBA)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Sobre a Cegueira Humana..., por Carlos Baqueiro

Nossa... não li o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

Aliás, pouco, ou quase nada, li dele.

Lembro que há algum tempo tomei uma ojeriza de Saramago porque elogiou o ditador Fidel Castro, para mim, indefensável. Mesmo sabendo (exilados cubanos escreveram para ele na época – 1998) que as prisões de Cuba estavam (e ainda estão) lotadas de oposicionistas políticos.

Mas, ainda bem que perdi a antipatia automática por ele. E me dirigi ao cinema para assistir ao filme de Fernando Meireles, baseado no tal do Ensaio sobre a Cegueira, que é na verdade um romance, publicado em 1995.

É uma belíssima (cinematograficamente falando) metáfora da vida humana. Portanto, que todos estejam bem avisados. Não é filme apenas para oftalmologistas procurando uma nova teoria sobre as formas de cegueira. Nem para as mamães que perceberam uma perda de visão de seus filhotes.

O filme fala de forma clara (com bastante claridade na fotografia) da vida e da morte de seres humanos, que são apenas seres humanos, e nada mais que isso. Nada de seres que irão para o inferno se pecarem, nem para o céu se atravessarem um velho cego por uma avenida congestionada.

Uma metáfora sobre o que fazemos na Terra. Nosso planetinha mais ou menos esférico. Uma metáfora sobre preconceitos a respeito de tudo, tudo que pode ser visto, e, no caso do ensaio, também do que não pode ser visto.

O filme fala sobre aquilo que podemos criar e imaginar de bem ou de mal, ou mesmo, e melhor dizendo, muito além do bem e do mal. Alguns estupros podem nos levar a acreditar na excrecência humana e, por certo, nos fazer torcer pelo fim da humanidade. Mas um simples banho de chuva, somado a toques e abraços carinhosos, podem lavar a alma de cada um de nós, espectadores.

Não vão assistir a um filme sobre a cegueira humana de olho nos extremos de penumbra e de claridade do filme. Há a necessidade de deixarmos em casa, atrás da porta, como dizem nossos melhores professores, nossas pacatas e medianas vidinhas, deixando também abertas as artérias, com o intuito de oferecer mais oxigênio ao cérebro, e ai sim, permitindo um mínimo de fruição.

Para mim essa fruição viria de qualquer jeito. Sou fã da Alice Braga desde Cidade Baixa, filmado aqui pertinho de casa. Nem vou citar os bicos dos seios dela, porque vão me chamar de porco chauvinista metido a intelectual, ou vice-versa. O fato é que ela continua lindíssima, mas agora falando inglês.

Julianne Moore é outra que se destaca. Até porque na alegoria produzida pelo diretor brasileiro coube a ela o papel de continuar “enxergando” tudo, possibilitando uma melhor interface com o espectador. Não sei se isso acontece no texto do escritor português. Danny Glover também está no filme, como uma espécie de narrador, ou talvez a voz do autor do romance, não importa. O que importa é que as palavras dele ecoam como poesia. Belíssima poesia, como é todo o filme.

Pena que só tá passando nesses cinemas que cobram R$ 17,00 pela entrada. Mas tem a opção dos dias de promoção. E ainda há os sites da Internet que distribuem o filme por ai pelo mundo. Sem a anuência do produtor, é claro.

É isso ai. Acho que vou ler um pouco de José Saramago por esses dias.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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Anarquismo e Feminismo, por Josefa Martin Luengo



A ideologia anarquista não tem favorecido a aparição em seu seio de movimentos feministas. Seu pensamento sempre tem falado de emancipação da humanidade, de liberação, em termos genéricos, do ser humano, pelo que preconizavam que o objetivo da revolução se estendia tanto para os homens quanto para as mulheres, e criam e crêem absurdo desejar separadamente a emancipação e a liberação do homem e da mulher, sem cair em conta de que o que aceitavam e aceitam é a participação da mulher na revolução social, mas em nenhum momento são sensíveis à problemática específica desta metade do coletivo humano.

