sexta-feira, 5 de setembro de 2008

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O Racismo é sentido na pele, por Carlos Baqueiro



Há um ano, no final da tarde do dia 13 de setembro de 2007, a professora de história Luciana Brito, uma negra de 26 anos, entrou na loja C&A da Avenida Sete de Setembro, em Salvador, para trocar uma peça de roupa que havia comprado no estabelecimento. Após algum tempo dentro da loja foi abordada por seguranças que a consideraram suspeita de furto. O caso foi parar na Delegacia dos Barris, onde a professora contou ter sido vítima de racismo.

De tempos em tempos podemos ler nos jornais notícias parecidas. Aqui em Salvador, no Rio de Janeiro, ou em São Paulo. O racismo no Brasil não é algo novo. Já foi até mesmo incentivado (explicado "cientificamente" !!!) por intelectuais e especialistas da área médica. Em 1905, por exemplo, o médico baiano Nina Rodrigues teorizava sobre os negros em um trabalho chamado “Africanos no Brasil”:

A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros de seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores de nossa inferioridade como povo”.

Cem anos se passaram e ainda hoje se discute, por exemplo, a viabilidade ou não de cotas para negros e seus descendentes na entrada para as universidades públicas. Sabe-se que no Brasil, desde a extinção da escravidão, os negros não têm sido contemplados com políticas públicas de caráter compensatório.

Na realidade, as estatísticas nos mostram o contrário. Uma análise dos indicadores sociais que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou em 1999, permite aferir que a população branca ocupada tinha um rendimento médio de 5 salários mínimos, enquanto os negros e pardos alcançavam valores em torno de 2 salários mínimos.

Não é difícil perceber também o quanto a mídia vai reforçando este processo de distinção, quase eliminando a presença de gente de cor preta para trabalhos em novelas e na publicidade, por exemplo. E as evidências de um racismo enrustido na sociedade podem ser verificadas nas palavras de gente de todas as etnias.

Jonas de Jesus, negro, petroleiro, 43 anos, concorda que o racismo está incrustado na cultura baiana: “Desde pequeno senti na pele diversas vezes uma certa diferenciação que os próprios professores criavam entre os brancos e negros na sala de aula”.

Na escola, na empresa ou fazendo compras, os negros têm muito que lutar para diminuir os preconceitos contra eles. A comerciária Vera Batista, branca, 23 anos, diz não ser racista, mas não nega que teria receio se aparecessem dois negros entrando na loja em que trabalha, em um shopping center, mesmo bem vestidos. “Os ladrões que aparecem na TV sempre são negros”, defende-se a vendedora, com um leve sorriso, meio sem graça, em referência a um dos personagens do belíssimo filme Crash.

2 comentários:

Anônimo disse...

OLÁ !

A REFERÊNCIA AO FILME CRASH É PERFEITA. NO NOSSO PAÍS, COMO NOS ESTADOS UNIDOS, HÁ RACISMO SIM. MAS TANTO LÁ, COMO AQUI, O RACISMO VEM JUNTO DA DESIGUALDADE SOCIAL. PRETOS RICOS SÃO TÃO BEM ACEITOS QUANTO OS BRANCOS RICOS. AMBOS ESTÃO NO PICO DA PIRÂMIDE EXPLORANDO OS DEMAIS.

BJS & SUCESSO.

Lucia disse...

Juliana, há controvérsias na sua afirmação de que os negros ricos são tão bem aceitos quanto os brancos ricos, pois a vendedora da loja a que o Carlos se referiu em seu texto afirmou que teria medo de ver negros entrando na sua loja, mesmo que bem vestidos. E já ouvimos relatos por várias vezes de "celebridades" negras dizendo que foram maltratados e ofendidos em lojas de shoppings, em que os vendedores não o reconheceram. E outros, como Djavan, que foi preso na rua, confundido com um bandido, por ser negro, e não ter sido reconhecido como artista. Essa é uma verdade incômoda e muito triste. Quando morei em Salvador, o que mais me incomodava era ver o racismo numa cidade em que a grande maioria dos seus habitantes é negra. Isso me doía muito, muito mesmo. Ver um negro xingando outro de negro, isso é terrível! Quando o próprio negro não se aceita, o que dirá o branco, que tem o complexo de colonizador, acha que ainda está no tempo da escravidão, e quer sempre ser poderoso, abusando dos negros.
Acho que pra se avançar nessa questão, teria que ser feito um trabalho muito grande de conscientização com o negros, pra que eles se amem e se aceitem, deixando de se considerarem inferiores aos brancos, e sem hostilidades a outros negros. Enfim, o racismo e a criminalização dos negros no Brasil tem que acabar. É urgente !! E temos que eliminar esse racismo primeiramente dentro de cada um de nós, procurar eliminar qualquer vestígio dessa cultura tão cruel, trabalhar isso dentro e fora de nós.
É URGENTE !!
ABAIXO O RACISMO !!!

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