sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Alternativas à Mídia de Massa, por Carlos Baqueiro

“É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos.”
Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Início do Filme "1984", baseado no livro de George Orwell

Qual seria o objetivo de mídias alternativas às atuais mídias de massa, propriedades de poucas famílias ou corporações?

Talvez mostrar como as elites dominantes criam e manipulam aquelas mídias ao seu bel prazer contra as classes trabalhadoras. Quem sabe para apresentar um outro discurso sobre a mídia de massa ao qual a maioria das pessoas não está acostumada a ler ou ouvir. Serviriam também, por exemplo, como espaço criativo, onde estudantes e profissionais da área de comunicação, poderiam compreender certos aspectos que envolvem a natureza dos meios de comunicação de massa, como, por exemplo, sua influência sobre a população, como formadora de opinião.

Nestes espaços poderemos discutir, por exemplo, de que forma a mídia de massa serve de mecanismo de difusão ideológica, como esclarece o sociólogo Pierre Ansart : “De fato, uma ideologia sistemática será incessantemente difundida por esses grandes mediadores dos significantes políticos, ideologia conforme a estrutura da propriedade, incitando à conformidade com a ordem estabelecida e a ver a política como um espetáculo pouco sério”.

Ou debater, também, porque aquela mesma mídia de massa se encontra do lado dos poderosos, cujos interesses, segundo o historiador francês Georges Duby, “encontram-se servidos por modelos ideológicos mais bem armados que os outros, e geralmente dão-se ao luxo, na medida em que sua superioridade material lhes parece mais segura, de encorajar as inovações no campo da estética e da moda. Contudo, no fundo delas próprias, mostram-se atentas a se defender contra todas as mudanças menos superficiais que poderiam vir a colocar em questão os poderes e vantagens que detêm”.

É possível evidenciar as posições acima descritas, por parte de quem domina a sociedade em que vivemos, a partir da compreensão do que fazem as mídias de massa em determinados momentos da vida urbana. Durante uma greve, por exemplo.

Ali, podemos perceber, em qualquer pesquisa que fizermos, quanto mais radicais as movimentações, mais tendenciosas são as respostas das mídias de massa, e de seus interlocutores, os jornalistas.

Talvez por temor de que aquele tipo de luta permita que se rompa o véu da alienação social, revelando o caráter superficial e dissimulado das ações e discursos dos “dias comuns”, mesmo que temporariamente.

Pois aquele tipo de luta tende a permitir que os sujeitos, que dela participam, adquiram a partir da sua experiência, e do emaranhado de discursos produzidos dentro dela, a capacidade de produzir novas ações, novas significações e de enfrentar criticamente os discursos entre os quais circulam, levando-os a serem donos de sua própria voz.

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PS.: Ah... quem quiser uma cópia do filme 1984 (inteiro) pode solicitar por e-mail: cbaqueiro@terra.com.br

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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LOAS AO DITADOR QUE SAI DE BENGALA NA MÃO,
MAS DEIXA O IRMÃO MAIS NOVO NO TRONO
, por el_brujo



O culto ao TODO-PODEROSO-AMADO-GRANDE-PAI segue sua trajetória por todos os tempos infinitos...

... desde os tempos em que as trombetas proféticas eram sopradas pelos judeus, nas intermináveis areias do norte da África; passando pelas planícies geladas da eterna Rússia dos czares (sejam eles – os czares – sacramentados pelos dizeres/saberes apocalíptico da ‘bíblia’ cristã ou pelo ‘capital’ de marx); e chegamos até uma pequeníssima ilha localizada na américa-central.

E bote pequeníssima nisso... Esta ilha escondeu, em seus intrincados labirintos formados por montanhas verdejantes, um ‘barbudo-falante’ com um pigarro renitente: falamos da belíssima Cuba.

Que com a recusa de J.F. Kennedy em apoiá-lo, tornou-se, pois, um monarca fiel ao marxismo-leninismo stalinista, que persistentemente garantiu o peso do ‘estado’ totalitário no lombo do seu povo humilde, mas felicíssimo com a falta de liberdade política (sic!?). Destaquemos que esta tacanha ideologia perdurou por quase cinqüenta anos.

Não vamos analisar, no momento, os dados estatísticos que estão sendo divulgados em toda a imprensa falada, escrita e ‘televisionada’, pois estão todos eles sobre os olhares insuspeitos da ‘cegueta’ Themis (deusa da justiça - mitologia grega). Visto que não se pode corroborar a veracidade de nenhum desses dados estatísticos propalados aqui e alhures...

