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“A afirmação mais forte da modernidade era que nós somos o que fazemos;
Alain Touraine (in: 1997)
Ou seja, o chamado rebelde, ou o termo mais apropriado para os de classe média seria eterno desajustado, será, tenham certeza disso: o futuro desempregado altamente qualificado com seus mil e tantos cursos de especializações variadas e com amplo espectro de conhecimentos sem ‘assunto que se sustente’ ou de pouco recheio na sua empadinha pessoal.
Pois com esse incentivo ao acomodamento, visando basicamente, assim uma postura de conformidade no procedimento protocolar das relações de produção, tais como vigiar, controlar e punir os não-ajustados nestes espaços de monitoramento das reações previamente catalogadas para uma boa relação de convivência intra-murros, pois lhes falta a coragem para dar um passo além dos espaços seguros de sobrevivência de classe.
É simplesmente mais uma proposta (‘o direito à preguiça’) apresentada como solução para as insatisfações individuais diante deste sistema de fiscalização, controle e, quando se fizer necessário, repressão: o capitalismo. Está claro que essa proposta em si não traz nada de novidade, pois só é uma velha forma requentada e re-apresentada como mote para alavancar uma nova postura comportamental diante da vida produtiva, tal como a elevação transcendental (auto-estima) do indivíduo, e que também traz consigo um pretenso objetivo ‘político’ na prática cotidiana de adaptação à exploração/ extorsão capitalista do fruto do trabalho alheio.
Capitalismo que se mantém firme e forte, é bom que se diga com todas as letras em negrito para que os arautos do fim do mundo possam ouvir e sair da letargia compulsória em que vivem. Firme e forte em sua sangria desatada para tudo absorver, controlar e claro neutralizar qualquer resistência a sua expansão comercial, política e ideológica em cada canto deste planeta, terra do salve-se quem puder. Temos aqui se forjando com um novo perfil figurativo (design), pois a ‘preguiça’ como ação comportamental consubstanciada em idéias e no ideal humanitário de um tipo tão necessário à classe média desses tempos do consumo efêmero e dependente do crediário a se perder de vista: ‘relaxe e goze’... Haja vista que não dá mais para gastar/ consumir sem eira nem beira!
“Deveríamos ser os jardineiros deste planeta. Cultivá-lo como ele é e pelo que é. E encontrar a nossa vida, o nosso lugar. Mas isto está muito longe não só do atual sistema quanto da atual imaginação dominante. O imaginário da nossa época é a expansão ilimitada, a acumulação de produtos de consumo: um aparelho de televisão e um micro em cada quarto. É isso que devemos destruir. É nesse imaginário que o sistema se apóia”
Cornelius Castoriadis (in: 1990)
E do outro lado o otário mal amado e inseguro que tudo que vê quer comprar para justificar – como uma possível solução para as suas neuras somatizadas em stress e outros neologismos no campo da psique – o seu apego ao trabalho de tempo integral, isto tudo sem o necessário respeito aos direitos trabalhistas ou até religiosos, que nos diferenciam das incansáveis máquinas construídas com um fim específico: substituir o trabalhador manual, minimizar os custos relativos e aumentar a produção de bens para o consumo.
Aqui fazemos o nosso particular e necessário grande parêntese, pois ninguém é de ferro: observem que os ocidentais apresentaram, e respeitavam como tal, o dia de sábado como um intervalo necessário para uma pausa, mesmo que insignificante, diante da imensidão da luta contra a natureza na sua transformação para o uso fruto dos que podem pagar ou se endividar. E nisto o mito do criador/herói dá a sua pequena contribuição quando diz que é finita a sua intervenção no ato laboral/ ‘fazer’ e descansa como qualquer outro ser que reconhece as suas limitações físicas, psíquicas e existenciais.
E qual é a pergunta que fica dessa lengalenga de ‘direito à preguiça’ para a classe média, onde se tenta rimar em versos a dor da incapacidade de extrair cem por centro de um processo produtivo qualquer e a plasticidade única contida na ‘beleza’ subjetiva e inútil, melhor dizendo sem utilidade prática alguma, duma cândida flor de açucena!!!
O ‘capitalismo’, que por hora continua ‘selvagem’ como sempre o foi e que por todas as indicações das nossas parcas observações continuará a sê-lo, quer realmente apreender esse aspecto antropológico (“o direito à preguiça”) da existência humana, bem como as suas correlatas limitações? A “preguiça” que lhe é por essência constitutiva antagônica e destrutiva enquanto sistema de produção e de relações interpessoal, pois vai no sentido contrário aos seus pressupostos básicos de vigilância, controle e da punição dos seus pares em situação de desvantagem!
“A afirmação mais forte da modernidade era que nós somos o que fazemos;
a nossa experiência mais viva é que nós já não somos o que fazemos,
que somos cada vez mais estranhos às condutas
que nos impõem os aparelhos econômicos,
políticos e culturais que organizam a nossa experiência…”
Alain Touraine (in: 1997)
No capitalismo tupiniquim se vende de um tudo: de senha/ ticket password em filas que se prolongam quilométricas nas poli-clinicas ou hospitais público para uma intervenção médica de um maior grau de complexidade, passando pela garantia (salvação) por um lugarzinho bem quentinho nos quintos, perdão, digo reino dos céus... até chegarmos ao ‘direito à preguiça’ para a classe média (pequena burguesia) desgostosa e sem perspectiva dentro deste processo produtivo que já aniquilou a sua pretensa possibilidade de auto-suficiência de um produtor independente.
Ou seja, o chamado rebelde, ou o termo mais apropriado para os de classe média seria eterno desajustado, será, tenham certeza disso: o futuro desempregado altamente qualificado com seus mil e tantos cursos de especializações variadas e com amplo espectro de conhecimentos sem ‘assunto que se sustente’ ou de pouco recheio na sua empadinha pessoal.
