sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Liberdade de Expressão de Quem ?, por Carlos Baqueiro



Essa semana o Ministério Público Eleitoral, contrariando boa parte da grande imprensa, ingressou com mais duas representações contra as editoras proprietárias do jornal A Folha de São Paulo, e da revista Veja. Ambos os periódicos publicaram reportagens com entrevistas de Marta Suplicy, indo de encontro a legislação eleitoral, segundo o próprio MPE.

Nessa noite de Sexta-Feira o Jornal Nacional, através de sua apresentadora, criticou aquela ação do MPE, deixando claro que isso seria um ataque à liberdade de expressão.

Vira e mexe estamos ficando frente a frente com abordagens de órgãos jornalísticos que criticam ações do governo, ou de partidos, ou de grupos organizados, acusados de dificultar o trabalho dos jornais e dos jornalistas.

Também acredito que o trabalho de uma imprensa livre é fundamental para a manutenção da democracia. Mas há um outro lado da moeda que precisamos debater.

Já houve gente pelo mundo dizendo que a tal Liberdade de Expressão é na realidade a Liberdade de Empresas à sua Expressão. Isso porque é de conhecimento público que a maioria das redes de comunicação e informação, pelo Brasil e pelo mundo, é de propriedade de poucas famílias, ou de grandes corporações.

Denis de Moraes, organizador do livro Por Uma Outra Comunicação, dá uma boa visão da formação desse oligopólio:

“A mídia global está nas mãos de duas dezenas de conglomerados, com receitas entre 5 e 35 bilhões de dólares. Eles veiculam dois terços das informações e dos conteúdos culturais disponíveis no planeta. Entrelaçam a propriedade de estúdios, produtoras, distribuidoras e exibidoras de filmes, gravadoras de discos, editoras, parques de diversão, TVs abertas e pagas, emissoras de rádio, revistas, jornais, serviços online, portais e provedores de internet, vídeos, videogames, jogos, softwares, CD-ROM, DVD, equipes esportivas, megastores, agências de publicidade e marketing, telefonia celular, telecomunicações, transmissão de dados, agências de notícias e casas de espetáculos”.

Os interesses daqueles grupos e das corporações se declinariam, na hora H da notícia, para dar lugar a um enfoque isento, e que busque a verdade e a justiça ? A luta pela tal da Liberdade de Expressão não seria na realidade uma falácia, com a função de mascarar os verdadeiros objetivos dos donos da informação ?

Mesmo não querendo maniqueizar o meu discurso (com donos de empresas mauzinhos, de um lado, contra a população boazinha, de outro lado), fica óbvio que existe um grande poder aqui envolvido, e temos de estar atentos a isso. Este poder pode privilegiar crenças, ideologias, modos de vida, imáginários sociais... e é óbvio também que isto pode favorecer a um ou outro grupo social.

E daí ? O que fazer com toda essa informação, ao mesmo tempo tão complexa e cética até a espinha ?

Recorro a um trecho bem otimista do sujeito que sempre criou briga com aqueles que trabalham na imprensa. Pierre Bourdieu, no livro Contrafogos:

“E, se me dirijo a jornalistas, não é, como se vê, para denunciá-los, condená-los, culpá-los, mas, ao contrário, para convocá-los para um combate comum, chegando assim a definição ideal de sua profissão, como condição indispensável do exercício da democracia”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Afirma Noam Chomsky em uma das suas inúmeras entrevistas, que “É particularmente prejudicial à democracia quando os sistemas de mídia estão nas mãos das tiranias privadas [corporações]. É ruim se estiver nas mãos do cara que fabrica sapatos ou caros. É ruim o suficiente. Porém, quando ocorre um controle sobre os sistemas doutrinário e sobre as informações, é muito pior.”

Unknown disse...

Acho que o jornalista não deve buscar a isenção total (Ciro Marcondes afirma que ela é impossível de ser alcançada), mas tentar deixar explícito para o interlocutor que ele é uma pessoa e todas as notícias que escreve
passam por sua concepção de mundo e, muitas vezes, pela concepção das empresas nas quais ele trabalha.

Sou estudante de jornalismo e tento fazer um prgrama alternativo à mídia tradicional. Se tiver interesse, acesse:

www.raizsocial.podomatic.com

Parabéns pelo blog,

Abraço

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