Mesmos os da CIA, ou os da ONU, ou outras tantas mais instituições de pesquisa estão sob suspeitas, certo de que estão todas – as instituições – ali presentes com um único objetivo claro: persuadir a opinião pública de havana e do seu entorno; e, também, a internacional de que com calma se vai ao longe. Para assim garantir uma transição pacífica e sem traumas... Já que o uso da força, numa situação de impasse político, representaria um desastre financeiro sem tamanho mensurável. Não se teria, pois, nenhuma garantia de retorno para o ‘capital’ investido nessa empreitada militar.

Portanto que venha a surrada via pacífica, com os “MacDonald” – vida padronizada e sedentária garantida para todos – com suas comidinhas coloridas, pasteurizadas e com sabor de inserção social na crescente irmandade internacional dos obesos felizes.
E competindo, com larga vantagem, para a provável inclusão no seleto grupo dos pesos pesados crônicos, donde sempre há de caber mais alguns cardiopatas com potencialidade máxima para algumas pontes de safenas.

Podemos visualizar para muito em breve: as crianças saindo das intermináveis filas da burocrática ‘bolsa família’... e seguindo para as ruas de havana, garantir o pão de cada dia com uma caixa de charutos na mão e na garganta o grito da revolta:

UM É TRÊS E DOIS ‘É’ CINCO!

VAI UM CUBANO LEGÍTIMO, MOÇO?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Seminário Sobre a Economia Solidária..., por Carlos Baqueiro



Na sexta-feira à noite e sábado (22 e 23 de Fevereiro) aconteceu o Seminário ELOS (Educação Libertadora Organizando Solidariedade), no Colégio Estadual da Bahia (Central), em Salvador.

O seminário foi construído na forma de Mesa Redonda (na sexta) e Oficinas (sábado). A mesa, formada por Robson Patrocínio do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS-RJ), Jorge Henrique Mendonça, da Secretaria do Trabalho do Estado da Bahia (SETRE-BA) e a mediadora Gisele Schnorr, do Instituto Filosofia da Libertação (IFIL – PR), abordou o tema Economia Solidária.

O primeiro palestrante, Robson Patrocínio, fez sua apresentação de forma alternativa, descendo do patamar da Mesa para próximo da platéia. Desse modo, já fazendo uma crítica à hierarquia criada entre “os que falam e sabem” e “os que ouvem e não sabem”, a partir da existência da Mesa.

Questionando os presentes sobre o que entendiam por Economia Solidária, ouviu respostas como “descentralização”, “cooperação”, etc., coincidindo com sua própria opinião.

Ele avalia a necessidade de se entender a Economia Solidária dentro das comunidades como algo que nasce de baixo para cima, a partir das reais necessidades dos indivíduos que compõem aquela comunidade. Para ele, o sucesso dos projetos criados a partir da economia solidária só ocorrerá se aqueles indivíduos se engajarem de verdade.

Também critica o modo como vão se formando as lideranças dentro dos grupos que se pretendem alternativos, como aqueles que escolheram a economia solidária para se basear. Os líderes vão se tornando verdadeiros donos dos grupos e dos projetos criados pelos grupos. No fim das contas, a estrutura dos movimentos não muda e as coisas continuam como antes.

O importante, assim, para o palestrante é entender os projetos de economia solidária como ações autogestionárias e horizontalizadas, com o poder de decisão se democratizando entre todos os que participam dos projetos.

O segundo palestrante, Jorge Henrique, é representante do atual governo do Estado da Bahia, membro da Superintendência de Economia Solidária (SESOL), que faz parte da SETRE-BA.

Fez uma apresentação com auxílio de slides mostrando como o atual governo vem se preocupando com a necessidade de implementar os projetos de economia solidária. É, pelo menos no discurso, o que podemos ver em folder da SETRE-BA: “A Economia Solidária é uma prática regida pelos princípios de autogestão, democracia, cooperação, solidariedade, respeito à natureza, promoção da dignidade e valorização do trabalho humano, tendo em vista um projeto de desenvolvimento sustentável global e renda”.

Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), já havia ressaltado, em palestra aqui na Bahia, em 2007, que o problema para desenvolver a economia solidária no Brasil, que existe desde o início da sua trajetória, é a falta de capital, pois "os empreendimentos no nosso país são muito pobres. Precisamos construir um outro sistema financeiro chamado de Ética, que não vise apenas o retorno financeiro, mas, que principalmente busque o retorno social".

