segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Sobre a Cegueira Humana..., por Carlos Baqueiro

Nossa... não li o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

Aliás, pouco, ou quase nada, li dele.

Lembro que há algum tempo tomei uma ojeriza de Saramago porque elogiou o ditador Fidel Castro, para mim, indefensável. Mesmo sabendo (exilados cubanos escreveram para ele na época – 1998) que as prisões de Cuba estavam (e ainda estão) lotadas de oposicionistas políticos.

Mas, ainda bem que perdi a antipatia automática por ele. E me dirigi ao cinema para assistir ao filme de Fernando Meireles, baseado no tal do Ensaio sobre a Cegueira, que é na verdade um romance, publicado em 1995.

É uma belíssima (cinematograficamente falando) metáfora da vida humana. Portanto, que todos estejam bem avisados. Não é filme apenas para oftalmologistas procurando uma nova teoria sobre as formas de cegueira. Nem para as mamães que perceberam uma perda de visão de seus filhotes.

O filme fala de forma clara (com bastante claridade na fotografia) da vida e da morte de seres humanos, que são apenas seres humanos, e nada mais que isso. Nada de seres que irão para o inferno se pecarem, nem para o céu se atravessarem um velho cego por uma avenida congestionada.

Uma metáfora sobre o que fazemos na Terra. Nosso planetinha mais ou menos esférico. Uma metáfora sobre preconceitos a respeito de tudo, tudo que pode ser visto, e, no caso do ensaio, também do que não pode ser visto.

O filme fala sobre aquilo que podemos criar e imaginar de bem ou de mal, ou mesmo, e melhor dizendo, muito além do bem e do mal. Alguns estupros podem nos levar a acreditar na excrecência humana e, por certo, nos fazer torcer pelo fim da humanidade. Mas um simples banho de chuva, somado a toques e abraços carinhosos, podem lavar a alma de cada um de nós, espectadores.

Não vão assistir a um filme sobre a cegueira humana de olho nos extremos de penumbra e de claridade do filme. Há a necessidade de deixarmos em casa, atrás da porta, como dizem nossos melhores professores, nossas pacatas e medianas vidinhas, deixando também abertas as artérias, com o intuito de oferecer mais oxigênio ao cérebro, e ai sim, permitindo um mínimo de fruição.

Para mim essa fruição viria de qualquer jeito. Sou fã da Alice Braga desde Cidade Baixa, filmado aqui pertinho de casa. Nem vou citar os bicos dos seios dela, porque vão me chamar de porco chauvinista metido a intelectual, ou vice-versa. O fato é que ela continua lindíssima, mas agora falando inglês.

Julianne Moore é outra que se destaca. Até porque na alegoria produzida pelo diretor brasileiro coube a ela o papel de continuar “enxergando” tudo, possibilitando uma melhor interface com o espectador. Não sei se isso acontece no texto do escritor português. Danny Glover também está no filme, como uma espécie de narrador, ou talvez a voz do autor do romance, não importa. O que importa é que as palavras dele ecoam como poesia. Belíssima poesia, como é todo o filme.

Pena que só tá passando nesses cinemas que cobram R$ 17,00 pela entrada. Mas tem a opção dos dias de promoção. E ainda há os sites da Internet que distribuem o filme por ai pelo mundo. Sem a anuência do produtor, é claro.

É isso ai. Acho que vou ler um pouco de José Saramago por esses dias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando vejo um filme interessante e que seja uma adaptação, procuro ler o livro antes para evitar "ficar voando", por causa da concisão do cinema,nesse caso. Mas, com essas palavras, Baqueiro, vou fazer o caminho inverso dessa vez!!!

Obrigada pela dica!!!

Anônimo disse...

Vi o filme no domingo passado. Lirismo pra enfiar o dedo nas feridas da nossa carcomida e evoluída civilização.
O que me tocou? Quando as mulheres, obrigadas a transar com o Rei (Gael) para alimentar sua ala de cegos com velhas, velhos, crianças e homens adultos.
Algumas casadas, outra, uma prostituta, outra uma gordinha, outra uma coroa. Não há margem pra grandes manobras de imaginação a partir do discurso da imagem né? Enfim, isto mecheu com meus brios de homem, macho proprietário "daquele corpo que é meu, e que é só meu"... rsss
Algo mais indica o lírismo cinematográfico do autor do livro e diretor do filme, se é que se pode dizer isso(?): Por que o homem negro (Glover) e a ruivinha (Julianne) não ficam tão contentes com a retomada da visão do japonesinho (como ele chama?)?
Inclusive só faltou um índio pra ter todas as cotas contidas entre os protagonistas e coadjuvantes. São Paulo estava linda toda parada né!!!
Bem, é isso, saí de lá com a alegria de existir um escritor da envergadura do Saramago, me senti gente. Quanto ao Mereles mostrou ser um grande diretor.
João

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