sexta-feira, 25 de julho de 2008

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POLÍCIA E BANDIDO - DOIS EM UM, por Anderson Souza



É impressionante o número de casos divulgados atualmente pelas grandes mídias envolvendo a polícia em situações que divergem da sua real função, qual seja, proteger a sociedade. Verdadeiras tragédias são causadas por engano, despreparo, abuso de poder. E, na maioria das vezes, pelo simples desejo de matar. A violência da polícia brasileira já é reconhecida mundialmente. Pesquisas feitas pela ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, concluíram que a polícia do Rio de Janeiro é a campeã em truculência.

As últimas notícias são chocantes, como a dos policiais do Rio de Janeiro que, ao se confundirem, dispararam quase 20 tiros no carro de uma família, matando uma criança de 3 anos. Por sorte, a outra criança de 9 meses, que também estava no carro, conseguiu sobreviver sem ser atingido. Os supostos assaltantes não foram encontrados. Ainda no Rio, uma engenheira de produção desapareceu após um, também, suposto acidente. Isso porque o carro da vítima foi encontrado com sinais de tiros. Suspeita-se que policiais estejam diretamente envolvidos neste caso. Uma das viaturas que estava no local do acidente não pertencia àquela jurisdição.

Designados a fazer o papel da polícia numa favela, também do Rio de Janeiro, soldados do exército prendem três estudantes e os deixam a mercê de traficantes que, por sua vez, matam os jovens friamente. Em outra situação, um policial militar matou a tiros um jovem na saída de uma boate. O estudante se envolveu numa briga com o filho de uma promotora, cujo PM fazia a segurança. Cogita-se que o policial vá a júri popular, mas isto pode ser muito diferente. Há um grande acobertamento por parte das corporações em situações como estas. Assisti um ex-sargento da polícia relatando que essas ações são de ordens superiores e que é assim que a secretaria de segurança quer o trabalho. O ex-sargento dizia ainda ser inútil querer treinar esses policiais agora, pois o resultado seria de mais mortes com menos tiros.

Guardo na memória uma cena que presenciei ainda criança: um grupo de policiais espancando um jovem no fundo do camburão. Era uma tarde ensolarada e o carro estava estacionado a alguns metros da minha casa. Não se intimidaram com a minha presença nem com a das outras pessoas que passavam por ali. Batiam com cacetetes, esmurravam e chutavam. O rapaz, sem poder reagir, tentava proteger o rosto com as mãos algemadas e gemia de dor. Não sei o que resultou aquele episódio. A propósito, meus pais demonstraram certo receio quando decidi escrever sobre estes fatos. Como toda a sociedade, acredito, eles também têm medo das ações da polícia.

Volta e meia temos novas informações de policiais envolvidos em corrupção. Mas, isto, na verdade, já não é mais novidade. Há também grupos de justiceiros, as chamadas milícias, formadas por policiais que cobram das comunidades para manter a suposta segurança no local. O mais estarrecedor são as denuncias de envolvimento de policiais em casos de pedofilia. Vimos há pouco tempo um sargento que cometeu suicídio ao ser descoberto o seu envolvimento com abuso infantil. Houve também a prisão de um major que fazia parte de uma rede de pedofilia. Este último já havia sido acusado de estupro quando ainda era tenente da policia militar, mesmo assim foi promovido.

A imprensa tem se aproveitado dessas situações. Por um lado faz denúncias, por outro não passa de mais sensacionalismo. Há ainda aqueles apoiadores das ações agressivas da polícia. Você já deve ter assistido ao programa "Se liga Bocão", cujo apresentador por várias vezes fez apologia à violência policial, inclusive argumentando que a polícia não bateria em alguém se este não tivesse feito algo de errado, além de expor ao ridículo os acusados.

Depois de muito tempo, tive a oportunidade de ler o livro do jornalista Caco Barcelos, Rota 66 - A história da polícia que mata. É um trabalho de pesquisa e investigação surpreendente, apesar das histórias serem tristes e revoltantes, uma vez que nos mostram a realidade das práticas assassinas de muitos policiais de São Paulo. A investigação de Caco tem início nos anos 70, com a criação da polícia militar paulista. Tudo que estamos presenciando hoje foi explicitado no livro, em tempos e circunstâncias diferentes, mas com procedimentos e resultados semelhantes. Os Boletins de Ocorrências das ações diárias dos policiais seguem sempre a mesma seqüência: após perseguição, os bandidos são atingidos na troca de tiros e socorridos pelos próprios policiais, chegam em óbito aos hospitais. Se puderem, leiam também.

Não serei incoerente dizendo que todos os policiais agem conforme as práticas relatadas neste texto. Mas, como Mano Brown, "não confio na polícia, raça do caralho". E diversas outras músicas já nos advertiam, como a dos Titãs, atualizada pelo Sepultura: "dizem que ela existe pra ajudar, dizem que ela existe pra proteger, eu sei que ela pode te matar, eu sei que ela pode te foder. Polícia para quem precisa de polícia". Bom, de tudo isto, o que posso dizer é que, estejam alerta para eles e prontos pra reagir.

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem brutalizou os brutos? O poder, seja qual for, tem a nuance de corromper quase todos. Mas salvemos alguns que merecem e não os colocaremos na vala comum. Existe a boa polícia, sim existe...

Anônimo disse...

Covardia! falar mau da policia, o cidadão que sai de casa pra trabalhar em uma farda surrada em um carro velho, com armas ultrapassadas, mau preparados e tem que lidar com os piores e mais ousados bandidos do mundo, covardia! a população devia ajudar a policia brasileira a melhorar, bater em quem merece, no estado, não em um dos trabalhadores mais estressados e sofridos desse pais cheio de ladrões de todos os tipos e pessoinhas levianas, crueis, metidas a defender os direitos humanos, que tal defender os direitos humanos do trabalhador policial! heim! que tal?? faça algo diferente dessa vez, falar mau da policia ja virou covardia.

Anônimo disse...

Cuidado Anderson! voce parece ter trauma com a policia, pelo que voce descreveu por ter presenciado, quando criança os policiais agredindo um bandido covardemente no camburão, acontece que as vezes a gente mesmo fica com tanta raiva das coisas desumanas que esses bandidos fazem que nos sentimos vontade de agredi-los com as nossas proprias mãos não é mesmo? imagine quem tem que conviver com isso todo dia, não estou dizendo que esse comportamento é correto, mais tome mais cuidado ao julgar as pessoas desse jeito, o cruel e covarde pode ser voce. a vida de policial no Brasil não é facil, e muitos se corrompem por pura sobrevivencia, e não estou falando so do dinheiro que recebem não, é medo de morrer mesmo. Voce pode resolver isso, voce pode ajudar essas pessoas? então não julgue elas dessa maneira voce esta sendo cruel e irresponsavel.

Anônimo disse...

É. Infelizmente esta é tua visão. É a Polícia do teu estado. Pelo que li, toda a Polícia aí é corrupta. Não existem policiais honestos. Pois saiba que em outros estados, a situação é diferente. No Rio Grande do Sul, mesmo com um salário baixo, os Políciais Civis tem curso superior e estão entrosados com a comunidade e outros profissionais, como psicólogos, sociólogos, membros do Poder Judiciário, Ministério Público....para bem orientar aqueles que procuram uma Delegacia de Polícia.

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