Mesmo com todo discurso de emancipação social e de sustentabilidade financeira, fico preocupado com a intervenção governamental em algo que deveria nascer de forma autônoma e independente. Governos têm uma característica intrínseca de aparelhamento das coisas em que interfere financeiramente. Mesmo os de esquerda.

Não é sem razão que o pensador inglês William Godwin, no livro Investigação Acerca da Justiça Política, publicado em 1793 (Sec.XVIII, mesmo), já se sentia inseguro com a participação hegemônica dos governos em ações educacionais:

“Todo projeto nacional de ensino deveria ser combatido em qualquer circunstância pelas óbvias ligações com o governo, uma ligação mais temível do que a velha e muito contestada aliança da Igreja com o Estado. Antes de colocar uma máquina tão poderosa nas mãos de um agente tão ambíguo, cumpre examinar bem o que estamos fazendo. Certamente que o governo não deixará de usá-la para reforçar seu próprio poder e para perpetuar suas instituições”.

Infelizmente, não pude participar das oficinas que ocorreram no sábado, quando alguns projetos e cooperativas iriam se apresentar, mostrando o que vêm fazendo neste momento no que diz respeito à Economia Solidária, como o Ecoluzia, na cidade de Simões Filho, vizinha de Salvador, por exemplo.

Mas, foi com grande prazer que percebi como homens e mulheres estão se juntando, mais uma vez, para agir e refletir sobre a necessidade de transformar suas vidas, e de suas comunidades, principalmente a partir de um projeto que se declara autogestionário em sua essência, da mesma forma que nós, do blog Mídia Rebelde, também nos declaramos.

Deixamos abaixo o endereço eletrônico de contato com o pessoal que planejou o seminário:

http://www.educadoressociaissalvador.org.br/index.php

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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Aonde está o emprego em Salvador ?, por Vanessa Costa



A última pesquisa divulgada pelo IBGE, informa que foram criadas 142.921 vagas de trabalho com carteira assinada no Brasil no mês de janeiro. Pegando esses dados e trazendo para a realidade da Bahia, temos um crescimento local de 0,22%, ou seja 2.714 postos de trabalho, segundo a pesquisa. Mas, que coisa né? Salvador e sua Região Metropolitana só respondem por 67 dessas vagas. O pior é ver gente querendo os "louros" da geração de emprego do interior! Ah, mais tudo bem, a Bahia teve o melhor resultado do Nordeste, estamos "bem".....

Em Salvador, existe um Serviço Municipal para intermediar a mão-de-obra local, o tal SIMM, mas, conheço tanta gente que comparece ao SIMM, pega aquelas enormes filas, e na hora não passa e nem sequer é encaminhado para uma vaga de emprego, a desculpa é sempre a mesma "existem muitas vagas em Salvador, mas, as pessoas não são qualificadas". Qual a qualificação necessária para atendente de telemarketing? Conheço uma pessoa que está desempregada, já foi a este serviço várias vezes, e nem para a vaga de telemarketing que eles tanto falam existir ela foi encaminhada, mesmo ela tendo experiência como recepcionista, secretária e caixa.

Estou aqui, querendo saber aonde está o emprego, inclusive estou querendo um, quem souber, por favor, me avisa!!!! "aonde está o emprego? O gato comeu, o gato comeu..."

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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CÓDIGO DE BARRAS, por Anderson Souza.
Muitos recusam, poucos resistem, mas a verdade é que estamos todos sujeitos a um violento confronto tecnológico-humano ou, respectivamente, entre Deus e a máquina. A tecnologia se tornou Deus: onipotente, onisciente e onipresente. O homem se tornou máquina: aceita, produz e consome. E olhe que o homem, por algum tempo, se considerou Deus, sentia-se capaz de controlar a tecnologia, como se esta fosse apenas um conjunto de simples instrumentos mecânicos. Ordem de loucos, fanáticos e imbecis.

A busca do que pelo menos poderiam ter sido os avanços tecnológicos (a evolução dos recursos gerados em vista do desenvolvimento igualitário dos homens entre si e a natureza), seguiu a via da construção de um mundo virtual e eternamente belo. Após confrontarmos a realidade poderemos ver o terror social no qual vivemos.

