quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

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Dores no mundo – A origem psicótica do assassinato, por Dalmo Oliveira



Eu sinto muito! Isso é tudo que se pode dizer diante das já cotidianas cenas de violência exibidas com um certo frisson pelos diversos meios de comunicação de massa na atualidade. Não importa tanto se a violência é patrocinada por uma catástrofe natural, a la tsunamis engolindo parte da Ásia, ou se tem a cara de um terrorista checheno explodindo criancinhas numa escola russa. O fato é que estamos expostos 24 horas por dia à inevitável e interminável violência humana.

Determinados episódios conseguem, entretanto, me sensibilizar mais que outros. Às vezes algo que ocorreu do outro lado do planeta me comove mais que o crime ocorrido com um amigo ou parente, aqui do lado. Fico imaginando o desespero nos olhos dos garotos feitos reféns na escola russa. A agonia das mães gritando, barradas pelo cordão de isolamento da polícia. Mas o que me doe mesmo é nossa impotência diante da violência. É a total impossibilidade de refrear a fúria dos que cometem os crimes em massa. É nossa fragilidade diante do gigantismo destrutivo da força da natureza.

O medo da morte iminente me paralisa. A certeza de que ninguém está 100% seguro no planeta terra faz com que tenhamos a clareza de que a vida é um bem passageiro. Mas é da mesma forma um bem descartável. A vida é um lapso do caos! É o desafio ao desacerto. Numa sociedade de massa, onde a guerra pode ser transmitida ao vivo pela TV, a violência só tende à banalização. Para a psicologia, é a eterna briga entre Eros e Tanhatos que se manifesta diariamente nas relações humanas e do homem com a natureza.

Mas não há sintoma neurótico que explique a covardia dos assassinos, assim como não há justificação científica que nos conforme dos desastres naturais. Se não, como entenderíamos de forma racional o assassinato da missionária norte-americana no Pará? A crueldade e frieza dos pistoleiros de aluguel que eliminam a sangue frio alguém que sequer se conhece? Como compreender a lógica religiosa dos homens-bomba? De que forma analisar a voracidade dos “cães de aluguel” ? A demência sanguinária de todos os mercenários assassinos?

À cada bala, a sensação de que a humanidade falhou. À cada bomba, o sentimento de que nossa alma está irremediavelmente doente. Foi com esse tipo de reflexão que Wilhelm Reich publicou, em 1953, uma de suas mais contundentes obras: "O Assassinato de Cristo" onde explora o significado da vida e morte de Jesus. Reich classifica esse episódio sádico da história da humanidade como a "peste emocional que assola a humanidade", desde sempre.

É como se o homem se defrontasse, através dos tempos, com a responsabilidade pelo assassinato de Cristo. Um crime contra o vivo seja qual for a forma sob a qual a vida se apresenta. Independentemente da corrente religiosa a que se pertença, o Cristo assume nessa condição o papel do divino entre a humanidade. Assassinar o Cristo é o mesmo que renegar a vida, como um todo.

E quantos assassínios já não ocorreram em nome de Deus e do próprio Cristo? Quanta vida destruída em nome do amor, ou da fé ou da propriedade? Quantas Stangs e Margaridas ainda serão necessárias para saciar a sede de sangue desse monstro invisível que se manifesta em cada um de nós, com maior ou menor intensidade?

Reich apontou a morte de Cristo como um sintoma neurótico da humanidade. Como se os humanos carregassem uma espécie de serial killer genético na cabeça e na alma. Uma seqüência infindável de brutais assassinatos inaugurado talvez por Caim, conforme relata o Velho Testamento.

Mas, que culpa temos nós por essa sede infame de vidas alheais? Porque temos que carregar essa maldição ad infinitum ? Onde está nossa responsabilidade social ou individual pela degeneração incontida da sanha assassina?

Eu só tenho perguntas e estupefação. Não consigo entender a lógica destrutiva dos criminosos “comuns” ou dos genocidas. Sei que há diferentes razões entre Focinho de Porco e George W. Bush.

Mas a lógica do assassinato é uma só: o medo de amar!

3 comentários:

Comé? disse...

Que coisa!!!

A violência é provocada por ideologias ou defesas na busca de suprir necessidades ou dar fim a carências demasiadas. Quem não entende a violência são aqueles que nasceram de cu pra lua.

É fato que a humanidade falhou e vem falhando constantemente. Ela é falha, defeituosa e composta por indivíduos. Erra quem pensa que ‘humanidade’ significa alguma coisa boa. Boa pra quem? Nem para os próprios humanos. Não existe o medo de amar, aliás, pode ser o contrário: “o ato de amar a grande culpada pela violência”, pois quem mata, mata porque ama tudo o que tem ou que pensa possuir (?). E mata em defesa dessa vida e do amor que sente por ela.

Np Brasil quem faz a violência é o próprio governos corrupto e as pessoas que prega o amor em vez de pregar a justiça e a honestidade.

É isso ai. Pense que me compreenderá.

Comé?

Roberto C. disse...

Muito bom o Blog! Estou conhecendo agora e me interessei pelos temas desse post e do video. Parabens!

O único porém é o citado acima:
"o ato de amar a grande culpada pela violência"
Quem mata, mata porquê ama muito a oposição. Relmente é difícil se fazer claro, mas interessante os pontos de vista.

Roberto C.

Anônimo disse...

senhores,

...sei não, mas muita coisas normalmente se perdem entre a boca de quem fala e os ouvidos de quem quer escutar... nome disso: a ideologia, pré-existente em nossas cabeças, bloqueando a mensagem antagônica à nossa formatação pré-inicial...

veja bem.... o "amor" de Reich não é o mesmo que está na cabeça dos burgueses cristãos, tido como puro, bom, 'santo'. Mas que na prática é melequento, piegas, dependente, excludente, etc.

é o amor (subserviente) do tipo você (nem pense nessa possibilidade!!!!!!)me bate e eu ofereço a outra face......

portanto construir o 'amor' tridimencional, pois é abrir possibilidades para o cheiroso, palatável e tátil...........

veco

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