Ao globalizar o objetivo, desvalorizam a situação feminina, porque não são conscientes de que a mulher sofria e sofre na sociedade uma dupla opressão, uma que se identifica com o grupo masculino, em sua busca de justiça social, liberdade e igualdade; e outra, a do rol feminino submetido historicamente a um papel secundário de ajuda, de colaboração, mas submerso em uma desvalorização física e intelectual que nunca se quis nem se quer reconhecer.

Desde o ponto de vista anarquista, o sectarismo da luta feminina parece uma contradição e teoricamente o é, já que o anarquismo parte da aceitação e da luta pela igualdade dos seres humanos. Mas tal ideologia parte de uma prática cotidiana, na qual a mulher se encontra imóvel e muda, em uma representação criada ancestralmente, na qual não se sente satisfeita, mas duvida se deve sair dela. Ao mesmo tempo, o homem anarquista se move em sua luta pela emancipação dos trabalhadores, de homens que ainda crêem ter a responsabilidade de manter a família, lutar por um posto de trabalho justo e favorecer e engordar assim o papel da mulher como elemento não ativo do processo de mudança social.

A luta se estabelecia e segue se estabelecendo como algo que pertence aos homens em cujo lado se encontra a mulher como instrumento de colaboração, sempre a um nível de subordinação em respeito a ele. Este conceito de subordinação é o que impede a ideologia anarquista crescer mais amplamente e ser coerente com a teoria que historicamente propõe, sendo pois, uma contradição no fazer, ainda que não o seja no teórico.

Nossa sociedade se encontra vazia de alternativas. A alternativa anarquista é válida, porque, todavia não se tem demonstrado o contrário. Mas devemos ser sinceros e começar a viver como dizemos pensar, por que pelo contrário, e é o que está sucedendo, deterioramos uma ideologia e terminamos por viver da forma contra a qual lutamos. O esforço deve ser conjunto. Mulheres e homens devemos recriar a convivência.

Temos o dever de demonstrar que aquilo que cremos é em verdade possível. Comecemos a viver com uma idéia de colaboração, considerando as amplas diferenças que nos separam, para poder educar-nos conjuntamente e ir a busca de uma emancipação comum, porque as discriminações setoriais as enviamos ao passado, sufocando-las em nome de uma realidade que devemos viver, sabendo quem somos, como somos e o que desejamos conseguir.
Texto escrito originalmente no
Boletim La Samblea, 12.
Da Associação Paideia, Mérida, Espanha...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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CULPADOS OU INOCENTES ?, por Anderson Souza.


Quando consideramos algo fora do normal, temos a tendência de julgar alguém e condená-lo culpado pela suposta anormalidade. Quase sempre este alguém é o outro, quase nunca nós mesmos. Nos sentimos senhores da razão. Dizemos o que é certo e o que é errado. Ainda assim, contradizemos nossos próprios argumentos, pois nossas ações não correspondem aos nossos discursos.

Culpamos os políticos por serem corruptos, mas quando há uma oportunidade tiramos vantagem das outras pessoas. Não devolvemos o troco que recebemos a mais, não procuramos o dono de algum objeto encontrado na rua, subornamos para conseguir o que queremos, mentimos para não assumirmos que estamos enganados. Será que temos moral para criticar, julgar e condenar alguém?

Reivindicamos nossos direitos, mas além de ignorarmos os direitos dos nossos semelhantes, esquecemos que também temos deveres, e estes dificilmente são aceitos. Acredito na liberdade de escolha, mesmo quando essa escolha nos pareça imposta de alguma maneira, mas ainda assim podemos dizer sim ou não e arcarmos com as conseqüências. Religiosos dizem que Deus deu livre arbítrio aos homens, mas quando estes fazem alguma merda atribuem a culpa ao Diabo. Pobre coitado!

Há um ditado que diz: errar é humano, mas persistir no erro é burrice. Ao que me parece, somos tão humanos que nos bestializamos dia após dia. Passamos por cima da nossa própria segurança, mesmo quando temos condições de nos proteger de maneira legal. Por exemplo, se um pedestre for atropelado ao atravessar a rua fora da faixa de trânsito, de quem é a culpa? Nossa lei de trânsito proíbe dirigir sem cinto de segurança e agora o consumo de bebidas alcoólicas ao trafegar, tomando como principio a segurança para os ocupantes do veículo e a prevenção de acidentes nas estradas. Mas, é comum presenciarmos a irresponsabilidade do homem em combinações fatais. Mais uma vez pergunto de quem é a culpa?