Somos cada um de nós identificados e classificados em diferentes camadas e grupos da população por números e símbolos. Não há senso de justiça. Quem detém poder financeiro, mantém o domínio, propagando seus discursos nos canais de melhor precisão e maior impacto, ou seja, a burguesia obtém as redes de tecnologia e comunicação. A mídia nos empurra atrações, impõe condições e estabelece rotinas, veicula programas e produtos com o propósito de manter o pensamento arcaico em circulação, na tentativa de não deixar que os comportamentos sejam alterados. Além, é claro, de captar mentes jovens para torná-las, psicologicamente, fracas e ignorantes. Teleguiando a massa, anseia garantir a cota do dia satisfazendo o público alvo e atraindo um público em potencial.

Não quero assustá-los com meu texto levemente apocalíptico (talvez, tenha pendido minha linha de raciocínio, um pouco, para o lado que considero sombrio na humanidade). Mesmo assim, não desperdiço uma oportunidade de questionar a realidade, quase sempre caótica, que nos rodeia. Eis que então, não mais permaneceremos inertes e submissos a um sistema, visivelmente falido.

Nossa luta diária deve seguir de encontro ao costume dos que trabalham para criar uma maneira eficaz de gerenciar nossas vidas. Que não nos façam de bonecos, marionetes, seres animados, impulsionados pela mão da ganância, levados a obedecer e agradecer por ainda estarmos vivos. Não podemos deixar nos algemarem com leis obsoletas, aquelas que funcionam quando se pode pagar para ser absolvido.
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Não somos escravos, somos livres. Pelo menos, para decidir levantar ou baixar a cabeça.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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A Moda é Massa..., por Carlos Baqueiro



Quando vemos um desfile de moda, glamoroso, temos a impressão de que ali se encontra um mundo de fantasias e ilusões. Quem, em sã consciência, vestiria roupas decotadas e transparentes como as que vestem as modelos? Mesmo em pleno Século 21 não creio que haja gente suficiente no mundo para vesti-las.

Moças e moços deslumbrantes indo e vindo sobre uma passarela. E, no final, estilistas se esbaldam de prazer com aplausos e assobios. Moda, festa, deslumbre. Tudo a ver com a nossa sociedade do espetáculo.

A moda do vestuário entrou de cabeça nessa sociedade em que a aparência é mais poderosa que a essência. Christian Dior, Chanel, Balenciaga, Donna Karan, Giorgio Armani... ufa. Esses são os nomes que vemos e revemos todo o ano nas revistas de moda, revistas femininas, e no Jornal Hoje, na Globo, para deleite das dondocas e celebridades que passeiam pelas cerimônias e solenidades com suas criações.

A publicidade e propaganda são tão massivas que nós, homens e mulheres comuns, assistimos a tudo emocionados, comovidos e invejando a todos e todas.

Oliviero Toscani, em seu livro “A publicidade é um cadáver que nos sorri”, fala de um tal Crime de Adoração a Bobagens, cometido pela publicidade que daria vazão a aqueles que cultuam o “sucesso pessoal a qualquer preço, da grana e da 'aparência'”. Tenho a impressão que este crime é também cometido nesse mundo da moda. Talvez digam que estou sendo imprudente, que a indústria da moda cria milhares de empregos, trabalha com as necessidades lúdicas da sociedade, etc., etc.

Mas o lado econômico é potencialmente relativo. A indústria da cocaína é uma grande empregadora (e haja ludicidade envolvendo-a), a de armas talvez seja uma das maiores empregadoras do mundo. Mas o que produzem? Coisas boas? Coisas ruins?

Quando o filósofo alemão Theodor Adorno criticava o que ele mesmo definia como Indústria Cultural se referia à possibilidade de uma elite econômica poder definir os rumos do mundo com seus produtos midiáticos. “Um imenso maquinismo composto por milhares de aparelhos de transmissão e difusão que visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva”, como frisa o professor de história Voltaire Schilling, em site na internet.

A moda faz parte daquela indústria? Será que todo o show da moda, verão, inverno, fashion, serve mesmo como um dos meios para auxiliar uma elite a manter a massa em silêncio?

Parece que sim, pois a moda é massa.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Tecnologia para quem ?, por Carlos Baqueiro



Cansamos de ouvir odes da grande mídia para com a modernidade, e à tecnologia que a acompanha. Somos freqüentemente induzidos a substituir aparelhos eletrônicos, por exemplo, pelo simples motivo de suportar uma velocidade maior, ou tornar mais eficiente alguma operação rotineira. Não ouvimos, no entanto, nenhuma menção à própria tecnologia como parte de uma estratégia para manter o estágio de consumo a que se chegou a humanidade.

