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Bob Dylan e a arena que virou pub, por Marconi Lins
Foto: Hélida Conceição; Vídeo: Sindrock
A Arena Olímpica do Rio de Janeiro parece mais um shopping center em meio a tantos outros que ficam ali na Barra da Tijuca. Um mega espaço que lembra aqueles grandes estádios americanos de Hóquei no Gelo, ou até mesmo o Albert Hall, em Londres. Cadeiras enfileiradas e clima de grande concerto na chegada davam a impressão que um grande show iria acontecer. Mr. Zimmerman, na sua última apresentação no Brasil.
Play Back de introdução (uma marchinha circense), iluminação sóbria, então desce um fundo de palco preto, com formas tribais prateadas e, no meio do palco, uma rosa dos ventos, que servia de tapete e apontava para o norte, para a lenda viva, o poeta americano, o cara mais anticelebridade, que ignorou o show business e perdeu a direção de casa: Robert Allen Zimmerman ou, simplesmente, Bob Dylan.
Apesar da Arena Rio dispor de três telões, nenhum deles foi ligado, uma exigência do próprio cantor, que por sinal, não deu uma entrevista sequer. E nem precisa de imagem quando se tem um cara desse naipe tocando na sua frente.
O som muito limpo e uma incrível dinâmica da banda davam espaço para a voz rouca de Dylan se encaixar perfeitamente nas estranhas versões de velhas músicas conhecidas. Normal. Tendo em cena um artista que nunca gostou de se repetir, vai esperar o quê? A segunda do set list, por exemplo, "It ain't me baby" ficou com outra roupagem, bem menos folk do que a versão antiga.
Para quem não conhece bem as letras, vale curtir os climas das músicas. E olha que os detalhes fazem toda a diferença no som: toques sutis de gaita, um slide guitar dando o maior brilho aos acordes introdutórios, uma Fender Telecaster fazendo bordões típicos de country rock, teclados tocando uma oitava a cima, solos bluseiros do guitarrista Denny Freeman e rockão, muito rockão antigo.
Por mais que críticos afirmem que Bob não tenha um estilo definido, ele é antes de tudo um rocker, no sentido mais dúctil da palavra. Na sua atitude e no seu som. Mesmo que às vezes cheio de nuances melódicas, e românticas, não tem como não lembrar do bom e velho rock'n roll (êta bordão Bob Dylan, quer dizer, fora de moda!).
Em alguns finais os músicos ficam à vontade para improvisação, com direito a altas investidas do baterista, soltando a mão e despachando virtuose. Duzentos metros de palco e lá estava ele, estático. Como se fosse um pub esfumaçado e cheio de suor, cara de não tô nem aí, sorriso no canto da boca e uma super precisão nos tons e na respiração. A arena virou um pequeno bar americano de beira de estrada, onde milhares de pessoas degustavam essa viagem sonora.
Finalzinho de show, um arranjo diferente e para delírio da platéia... finalmente "Like a rolling stone". Nesse momento é liberada a geral e grande parte das pessoas nas arquibancadas desce para a pista. Coro no refrão, gritos e empurra-empurra para ver de perto a lenda viva.
Bob Dylan ainda volta ao palco para mais duas, uma delas "Blowin' in the Wind" também cantada de forma bem diferente, mas nem por isso desacompanhada pelos fãs. Ao final ele e os integrantes da banda, todos de chapéu e terno, ao estilo gangster de Chicago, se posicionam lado a lado para o público como se fosse um duelo e vão embora de vez.
3 comentários:
Ficou muito bom o seu texto, cara!
Senti o clima do show daqui!
Ótima a comparação: "A arena virou um pequeno bar americano de beira de estrada, onde milhares de pessoas degustavam essa viagem sonora".
Vou procurar uns vídeos no Youtube,
pena que não tive como ($$$) ir ao show.. HAHAHA,
Abraços!
Eu gosto de Bob dilan
adorei o texto
Paola
uma lenda como Bob merece
eu curto..
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