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Tecnologia para quem ?, por Carlos Baqueiro
Cansamos de ouvir odes da grande mídia para com a modernidade, e à tecnologia que a acompanha. Somos freqüentemente induzidos a substituir aparelhos eletrônicos, por exemplo, pelo simples motivo de suportar uma velocidade maior, ou tornar mais eficiente alguma operação rotineira. Não ouvimos, no entanto, nenhuma menção à própria tecnologia como parte de uma estratégia para manter o estágio de consumo a que se chegou a humanidade.
Creio que a tecnologia como conhecemos hoje não pode ser entendida como neutra, isto é, a tecnologia de hoje, criada e evoluindo em nome de uma classe específica, direcionada para a acumulação de capital daquela classe, não pode de maneira alguma ser a mesma usada por uma sociedade que se pretenda livre, de verdade.
Na realidade, considero que até a própria luz elétrica, por exemplo, como necessidade ou bem consumível é discutível para uma sociedade livre.
Vou tentar explicar minha visão sobre este tema em poucas linhas.
Quando se acende uma lâmpada, quando se abre o gás de fogão, ou ao ligar a televisão, estamos diante de um consumismo, que pode não parecer, mas é criado e difundido pelo próprio sistema capitalista-industrial, o qual explora através do capital, das instituições e da cultura burguesa, o trabalhador que hoje não consegue desatar as amarras deste sistema. A tecnologia entra na exploração da mesma forma que as outras armas do sistema contra o indivíduo (ou mais precisamente, o trabalhador). Ela é apenas mais uma das teias dentro da rede de exploração.
A evolução desta tecnologia capitalista pressupõe sempre mais controle social através da evolução administrativa.
Nessa evolução a divisão de trabalho pode até tornar-se menos visível, mas ainda está lá . Um homem aperta o parafuso, um junta letrinhas para um jornal, outro abre uma válvula, outros a desenham, alguns preparam apresentações em Powerpoint, todos sem a mínima idéia do conjunto total da produção. Desconhecendo, alienadamente, o motivo de suas ações.
A tecnologia que conhecemos hoje intensifica cada dia mais a heterogestão, espaço onde a hierarquia e a burocracia predominam. Não é difícil imaginar isto quando estamos todo dia trabalhando dentro de complexos industriais, bancos ou escolas (necessários para manter a lâmpada acesa em casa), mais parecidos com campos de concentração ou centros de lavagem cerebral (alimentados com ferramentas disciplinares, como as "chamadas", os panópticos, as quatro paredes dividindo-nos, etc.).
Em minha opinião, se queremos manter a luz acesa, o gás fluindo, a televisão ligada, etc., onde as relações de trabalho continuem as mesmas de hoje, teremos que nos arriscar a viver numa sociedade "livre" onde exista heterogestão em parte dela, o que seria paradoxal.
Se desejarmos viver em comunidades livres, realmente baseadas na AUTOGESTÃO, devemos encontrar novas instituições, novas formas de fazer cultura, novas técnicas.
Inclusive temos de discutir quanto a real necessidade de certos bens de consumo individuais que existem hoje e sobre os quais nos deliciamos sem analisarmos as conseqüências de sua existência. DVDs, geladeiras, automóveis, sapatinhos da Grendene, o ar-condicionado, e até mesmo a nossa velha e querida lâmpada.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
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4 comentários:
Gostei do Texto! Apenas acrescento mais uma reflexão que o escrito me proporcionou, de que a questão cada vez vai ficando mais perigosa para o social no sentido do controle. Existem estudos que fazem "previsões" bem reais de que a alguns anos seremos todos controlados por cartões de acesso a lugares: bairros, centros, quadras, bibliotecas - coisinhas que estão sendo testasdas em divesos ambientes como nas universidades e em empresas.
Além, é claro, dos chips que serão obrigatoriamente implantado em todos os carros no Brasil.
o problema nao eh a tecnologia, baqueiro, mas o uso que se faz dela. imagine, por exemplo, se nao houvesse o prelo, destinado a produzir copias e copias do manifesto comunista ou de qualquer manifesto anarquista...como vc e seus companheiros poderiam então reproduzir essa sua visão de mundo? não é umaa contradição que vc, anarquista de carteirinhas, esteja utilizando um weblog para difundir as suas ideias? tecnologia vem de técnica, isto é, um saber fazer prático...esse saber fazer prático pode servir para uma série de propósitos, capitalistas ou anti-capitalistas.
O que você sugere, Carlos Banqueiro?
Vive atacando o capitalismo de forma insana ou de maneira desesperadora. Não tem medo de ser considerado maluco?
O capitalismo trabalha para você viver de forma mais engenhosa possível. E se estamos presos a tecnologias e emaranhados sistemas de sobrevivência, a culpa são dos seres humanos que cresceram tanto que se tornou impossível a liberdade justa de cada indivíduo. Se não fosse os investimentos o seu espaço seria ainda menor e sua vida fechado num circulo menor que o que ocupa fisicamente. Não dar pra se viver sem luz (energia), gás, internet sem danar o meio ambiente e destruir o mundo. Vão cavar poços em cada quintal para ter a água necessária a sua existência? Vão queimar florestas para cozinhas seus alimentos? Vão acender velas, lamparinas, matando baleias, derrubando as árvores... Para usar o óleo? Quantos animais naturais teriam que existir para cada um ser humano caçar e sobreviver durante seus 70 anos de vida, na média?
O capitalismo de que você tanto reclama é o deus que te sustenta e te dá espaço para vagar por ai, até de modo invisível através da internet, de telefone, de jornais, revistas, televisões... É o capitalismo que te liberta e não o contrário. Se não fosse o capitalismo você não teria liberdade de nada. Pergunta o povo da China, de Cuba se eles não queriam um país mais livre e justo com todos?
Pra mim, comunistas tupiniquins não passam de parasitas sugando a Pátria e seu Povo como servidores fantasmas.
Boa sorte!
O que eu tenho de dizer mais sobre o tema está no MySpace:
http://individuocome.spaces.live.com/blog/
Aproveito para pedir que em 2008, NÃO VOTE em políticos que já tenha mandatos e nem em seus assessores. Vamos colocar esses bandidos na rua, a começar pelos municípios!
Comé?
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