Creio que a tecnologia como conhecemos hoje não pode ser entendida como neutra, isto é, a tecnologia de hoje, criada e evoluindo em nome de uma classe específica, direcionada para a acumulação de capital daquela classe, não pode de maneira alguma ser a mesma usada por uma sociedade que se pretenda livre, de verdade.

Na realidade, considero que até a própria luz elétrica, por exemplo, como necessidade ou bem consumível é discutível para uma sociedade livre.

Vou tentar explicar minha visão sobre este tema em poucas linhas.

Quando se acende uma lâmpada, quando se abre o gás de fogão, ou ao ligar a televisão, estamos diante de um consumismo, que pode não parecer, mas é criado e difundido pelo próprio sistema capitalista-industrial, o qual explora através do capital, das instituições e da cultura burguesa, o trabalhador que hoje não consegue desatar as amarras deste sistema. A tecnologia entra na exploração da mesma forma que as outras armas do sistema contra o indivíduo (ou mais precisamente, o trabalhador). Ela é apenas mais uma das teias dentro da rede de exploração.

A evolução desta tecnologia capitalista pressupõe sempre mais controle social através da evolução administrativa.

Nessa evolução a divisão de trabalho pode até tornar-se menos visível, mas ainda está lá . Um homem aperta o parafuso, um junta letrinhas para um jornal, outro abre uma válvula, outros a desenham, alguns preparam apresentações em Powerpoint, todos sem a mínima idéia do conjunto total da produção. Desconhecendo, alienadamente, o motivo de suas ações.

A tecnologia que conhecemos hoje intensifica cada dia mais a heterogestão, espaço onde a hierarquia e a burocracia predominam. Não é difícil imaginar isto quando estamos todo dia trabalhando dentro de complexos industriais, bancos ou escolas (necessários para manter a lâmpada acesa em casa), mais parecidos com campos de concentração ou centros de lavagem cerebral (alimentados com ferramentas disciplinares, como as "chamadas", os panópticos, as quatro paredes dividindo-nos, etc.).

Em minha opinião, se queremos manter a luz acesa, o gás fluindo, a televisão ligada, etc., onde as relações de trabalho continuem as mesmas de hoje, teremos que nos arriscar a viver numa sociedade "livre" onde exista heterogestão em parte dela, o que seria paradoxal.

Se desejarmos viver em comunidades livres, realmente baseadas na AUTOGESTÃO, devemos encontrar novas instituições, novas formas de fazer cultura, novas técnicas.

Inclusive temos de discutir quanto a real necessidade de certos bens de consumo individuais que existem hoje e sobre os quais nos deliciamos sem analisarmos as conseqüências de sua existência. DVDs, geladeiras, automóveis, sapatinhos da Grendene, o ar-condicionado, e até mesmo a nossa velha e querida lâmpada.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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MANIPULANDO O INTERESSE PÚBLICO, por Anderson Souza



Outro dia um amigo me disse que nós jornalistas somos tão pretensiosos ao ponto de acharmos nossos próprios textos sempre corretos e interessantes. Segundo ele, acreditamos cegamente num suposto interesse público sobre todas as baboseiras que escrevemos confiando-nos apenas em nosso poder de persuasão.

Não parei de pensar nisso e de certa forma ele estava certo. Muitas vezes discutimos coisas que na verdade nos incomodam e transpassamos isto para os leitores. Deste nodo, formulamos nosso discurso politicamente correto como se estivéssemos isentos de responsabilidades ou culpas. Mas, por outro lado, entendo que esse tipo de atitude comum entre os jornalistas reflete interpretações particulares de questões particularmente interessantes, mas que porventura passam despercebidas para a maioria da população.

Mas o que realmente é de interesse público? Desde as primeiras aulas na faculdade tenho escutado falar que devemos escrever apenas o importante e de relevância para a sociedade. Entretanto, percebo uma espécie de fórmula utilizada pelas grandes mídias a fim de manter o controle dos menos atentos. Muitas informações às quais temos acesso são disponibilizadas quando o interesse é pura e simplesmente político. O restante é omitido até que haja a necessidade de usá-lo. A busca de audiência é um bom exemplo disto.

Numa tarde de terça-feira, a Rede Globo nos advertiu com um plantão. Minha primeira reação foi pensar em algum tipo de acidente, alguma decisão política, algo realmente importante para tomar o telespectador de súbito. Muito pelo contrário, a informação que naquele momento parecia de urgência nacional era apenas o fato de os participantes do Big Brother Brasil seguirem em carreata até as dependências da emissora. Vésperas da estréia da 8ª edição do reality show, a notícia na verdade era uma espécie de propaganda do produto disponibilizado pela rede a ser consumido durante os próximos três meses.

