segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Propaganda e Sociedade do Consumo, por Carlos Baqueiro
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Segundo o professor de comunicação Wilson Bryan Key, no seu livro “A Era da Manipulação”, “a tecnologia de ponta de persuasão de massas atingiu níveis de sofisticação muito maiores do que a maioria dos indivíduos imagina. Muitos ainda se agarram desesperadamente à ilusão de que pensam por si mesmos, determinam seus próprios destinos, e exercem seu livre-arbítrio, e, talvez a maior auto-ilusão de todas, a de que podem facilmente discernir entre fantasia e realidade”.
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Quando tentou interpretar o mundo da publicidade, Daniel Bougnoux, no livro “Introdução às Ciências da Informação e da Comunicação”, talvez tenha tido o mesmo objetivo do professor Key. Alertar-nos para a existência de um mundo onde a publicidade constrói e destrói sentidos ao bel prazer daqueles que estão por trás dela. Em questão emitida no início do capítulo de seu livro referente à publicidade já podemos prever esse alerta: “... não é verdade que ela modificou, em alguns anos, nossos regimes de crença e verdade ?”.
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A partir dali ele tenta deixar claro como a publicidade fará isso, a partir, inicialmente, da existência de dois planos: das necessidades e dos desejos. Planos inicialmente dicotômicos, mas, que ao final das contas, deixam de ser dois, devido as prerrogativas da própria publicidade que planeja um mundo simples de ser entendido, sem dialéticas desnecessárias, sem opções dúbias, sem que aqueles a quem ela deseja seduzir tenham de pensar muito: “Ela seduz oferecendo um curto circuito, uma economia psíquica”.
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Para se chegar ao íntimo do possível cliente a informação sobre o produto deve ser relaxante, ao invés de dramática, deve ser imagética, ao invés de rebuscada com palavras, deve ser divertida e sensibilizada, ao invés de conter informações e doutrinas.
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Creio para mim, que essa forma de construir uma realidade é tão eficaz que deixou de ser usada apenas por publicitários, contagiando jornalistas. Ao assistirmos telejornais matutinos ou noturnos, podemos ter uma boa evidência disto. Noticiários superficiais, fúteis e sensacionalistas são preferidos a aqueles com maior profundidade e contextualizados, pois na mente dos jornalistas-marketeiros cansariam o público, e o faria mudar de canal.
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Talvez estejamos em um mundo da busca da eliminação da angústia das escolhas. Como bem disse o ótimo Charada (Jim Carrey) para o chato do Batman (Val Kilmer). Talvez a publicidade seja a conseqüência da busca das pessoas por segurança, e assim “a sociedade de consumo disfarça-se em comunidade da consolação”.
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Não fica muito claro no texto, provavelmente porque o autor não desejou ali politizá-lo, quem são os responsáveis pela construção de tal tipo de “publicidade”. Mas seus parceiros são os “novos filósofos ou artistas pós-modernos”. Então, os seres humanos que conseguem penetrar na alma e na mente daqueles a quem querem se dirigir, conseguem também fazer com que percam a capacidade de se posicionar autonomamente. Com que estejam sempre abertos às escolhas que já foram feitas. Com que fiquem prontos a aceitar as verdades novas, ou manter as antigas.
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Mas então o que esperar desse mundo tão manipulável, de seres humanos tão desejosos da alienação, e de outros loucos para trapacear ? Quem sabe não possamos vê-los, aqueles que tentam enganar e manipular, cheios de astúcia, um dia ainda, condenados a viver ao lado de Plutão ? Ou presos, como Sísifo, a eterna pena do trabalho sem fim.
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Apenas esperanças...
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(Texto revisado do original publicado no boletim impresso Mídia Rebelde de Novembro de 2005)

3 comentários:

Anônimo disse...

Mercadores de Ilusão:
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Não é difícil imaginar o processo utilizado de convencimento para pensarmos aquilo que “eles” querem que pensemos: repetição de uma’ verdade’ qualquer, em doses homeopáticas...
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Quantas gotas homeopáticas de verdades/mentiras seriam necessárias para nos fazer acreditar que nós aceitamos, e que, também, nós gostamos da grande televisiva transmitida todo domingo – faça chuva ou faça sol?
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Isto quando as “famílias” sentam lado a lado – sem olho no olho – para o entretenimento dominical mediado por uma caixa impessoal e que pisca milhares de vezes por minuto... e entre uma piscadela e outra tentam vender por hora dezenas de coisas vinculadas às desnecessidades do dia-a-dia!!!
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Ass.: kyz, ao seu dispor.

Anônimo disse...

Na maioria das vezes esse convencimento, como diz kyz, tem atrás de si o convencimento pelos números de estatísticas.
Fez sucesso, é bom, bonito, barato, tem a `qualidade` que é requerida pelo sistema capitalista, tudo certo.

Gato-do-mato disse...

Excelente texto
nao tive tempo de ler todos ainda
assim que possivel irei ler e comentar!

coloquei um link seu no meu blog num post que fala da mídia

parabens pelo blog

abraço!

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