Pois com esse incentivo ao acomodamento, visando basicamente, assim uma postura de conformidade no procedimento protocolar das relações de produção, tais como vigiar, controlar e punir os não-ajustados nestes espaços de monitoramento das reações previamente catalogadas para uma boa relação de convivência intra-murros, pois lhes falta a coragem para dar um passo além dos espaços seguros de sobrevivência de classe.
É simplesmente mais uma proposta (‘o direito à preguiça’) apresentada como solução para as insatisfações individuais diante deste sistema de fiscalização, controle e, quando se fizer necessário, repressão: o capitalismo. Está claro que essa proposta em si não traz nada de novidade, pois só é uma velha forma requentada e re-apresentada como mote para alavancar uma nova postura comportamental diante da vida produtiva, tal como a elevação transcendental (auto-estima) do indivíduo, e que também traz consigo um pretenso objetivo ‘político’ na prática cotidiana de adaptação à exploração/ extorsão capitalista do fruto do trabalho alheio.
Capitalismo que se mantém firme e forte, é bom que se diga com todas as letras em negrito para que os arautos do fim do mundo possam ouvir e sair da letargia compulsória em que vivem. Firme e forte em sua sangria desatada para tudo absorver, controlar e claro neutralizar qualquer resistência a sua expansão comercial, política e ideológica em cada canto deste planeta, terra do salve-se quem puder. Temos aqui se forjando com um novo perfil figurativo (design), pois a ‘preguiça’ como ação comportamental consubstanciada em idéias e no ideal humanitário de um tipo tão necessário à classe média desses tempos do consumo efêmero e dependente do crediário a se perder de vista: ‘relaxe e goze’... Haja vista que não dá mais para gastar/ consumir sem eira nem beira!
“Deveríamos ser os jardineiros deste planeta. Cultivá-lo como ele é e pelo que é. E encontrar a nossa vida, o nosso lugar. Mas isto está muito longe não só do atual sistema quanto da atual imaginação dominante. O imaginário da nossa época é a expansão ilimitada, a acumulação de produtos de consumo: um aparelho de televisão e um micro em cada quarto. É isso que devemos destruir. É nesse imaginário que o sistema se apóia”
Cornelius Castoriadis (in: 1990)
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Temos aqui, em moto contínuo, a dinâmica das mil e uma inutilidades do mercado de necessidades construídas pelos artífices das ilusões para serem consumidas por dependentes compulsivos destas pseudo novidades. E que estando antenado, isto é em sintonia fina com as constantes, necessárias e intermináveis transformações nos mecanismos de adaptações mercadológicos, propõe intervenções lúdicas (vulgarmente conhecida como quiméricas palhaçadas) de e no comportamento dos não-ajustados. Donde de um lado se tem o técnico especialista em marketing, esperto como ele só, que a tudo transforma em ‘belo’ e por conseqüência direta dessa nova roupagem (conceitualização paradigmática) em um produto vendável para consumidores menos atentos ou pouco esclarecidos de suas necessidades imediatas...
E do outro lado o otário mal amado e inseguro que tudo que vê quer comprar para justificar – como uma possível solução para as suas neuras somatizadas em stress e outros neologismos no campo da psique – o seu apego ao trabalho de tempo integral, isto tudo sem o necessário respeito aos direitos trabalhistas ou até religiosos, que nos diferenciam das incansáveis máquinas construídas com um fim específico: substituir o trabalhador manual, minimizar os custos relativos e aumentar a produção de bens para o consumo.
Aqui fazemos o nosso particular e necessário grande parêntese, pois ninguém é de ferro: observem que os ocidentais apresentaram, e respeitavam como tal, o dia de sábado como um intervalo necessário para uma pausa, mesmo que insignificante, diante da imensidão da luta contra a natureza na sua transformação para o uso fruto dos que podem pagar ou se endividar. E nisto o mito do criador/herói dá a sua pequena contribuição quando diz que é finita a sua intervenção no ato laboral/ ‘fazer’ e descansa como qualquer outro ser que reconhece as suas limitações físicas, psíquicas e existenciais.
E qual é a pergunta que fica dessa lengalenga de ‘direito à preguiça’ para a classe média, onde se tenta rimar em versos a dor da incapacidade de extrair cem por centro de um processo produtivo qualquer e a plasticidade única contida na ‘beleza’ subjetiva e inútil, melhor dizendo sem utilidade prática alguma, duma cândida flor de açucena!!!
O ‘capitalismo’, que por hora continua ‘selvagem’ como sempre o foi e que por todas as indicações das nossas parcas observações continuará a sê-lo, quer realmente apreender esse aspecto antropológico (“o direito à preguiça”) da existência humana, bem como as suas correlatas limitações? A “preguiça” que lhe é por essência constitutiva antagônica e destrutiva enquanto sistema de produção e de relações interpessoal, pois vai no sentido contrário aos seus pressupostos básicos de vigilância, controle e da punição dos seus pares em situação de desvantagem!
3 comentários:
Descobri há pouco tempo o blog e já li diversos textos. Isso porque são textos muito bem escritos,gostosos de ler e com um conteúdo político admirável!Passarei mais vezes por aqui e nas demais vezes comentarei texto a texto. Mas esse recado é só para parabelizar a produção de vocês.
Abraços!
Camila
Parabéns pelo texto. Parece mesmo que o capitalismo venceu e não teremos outra alternativa...
ou talvez só nos reste as alternativas, uma vez que todas as tentativas de melhoria dentro do capitalismo fracassaram. o/ ainda é cedo para desistir mas nunca para começar..
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