A maioria dos programas jornalísticos tem sido infectada pelas propagandas. É comum vermos em alguns programas pausas durante uma reportagem e outras cedidas aos anunciantes. Sabemos que muitas dessas produções são financiadas exclusivamente por patrocinadores que em troca querem seus nomes e produtos sendo divulgados. Mas, é bem verdade que a credibilidade das informações acaba sendo comprometida.

Somos levados a crer que todo conteúdo apresentado pelos tradicionais meios de comunicação é de interesse geral. Manipulação é a palavra que achei mais compatível com essa situação.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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REAL & VIRTUAL* - (faces de uma mesma moeda), por El Brujo



A Cooperativa de Pequenas e Médias Empresas de Produção Independente de Mão-de-Obra Baratíssima, constituída basicamente por mulheres pretas, ‘pobres’ e feias, mas limpinhas (Coop_PIMOB dos Brasis pontos com), em vantajosa associação financeira com as Faculdades Pessoas Brancas & Loiras Oxigenadas de Morais Duvidosas, que doravante constituirão uma Nova Big Holding que gerenciará este nobre filão do mercado de prestação de serviços.

Esta Nova Big Holding focará sua visão empresarial em futuras ampliações (principalmente nas instalações de produção de cimento em áreas urbanas degradas, vulgarmente chamadas de favelas) do Grupo de Empresários Mao_istas Chineses & Capitalistas Estelionatários Brasileiros, Presidido pelo Sr. Metal Ferrosos de Aços.

A Coop_PIMOB dos Brasis pontos com, braço industrial da Nova Big Holding, implementará um NOVISSIMO sistema de produção ininterrupto de filhos pretos, ‘pobres’ & feios, mas limpinhos. Isto tudo com o objetivo claro de suprir as necessidades do exigente mercado de Mão-de-Obra Baratíssima da Cidade Serrana de Águas de Março.

Efetivamente contrariando na prática, um antigo e equivocado entendimento do ilustre Gestor Administrativo da Cidade Serrana de Águas de Março – o Sr. Ave César Cabral Mello o Rêgo Filho –, de que as mulheres pobres são ‘‘fábricas de parir muitos pobres e marginais’’. Senão vejamos como a injunção/imposição de várias iniciativas ‘privadas’ pode resultar em um empreendimento lucrativo para todas as partes envolvidas nesta ‘metil_lança perfumada’.

Dentro da nova divisão de tarefas, o controle do produto final coube as Faculdades Pessoas Brancas & Loiras Oxigenadas de Morais Duvidosas’. Que doravante serão as responsáveis pela ‘formatação técnica’ da futura Mão-de-Obra Baratíssima: do berçário à qualificação do aprendiz-estagiário.

Por fim, à recém eleita diretoria da Coop_PIMOB dos Brasis pontos com – capitaneada pela Sra. Júdias Du Amor pela Côr-dê-Pelé – coube estimular, com exercícios anaeróbicos, as suas associadas nas lides produtivas; associou-se também, uma outra novíssima técnica de movimentos de contrações abdominais e vaginais; e para potencializar até ao máximo a sua produção, o incremento do ensino religioso (as velhas e infalíveis aulas-de-catecismo três vezes ao dia, que sempre rendeu/garantiu bons frutos: muita miséria e muita Mão-de-Obra Baratíssima).

E para fechar com chave D’Ouro esta iniciativa, firmou-se um convênio ultra-secreto para a participação especial do Si_braís – Organizações de Convencimento Empresarial de Empresários Pouco e/ou Medianamente Otários. O Si_braís orientará toda política financeira organizacional da Nova Big Holding, tais como o fluxo de caixa dois; rotação das associadas-produtoras no exercício contínuo de fabricação à pleno vapor de filhos pretos, ‘pobres’ & feios, mas limpinhos; as necessárias negociatas para garantir um menor investimento com um retorno alto de produtividade; etc...