Esta pergunta é feita diariamente ao apresentador Casemiro Neto no programa "Que Venha o Povo", mas ele brinca dizendo: "a culpa não é minha, mesmo". Claro que não somos particularmente culpados por tudo que acontece no mundo, porém não devemos nos desviar das nossas responsabilidades. Estamos em período eleitoral, alguns já escolheram seus candidatos, outros não sabem ainda em quem votar e há também aqueles que votarão nulo, mas no final das contas um acusará outro de ter feito uma escolha errada.

P.S.: Quero deixar claro que todos os exemplos dados não fazem parte de uma generalização de comportamento, mas por outro lado tais ações não deixam de ser as mais convencionais. O texto pode até parecer politicamente correto, contudo é mais correto dizer que, de um modo geral, nem eu nem você somos assim.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

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Sr(a)s pacientes eleitores
por el_brujo



Anos de 2008, ano de eleições municipais e não se consegue distinguir uma diferença ideológica mensurável entre alhos nem bugalhos. Redundando isso tudo numa verdadeira sopa de letrinhas em que se mexe e remexe, mas não se consegue distingui os “ipisilones” (servidores geneticamente modificados) dos “alfas-numéricos” (mandatários culturalmente construídos nos corredores das instituições de ensino) na construção de um “admirável mundo novo” onde manda aquele que tem o poder e obedece quem tem o saber/ juízo[Aldous Huxley].

E lhes digo mais, que só “o mestre dos mestres” em sortilégios e outras tantas práticas adivinhatórias pode encontrar um ponto de referência plausível para uma análise mais pormenorizada dos imperceptíveis detalhes que separa o joio do trigo. Pois é o que é esta intrincada lengalenga que se consolidou anos após anos dos pleitos eleitorais, e recheada de politicagens e politiqueiros desejosos por um lugarzinho ao sol, isso próximo às estrelas candentes, pois a rotatividade está se tornando uma prática freqüente.

Já se foi o tempo, em que distinguíamos facilmente quando uma proposta se originava dos anseios sociais dos excluídos ou não, pois elas eram provenientes dos extratos sociais sem pertencimento... Além do quê, e também sem propriedades que lhes garantissem uma identidade e o reconhecimento enquanto um possível produtor ou consumidor, portanto indivíduos colocados à margem [marginalia] dos saberes e poderes criados nos ambientes asséptico da classe média, bem como dos seus espaços urbanos de lazer e sociabilização.

É o que temos hoje, ou seja um leque de candidatos que só se diferencia na cor das listas na camisa, pois estão sempre apresentando as mesmas propostas. E todas elas – as propostas – têm como princípio básico a perpetuação dos instrumentos engendrados pelos mecanismos de reprodução do capital.

São propostas que buscam o lucro fácil e desmedido, que hoje se viabiliza, com maior presteza no retorno do investimento, com projetos urbanísticos para a vida social das cidades com jeito e cheiro da classe média adestrada, consumista e colecionadora de souvenirs produzidos nos submundos de Hong-kong e cidades similares.

Portanto eles – os candidatos – só têm propostas para esse agrupamento social (classe média), característico nas suas especificidades de sociabilização, com as suas necessidades de isolamento individualista nas áreas de moradia e também nas de circulação viárias entre pólos de interesses múltiplos e de consumo. Reafirmando, assim, a psique de uma mente competitiva, bem como submissa aos desejos de acumulação de quinquilharias multicoloridas, mas sem nenhuma utilidade prática.

Mas voltando nossas observações aos ditames impostos pelo horário eleitoral, todos os candidatos prometem resolver os problemas estruturais da cidade, todos eles com as mesmas propostas alencadas em pleitos passados (trens, bondes elétricos, metrôs, catamarãs, etc), e provavelmente também, nos pleitos futuros. Pois não foram, e provavelmente não serão colocadas em prática para sanar qualquer problema existente hoje em nossas metrópoles tão desiguais.

