segunda-feira, 5 de maio de 2008

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Prometeu nunca esteve lá..., por Carlos Baqueiro



O filme A Guerra do Fogo se passa no que se chama tempos pré-históricos, e fala acerca da descoberta do fazer o fogo.

Um povo vive em torno de uma fonte natural de fogo.

Logo no início é mostrado o cotidiano deste povo. As relações de poder e, particularmente, as relações de sexo. É mostrado, por exemplo, com uma certa insistência, como os homens, quando excitados, fazem sexo com as mulheres, prendedo-as pelas costas, "a-ni-ma-les-ca-men-te".

Importante também é salientar a forma de comunicação que criaram: desenhos e falas que quase se confundem com rugidos animais sem tradução possível. Mas aos poucos vamos verificando que é esta forma simples de comunicação que os diferencia de outros povos, e que pode lhes garantir a sobrevivência.

São notáveis as atuações com personagens que realmente dão o tom de primitividade desejada pelo diretor, em todos os aspectos. Sujeira, maltratos, violência... a direção se preocupou com os mínimos detalhes, como quando uma mulher parece tirar piolhos dos cabelos de seu companheiro/protetor.

Começamos a entender o sentido do filme quando outros homens (bem mais fortes e cabeludos) atacam o local dos anteriores em busca da fonte de fogo (que fica numa espécie de lanterna construída de galhos de árvore).

Ao fim da batalha aqueles primeiros são expulsos da área onde viviam, e o que é pior, não conseguem manter o fogo aceso dentro da tal lanterna.

A sequência onde percebem o fim da chama é magistral, indicando claramente a importância daquela pequena chama em suas vidas, e invocando para nós espectadores o desespero pela sua perda, e o conhecimento de quanto seria difícil ter uma nova chama acesa.

Três membros são escolhidos pelo que parece ser o líder e saem em busca de uma nova matriz de fogo. Procurando fontes naturais (consequência de raios, por exemplo), ou mesmo roubando de outros.

Depois de vários dias andando e enfrentando animais pré-históricos e outros povos, os três “mocinhos” encontram indivíduos de outro povo que já detêm a técnica de como fazer fogo.

No momento em que o personagem principal observa o fogo surgindo entre gravetos (coisa que até os débeis escoteiros hoje fazem sem a menor cerimônia) nota-se as lágrimas em seus olhos, percebendo ali que o mesmo compreende como aquilo seria de suma importância para a sobrevivência de seu povo.

Na realidade, a descoberta do fogo é apresentada como pretexto a uma viagem que levará alguns seres humanos ao encontro do conhecimento e da própria sensibilidade humana. Além do que, podemos perceber o quanto é importante a capacidade do ser humano de superar os grandes problemas pelos quais passou, passa e passará. Superação essa que se dá devido à sua capacidade de encontrar saídas técnicas e inteligentes para os obstáculos, com suas próprias mãos, e sem a ajuda de qualquer Prometeu.

O filme recebeu um Oscar em Hollywood, em 1983, pela melhor maquiagem. Além de ser o vencedor dos prêmios César de melhor filme e melhor direção (1981).

Um comentário:

Unknown disse...

uma mudança estratégica de parâmetros
Num tempo em que não está catalogado nos nossos livros de história, cuidamos do fogo como a um filho...
Hoje este carinho é reclamado pela natureza, que começa a ‘arder em febre. Isto em função do descontrole (excesso) na produção de ‘coisitas’ para usufruto individual, mas que poderiam ser compartilhadas por várias pessoas sem ofender a propriedade de quem quer que fosse, em vez de adormecer esquecido num fundo de um armário ou na prateleira de uma estante como adorno ou troféu.
Armário ou estante esta que pode muito bem ser a sua, ou a minha, ou de um outro qualquer!!!
Portanto cabe a nós construirmos uma nova, ou talvez seja tão velha que não lembramos mais, consciência para lidar com a posse dos bens de uso coletivo: livros, computadores, lápis refeitórios, sabe lá mais umas mil e tantas ‘coisitas’.
Ass: kyz

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