*Esta notícia foi transcrita do Sistema Esfera Terráquea de Altos Falantes da Cidade Serrana de Águas de Março.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

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Rotina de Doer, por Carlos Baqueiro



Nesse carnaval fiquei bem longe da folia momesca. Fui para uma casa de praia numa zona de classe média alta. Casa alugada. Com piscina e tudo mais. Passaria uma vidinha de burguês (como dizem meus colegas de trabalho)... Não fossem a louça para lavar de vez em quando, num rodízio quase perfeito, o garrafão de água para trocar, as compras para fazer e muitas outras coisitas que nunca imaginei burguês nenhum fazendo (é só assistir a novela das oito prá saber o que eles fazem muito bem).

Acordava às 10 da manhã... Assistindo as TVs mostrando gravações com Bel, Claudia Leitte (com dois Ts) chorando por ter ganho algum prêmio, Ivetona mostrando as pernas, e por ai vai... Muita putaria em Salvador, Rio ou Recife, incluindo agarra-agarra de pós-adolescentes homossexuais, chupadas linguais magníficas, dentre tantas outras imagens super libidinosas.

Tudo que o Belzebu sempre quis para os seres humanos, e que eles teimam em fazer abertamente apenas nesse período dionisíaco.

E eis que ao fim da festa vem a Santa Madre Igreja com sua Ode da Fraternidade, com uma conversa anti-racional, anti-prazer, anti-vida, nos deleitar com várias afirmações sobre o que ela pensa sobre a própria vida. Ou o que ela (os seus chefes, melhor dizendo) chama sub-repticiamente de direitos humanos.

A Campanha da Fraternidade que em 1986 se encontrava defendendo o direito dos pobres camponeses a um pedaço de terra, e em 91 ainda defendia a dignidade no trabalho, vem, este ano, com a benção do Santo Papa, em “defesa da vida”... Mas, não sejamos tolos, de uma vida aos moldes do que desejam os conservadores que tomaram de vez o Vaticano, desde a morte de João Paulo II.

No lançamento da campanha, Bento XVI deixou claro que “todas as ameaças à vida devem ser combatidas”. Fico aqui a imaginar, pelas imagens que vi ontem no Jornal Nacional, o que ele quer combater: Pesquisa de Células-Tronco, Homossexualismo, Aborto, Camisinha... O que mais? Hmmm... Eutanásia? Masturbação? Todas essas são ameaças a vida, para as cabecinhas criativas deles?

Fico a imaginar as próximas campanhas... Cada vez mais conservadoras (com religiosos loucos para a volta da Idade Média, e de todo aparato jurídico daqueles tempos). Pretendendo incentivar a virgindade antes do casamento, com o uso de cintos de castidade; fomentando o chicoteamento das próprias costas, como pena para aqueles que perdem esperma em punhetas desnecessárias; e incitando a eliminação (sem matanças, é claro, pois a Igreja nunca matou em nome de seu Deus - cof, cof, cof) dos médicos que fazem ligadura de trompas, e sei lá mais o que...

Vade retro, Satanás !!!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

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Dores no mundo – A origem psicótica do assassinato, por Dalmo Oliveira



Eu sinto muito! Isso é tudo que se pode dizer diante das já cotidianas cenas de violência exibidas com um certo frisson pelos diversos meios de comunicação de massa na atualidade. Não importa tanto se a violência é patrocinada por uma catástrofe natural, a la tsunamis engolindo parte da Ásia, ou se tem a cara de um terrorista checheno explodindo criancinhas numa escola russa. O fato é que estamos expostos 24 horas por dia à inevitável e interminável violência humana.

Determinados episódios conseguem, entretanto, me sensibilizar mais que outros. Às vezes algo que ocorreu do outro lado do planeta me comove mais que o crime ocorrido com um amigo ou parente, aqui do lado. Fico imaginando o desespero nos olhos dos garotos feitos reféns na escola russa. A agonia das mães gritando, barradas pelo cordão de isolamento da polícia. Mas o que me doe mesmo é nossa impotência diante da violência. É a total impossibilidade de refrear a fúria dos que cometem os crimes em massa. É nossa fragilidade diante do gigantismo destrutivo da força da natureza.

O medo da morte iminente me paralisa. A certeza de que ninguém está 100% seguro no planeta terra faz com que tenhamos a clareza de que a vida é um bem passageiro. Mas é da mesma forma um bem descartável. A vida é um lapso do caos! É o desafio ao desacerto. Numa sociedade de massa, onde a guerra pode ser transmitida ao vivo pela TV, a violência só tende à banalização. Para a psicologia, é a eterna briga entre Eros e Tanhatos que se manifesta diariamente nas relações humanas e do homem com a natureza.