Seja isso por qualquer um deles, que eleito pelo voto deste povo sem a menor consciência política do seu cotidiano de explorados cidadãos-trabalhadores por esse sistema do lucro fácil e dos mais espertos espertalhões chamados de cidadãos – que desde o berço são preparados para exercer eficazmente, e com prazer pessoal e intransferível, o papel de algoz de seu semelhante.

Uma pergunta, que se faz necessário neste momento, para entender como as coisas são conduzidas com o objetivo de deixar tudo como está e sem mexer um milímetro que seja naquilo que não deve ser mexido: os instrumentos de vigilância e controle dos possíveis desajustes não programados e, ou previstos pelos idealizadores desse sistema organizacional, vulgarmente reconhecido pelo seu lema, que é a oportunidades para todos os “iguais”: o capitalismo.

Depois de duas laudas e meia a pergunta que se coloca para a nossa análise é: vocês já pararam para refletir o porquê da pressão exercida com inúmeros mechendagens pelas instituições jurídicas do ESTADO, com a inestimável ajuda dos meios de comunicação/marketing, e isto em doses homeopáticas para não envenenar o eleitor-paciente, para que eles levem seu "voto" ordenadamente até aos mecanismos de vigilância, controle e adestramento?A resposta à essas questões, é sua, caríssimo eleitor. Mas se a dúvida o perseguir, não lute nem relute com o instinto de revolta que lhe acompanha:

vote nulo,
não sustente parasitas!!!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

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O Racismo é sentido na pele, por Carlos Baqueiro



Há um ano, no final da tarde do dia 13 de setembro de 2007, a professora de história Luciana Brito, uma negra de 26 anos, entrou na loja C&A da Avenida Sete de Setembro, em Salvador, para trocar uma peça de roupa que havia comprado no estabelecimento. Após algum tempo dentro da loja foi abordada por seguranças que a consideraram suspeita de furto. O caso foi parar na Delegacia dos Barris, onde a professora contou ter sido vítima de racismo.

De tempos em tempos podemos ler nos jornais notícias parecidas. Aqui em Salvador, no Rio de Janeiro, ou em São Paulo. O racismo no Brasil não é algo novo. Já foi até mesmo incentivado (explicado "cientificamente" !!!) por intelectuais e especialistas da área médica. Em 1905, por exemplo, o médico baiano Nina Rodrigues teorizava sobre os negros em um trabalho chamado “Africanos no Brasil”:

A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros de seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores de nossa inferioridade como povo”.

Cem anos se passaram e ainda hoje se discute, por exemplo, a viabilidade ou não de cotas para negros e seus descendentes na entrada para as universidades públicas. Sabe-se que no Brasil, desde a extinção da escravidão, os negros não têm sido contemplados com políticas públicas de caráter compensatório.

Na realidade, as estatísticas nos mostram o contrário. Uma análise dos indicadores sociais que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou em 1999, permite aferir que a população branca ocupada tinha um rendimento médio de 5 salários mínimos, enquanto os negros e pardos alcançavam valores em torno de 2 salários mínimos.

Não é difícil perceber também o quanto a mídia vai reforçando este processo de distinção, quase eliminando a presença de gente de cor preta para trabalhos em novelas e na publicidade, por exemplo. E as evidências de um racismo enrustido na sociedade podem ser verificadas nas palavras de gente de todas as etnias.

Jonas de Jesus, negro, petroleiro, 43 anos, concorda que o racismo está incrustado na cultura baiana: “Desde pequeno senti na pele diversas vezes uma certa diferenciação que os próprios professores criavam entre os brancos e negros na sala de aula”.

Na escola, na empresa ou fazendo compras, os negros têm muito que lutar para diminuir os preconceitos contra eles. A comerciária Vera Batista, branca, 23 anos, diz não ser racista, mas não nega que teria receio se aparecessem dois negros entrando na loja em que trabalha, em um shopping center, mesmo bem vestidos. “Os ladrões que aparecem na TV sempre são negros”, defende-se a vendedora, com um leve sorriso, meio sem graça, em referência a um dos personagens do belíssimo filme Crash.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

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Escravos da ciência: da religião de Newton à religião de Capra, por Eduardo Nunes



De um sonho que teve, Saint-Simon, relata que Deus revelou-lhe uma nova doutrina: a religião de Newton. Essa doutrina, seria dirigida, por um conselho principal, composto por 21 eleitos, divididos em duas classes, sendo presidido por um matemático: na primeira classe, seriam 12 membros, distribuídos da seguinte forma, 3 matemáticos, 3 físicos, 3 químicos e 3 fisiologistas; 9 membros na segunda classe, comporiam 3 literatos, 3 pintores, e 3 músicos. O conselho dividiria a humanidade em quatro partes – inglesa, francesa, alemã e italiana (MATTELART, 2002).

