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20 Anos Depois: A Procura de Elos Perdidos..., por Carlos Baqueiro
Nos encontramos a 20 anos de distância do fim da publicação do jornal O Inimigo do Rei, e em um mundo todo complicado de se entender. E de sobreviver.
A sociedade parece continuar a serviço de uma minoria, mas agora sem a necessidade de ditaduras militares. Pois esta minoria detêm hoje a matéria-prima fundamental à manutenção do poder dentro desta sociedade: a informação.
Mesmo dentro da Internet, um campo ilusoriamente democrático, os grandes portais, das grandes famílias e grandes corporações, abocanham a maior parte da audiência, enquanto o status de pobreza destitui boa parte da população do seu uso.
É pensando em retirar desta minoria parte daquele poder, conseguido por meio da informação e do saber, que vislumbramos um mundo sem tantas diferenças econômicas.
Podemos assim nos manter distantes desta batalha, e continuar nossa vidinha rotineira, acordando, trabalhando, consumindo e voltando a dormir. Ou podemos nos negar a permitir que aquela minoria faça o uso indiscriminado dos meios de comunicação para uniformizar e homogeneizar os pensamentos. Lutando e resistindo, de alguma forma.
Para mim em uma sociedade onde o poder continua nas mãos de poucos sendo usado para manipular a vida de todo um país (e de todo o planeta), é imprescindível que haja uma ‘re’-ação a este monopólio de autoridade.
Seja por meio da ação direta dos indivíduos, seja pela palavra escrita, da imprensa alternativa que defenda os princípios de liberdade e igualdade, de forma a incentivar as lutas pelo direito de cada indivíduo fazer o que quiser, na hora que achar conveniente, apenas respeitando os seus limites e o direito que o outro também tem dentro do espaço comum a todos.
Para isso temos de entender o que se passa em nosso redor.
Estamos vivendo hoje um tempo de certezas (quase) absolutas. Ou melhor, um tempo em que se aparentam mais certezas do que dúvidas. Onde, após o fim da União Soviética, até mesmo o fim da história já foi estabelecido, pelo filósofo americano Francis Fukuyama, ideólogo do neoliberalismo, para quem tínhamos chegado "ao ponto final da evolução ideológica e à universalização da democracia liberal ocidental como forma final de governo".
É o tempo de algo sombrio ao qual já se nomeou de Pensamento Único. O diretor do jornal Le Monde Diplomatic, Ignacio Ramonet, menos apocalíptico do que realista, aponta o que este tipo de situação traz consigo:
“Nas democracias atuais, cada vez mais cidadãos livres sentem-se atolados, lambuzados por um tipo de doutrina viscosa que, imperceptivelmente, envolve todo raciocínio rebelde, inibi-o, desorganiza-o, paralisa-o e termina por asfixiá-lo. Essa doutrina constitui o 'pensamento único', única autorizada por um invisível e onipresente controle de opinião”.
Mostrando que uma visão crítica do mundo não serve de nada se nos leva a um beco sem saída, o próprio Ramonet participando do 5º Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em 2005, afirmou, em entrevista a João Alexandre Peschanski, que:
“Tudo está indicando que outro tipo de comunicação é possível, que responda mais às necessidades da população do que aos interesses das grandes empresas. Neste caso, poderia pensar-se em um meio de coletar toda essa informação que é produzida e disseminá-la de modo mais efetivo. Quando cada um trabalha por si, somos muitos fracos, é preciso que todos trabalhemos em conjunto”.
Por isso teimamos em buscar um grande exemplo de luta e resistência no jornal O Inimigo do Rei (1977-1988) onde a liberdade de expressão era buscada continuamente, e nada era considerado “proibido”, o que, não tão surpreendentemente, o fazia vender muito das suas edições, e como afirmou o carioca Renato Ramos, um dos seus colaboradores:
“Vejo O Inimigo do Rei como uma virada, uma mudança de postura, de visão, de novos temas. E temas que tinham a ver... que muita gente gostava... movimentos populares, racismo, antifascismo, questão da mulher, do negro do homossexual... eram coisas que se relacionavam muito com os novos militantes. Acho que o IR teve essa importância, de colaborar mesmo para o surgimento de grupos, porque começou a falar de anarquismo de novo. O IR era conhecido pela esquerda marxista, criticado e odiado, e não tinha perdão. Então o anarquismo voltou a ser comentado nos meios estudantis, nos meios acadêmicos, e começou a incomodar”.
Portanto, 20 anos depois, estamos aqui, agora, em um momento em que nós vivenciamos uma traumática derrocada das utopias, e não há nada melhor do que rebuscar na História um pouco de antagonismo. E, particularmente, quando utilizamos alguma parte dela em que homens e mulheres se uniram, para com uma pitada de humor, e outras de ironia e coragem, tentarem destronar o Rei.
Imbuídos dessa perspectiva estamos construindo um Seminário sobre A Doutrina do Pensamento Único que acontecerá nos dias 16 e 17 deste mês de Outubro. Ali teremos apresentações de vários indivíduos que colaboraram com o jornal O Inimigo do Rei, desde os que ajudaram a criá-lo, até os mais “novos”... Teremos a presença de jornalistas, historiadores, cientistas sociais, mas também de operários e desempregados que desejam a troca de idéias.
Esperamos durante evento a presença daqueles que gostam do que se apresenta neste blog, e desejam dias melhores para todo mundo, para podermos discutir juntos sobre a existência da doutrina do Pensamento Único, e sobre os meios para combatê-la.
O local do Seminário será o Sindicato dos Petroleiros, no bairro do Tororó, em Salvador. A entrada será franca.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
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Um comentário:
opa! já que a distância me impede de participar, fico na espectativa das repercussões, se der filma e bota na net, algo assim, sei lá. abraços!
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