Mas não há sintoma neurótico que explique a covardia dos assassinos, assim como não há justificação científica que nos conforme dos desastres naturais. Se não, como entenderíamos de forma racional o assassinato da missionária norte-americana no Pará? A crueldade e frieza dos pistoleiros de aluguel que eliminam a sangue frio alguém que sequer se conhece? Como compreender a lógica religiosa dos homens-bomba? De que forma analisar a voracidade dos “cães de aluguel” ? A demência sanguinária de todos os mercenários assassinos?

À cada bala, a sensação de que a humanidade falhou. À cada bomba, o sentimento de que nossa alma está irremediavelmente doente. Foi com esse tipo de reflexão que Wilhelm Reich publicou, em 1953, uma de suas mais contundentes obras: "O Assassinato de Cristo" onde explora o significado da vida e morte de Jesus. Reich classifica esse episódio sádico da história da humanidade como a "peste emocional que assola a humanidade", desde sempre.

É como se o homem se defrontasse, através dos tempos, com a responsabilidade pelo assassinato de Cristo. Um crime contra o vivo seja qual for a forma sob a qual a vida se apresenta. Independentemente da corrente religiosa a que se pertença, o Cristo assume nessa condição o papel do divino entre a humanidade. Assassinar o Cristo é o mesmo que renegar a vida, como um todo.

E quantos assassínios já não ocorreram em nome de Deus e do próprio Cristo? Quanta vida destruída em nome do amor, ou da fé ou da propriedade? Quantas Stangs e Margaridas ainda serão necessárias para saciar a sede de sangue desse monstro invisível que se manifesta em cada um de nós, com maior ou menor intensidade?

Reich apontou a morte de Cristo como um sintoma neurótico da humanidade. Como se os humanos carregassem uma espécie de serial killer genético na cabeça e na alma. Uma seqüência infindável de brutais assassinatos inaugurado talvez por Caim, conforme relata o Velho Testamento.

Mas, que culpa temos nós por essa sede infame de vidas alheais? Porque temos que carregar essa maldição ad infinitum ? Onde está nossa responsabilidade social ou individual pela degeneração incontida da sanha assassina?

Eu só tenho perguntas e estupefação. Não consigo entender a lógica destrutiva dos criminosos “comuns” ou dos genocidas. Sei que há diferentes razões entre Focinho de Porco e George W. Bush.

Mas a lógica do assassinato é uma só: o medo de amar!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

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Entre cordas, trios e camarotes: “pipoca”, por Vanessa Costa



Os últimos acontecimentos envolvendo o carnaval de Salvador fizeram-me escrever sobre o tema. A primeira polêmica do carnaval envolveu a escolha do Rei Momo: magro x gordo. No final das contas o magro venceu. Mais uma vez quebram-se tradições do nada, sem ao menos consultar o povo, aliás, o povão mesmo não é consultado nem levado em consideração há muito tempo no carnaval de Salvador.

A última notícia sobre a festa momesca, vinculada em todos os principais jornais impressos e televisivos do Brasil, inclusive na capa da Folha de São Paulo do dia 30 de janeiro, mostra o povão, a quem a festa deveria se destinar sendo pisoteado pra trocar alimentos por ingressos das arquibancadas nos circuitos Barra/Ondina e Campo Grande.

Os organizadores do carnaval parecem não perceber, aliás, tapam os olhos, para o fato do povo não ter mais onde se divertir, porque o espaço que sobra entre as cordas dos blocos e os camarotes é mínimo, malmente dá pra ficar parado olhando os artistas passarem, e ainda correndo o risco dos “malandros” passarem a mão literalmente nos pertences.

As pessoas que ficaram na fila, fora dos portões da Concha Acústica, no último dia 31, desde as 4h da manhã até a hora da confusão, por volta das 9h30, foram tentar uma oportunidade de também ter privilégios no carnaval, para quem sabe poder ver de perto o seu artista preferido, dançar e ter um pouquinho mais de segurança do que aqueles que se submetem a ficar no exprimido lugar entre cordas, trios e camarotes.

Como será que se sente um folião “pipoca” ao olhar o luxo e a exuberância dos camarotes dos circuitos da folia ? Talvez se parássemos para pensar entenderíamos os números da violência.

Ah !!! Agora tem as festas nos bairros da Liberdade, Periperi e Cajazeiras, mais uma forma de excluir a grande massa da festa principal. Afinal aí estão representados o subúrbio e a periferia de Salvador. Marginalizar quem já vive na marginalidade.

E o capitalismo explica tudo isso !!!

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