O sonho de controle do mundo pela Europa, no século XIX, teria terminado em desastre com Napoleão preso e isolado em uma pequena ilha. No século XX, novas tentativas na Europa foram catastroficamente perpetradas por teorias supostamente científicas, seguidas pelos EUA, a partir da segunda metade do século, com as novas tecnologias de dominação.

Entre outras reflexões o mesmo Saint-Simon, acreditava que com o fim do sistema feudal e teológico o governo dos homens seria substituído pela administração das coisas, cabendo a uma parte importante dos industriais gerenciar as tais “coisas” e quase nada pelos “trabalhadores”. Apesar de tudo, essas idéias circularam pelos meios socialistas, inclusive, utilizadas pelo próprio Marx. Engano geral, sobretudo, para quem pensava que a administração seria uma forma neutra de organização do trabalho.

Um outro contemporâneo de Saint-Simon, Augusto Comte, criador da sociologia, depois de uma desilusão amorosa, propôs em 1849 a criação da Igreja Universal da Religião da Humanidade. Comte, para celebrar o acontecimento, realizou o casamento de dois proletários, seguindo o novo rito. Acreditava que o progresso é o desenvolvimento da ordem e que o desenvolvimento humano se tornava cada vez mais religioso. Também ele, acreditava que o estado positivo das sociedades seria alcançado graças ao desenvolvimento científico e industrial.

Mais de um século após essas idéias positivistas um físico, Fritjof Capra (2003), nos anos 1970, desenvolveu pesquisas relacionando o pensamento científico, a física quântica, de sua época com a filosofia e o misticismo oriental (taoísmo, budismo). Para surpresa geral, essa nova perspectiva, ao contrário das anteriores, desacreditava a ciência em seu aspecto de estar voltada para os interesses da humanidade. .
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A crise ecológica global que já se antevia desde a época das bombas atômicas lançadas sobre o território japonês, os problemas da contaminação das primeiras centrais nucleares, o uso indiscriminado de veneno (químicos) na agricultura e as novas e potentes armas de destruição em massa, levantaram os protestos em todos os lugares, nos novos movimentos sociais, no meio acadêmico e entre os mais perplexos habitantes do planeta que diretamente sofriam os efeitos desastrosos do avanço da ciência.

Capra alertava para os efeitos do uso de tecnologias nuclear, militar e não-militar, atribuindo ao fator humano a inevitabilidade de acontecer acidentes. O plutônio esclarece esse autor, em homenagem ao deus grego do inferno Plutão, se for introduzido uniformemente 500 gramas “poderiam induzir potencialmente o câncer pulmonar em todas as pessoas do nosso planeta” (p. 238). Acrescenta ainda, que como não existe tecnologia segura, sempre um pouco de plutônio se escapa quando é manipulado.

Grande defensor das tecnologias alternativas e adotadas em pequena escala, a exemplo, dos coletores de energia solar, geradores eólicos, lavoura orgânica, produção e processamento regional e local de alimentos e reciclagem de produtos residuais, Capra, ao entender que o indivíduo ao estar vinculado ao cosmo como um todo acredita que essa nova ciência com sua perspectiva ecológica, se torna verdadeiramente espiritual.

Agregada a essas idéias, Capra, assinala, a importância dos movimentos de participação dos trabalhadores e da autogestão para a reorganização da sociedade. Defendendo o princípio de pensar globalmente e agir localmente, apresenta a possibilidade de insistirmos nas experiências alternativas societárias no mundo, desde o modelo chinês de desenvolvimento comunitário auto-suficiente, os estilos de vida tradicionais existentes em grande parte do mundo, e as experiências históricas de autogestão em diversos países.

Compreende-se que essas experiências e setores da economia informais, cooperativos e não-monetarizados, contrapõem-se às formas atuais dominantes de ciência, tecnologia e organização social.

Referências:

MATTELART, A. História da utopia planetária: da cidade profética à sociedade global, Porto Alegre, Ed. Sulina, 2002.

CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 2003.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

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Sr. POLEMISTA,

Penso que você precisa me recomendar algo que possa me fazer compreender este seu tipo de SOCIALISMO ALEGRE. OU SERÁ UTÓPICO. Garanto-te que lerei com cuidado. Por que até agora, me parece àquela busca da Terra sem Mal dos Índios Guaranis. Agora por favor me mande escrito em braile pois, quando você tiver encontrado este caminho, em vez de Míope estarei Cego. O que certamente me impedirá de lhe prestar o auxílio necessário de retirar-lhe as viseiras laterais ou ter que empurra-lo quando você EMPACAR.


Saudações Muares”

X-X
Após um agradável bate-boca, via e-mails, aceitei por pirraça este codinome de Sr. Polemista. Daí, fiz uma pequena alteração no meu texto e o reproduzo, logo abaixo, como resposta para um marxista-leninista-stalinista arrependido (minha culpa, minha máxima culpa!). E que, além disso, é atualmente um deísta duma seita ainda indefinida para mim. Digo isso em função dos meus limitadíssimos recursos técnico nessa área do mundo místico, e, claro, da sua correspondência direta, que são os imponderáveis desígnios divinos... Quem vai querer entendê-los?

Mas agora estamos noutro patamar! Não era sem tempo, pois até que enfim conseguimos identificar uma língua/idioma/dialeto comum em que possamos trocar algumas palavras menos ásperas e, portanto desejosas de esperança/sonhos/desejos/utopias libertárias.

Pois, mesmo concordando com as observações analíticas de Etienne La Boétie no seu Discurso da Servidão Voluntária, não devemos utilizá-las como paradigma para nossas medíocres existências: “Desse modo os homens nascidos sob o jugo, mais tarde educados e criados na servidão, sem olhar mais longe, contentam-se em viver como nasceram; e como não pensam ter outro bem nem outro direito que o que encontraram, consideram natural a condição de seu nascimento”: subserviência é a palavra que traduz a formação religiosa que recebemos das nossas famílias nucleares, patriarcais e administradas por mulheres carentes da figura paterna.

É isso, caro marxista-leninista arrependido, já se pode ver uma luz no fim do túnel. Isso sem termos que recorrer aos apetrechos ideológicos de última geração – top de linha –, tais como velas de sete dias iluminando os olores provenientes da queima dos incensos de patchouly depositados estrategicamente n’as Encruzilhadas do Labirinto (: a Ascensão da Insignificância) de outro arrependido, que é o nosso querido Cornelius Castoriadis.

Isso tudo nos poderia servir para indicar/ abrir os caminhos para uma sociedade igualitária, fraterna e libertária sem os fantasmas das ditaduras sanguinárias, que povoam assustadoramente às nossas memórias de militantes de esquerda:

sem deus (igrejas, pouco importa qual seja);
sem pátria (estados nacionais ou ‘pseudo-socialistas’);
sem patrão (capital privado ou estatal);
pela autogestão generalizada e expropriadora!!

Pois é, caro amigo deísta, como nas palavras de Oscar Wilde, saiba que eu também discordo da utilidade de apropriamos de discurso e/ ou idéias que não esteja presente a liberdade, pois “Um mapa do mundo em que não aparece o país Utopia não merece ser guardado”. Visto que é para lá – no país da Utopia - que pretendem seguir os muares: nós, os trabalhadores , digo, burros de carga! E teimosos, claro que sim! Mas no encaminhamento de nossas idéias, desejos e esperanças exeqüíveis, palpáveis e mensuráveis.

Com um porto à desembarcar – Utopia! -, podemos escolher por nossos próprios esforços individuais associados aos nossos iguais (a liberdade dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores) em ficar com ou retirar os antolhos... Isso sem a necessidade fisiológica dos “iluminados” senhores mitigadores das realidades mecanicamente determinadas pela dialética marxista: ditadura do proletariado, partido único, centralismo democrático e outras aberrações criadas nas bibliotecas empoeiradas de passados...

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