sexta-feira, 8 de agosto de 2008

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Entrevista sobre O Inimigo do Rei (Final)



Continuação da Entrevista iniciada na Segunda-Feira...

Outra coisa que me chamava à atenção no jornal era o aspecto gráfico, era muito bem desenhado, as fotos, os títulos, as capas eram muito bem sacadas... (risos)

Acho que nisso aí entrava a experiência do pessoal de jornalismo. Os caras sabiam o que era diagramação. E tinham feito seus jornais experimentais dentro da UFBA. Mas além de tudo isso havia a criatividade anárquica (aquela que não deixa barreiras quanto a qualquer mudança na forma de fazer as coisas, como diria Paul Feyerabend).

Mas temos de lembrar que muitos jornais foram diagramados fora de Salvador, naquela onda de rodízio federativo (todo mundo tinha de fazer um pouquinho de cada coisa).

E o que mais você gostava nessa publicação?

Acho que eu gostava de tudo. Até mesmo das brigas internas. (risos)

Mas algumas coisas me chamavam mais a atenção. Uma delas era colocar em prática as idéias anarquistas: Federalismo (tomadas de decisão eram feitas entre todos os grupos que participavam – São Paulo, Bahia, Rio, Rio Grande do Sul, etc.); Ação Direta (acho que a frase certa para isso seria: Odeia a Mídia, torne-se a Mídia...); Autogestão (aqui no grupo da Bahia tudo era feito de forma autogestionária, festas para angariar fundos, pichações, manifestações, reuniões).

Ou seja, “O Inimigo do Rei”, além de ser um propagador de idéias libertárias por todo o Brasil também contribuiu para o amadurecimento político de muita gente, graças ao trabalho que os indivíduos tinham para editá-lo, publicá-lo e distribuí-lo.

Como você avalia “O Inimigo do Rei” com as publicações libertárias atuais feitas no Brasil?

Outro dia entrei numa comunidade do orkut que dizia lutar pela liberdade e igualdade. Em poucas semanas percebi que as pessoas que a criaram e eram seus moderadores montaram regras que impedia de serem discutidos alguns assuntos. E censuraram indefectivelmente textos e opiniões. Inclusive os meus. Esse ranço censor nas pessoas é terrível. No jornal “O Inimigo do Rei”, se existia um dogma era esse: Não ter censura.

As publicações libertárias e anarquistas estão pulverizadas. Pouca coisa é feita com conotação claramente nacional (“Libera...”, “Letra Livre”, pelo menos tentam isso). José Carlos Morel de São Paulo, em entrevista feita com ele em 2004, abordou justamente esse assunto. Para ele o fim do jornal “O Inimigo do Rei” em 1988 tem a ver com isso. Com essa necessidade de as pessoas (anarquistas, principalmente) fazerem coisas regionalizadas, localizadas. E uma dificuldade danada de unir forças, de ir em direção a alguma forma de centralização.

Isso talvez seja considerado uma coisa negativa para alguns. Mas para mim esse cacoete centralista é herança de outras doutrinas (paralelas ao anarquismo). Prefiro essa fragmentação de idéias mesmo. Isso é benéfico para o pluralismo de idéias. “O Inimigo do Rei” conseguiu existir (centralizando boa parte de um movimento anarquista brasileiro) devido às condições conjunturais, naquele momento de fim de ditadura e redemocratização. Mesmo assim foi uma “centralização” bem federalizada (e muuuuito pluralista), até mesmo porque os anarquistas baianos (fundadores do jornal) eram bem radicais com relação a isso.

Você já percebeu como é pobre, em vários sentidos, a imprensa sindical brasileira? É de doer! (risos)

Pobre mesmo. Mas não é só o boletim sindical que é pobre de idéias interessantes. É toda a imprensa. Também com os cursos de jornalismo com mais disciplinas de Marketing do que de qualquer outro tema, só pode dar nisso. Os jornalistas estão se tornando o pessoal de Recursos Humanos (RH) das empresas, e levando isso para dentro dos jornais e boletins. Os pobres boletins hoje não discutem mais formação política, nem tem mais as opiniões da base de trabalhadores. Agora eles são somente fonte das idéias estanques dos iluminados dos partidos que aparelharam os sindicatos.

Hoje se você for discutir política ou filosofia com um jornalista você vai ficar entristecido. E isso vai deixando essa função, tão importante para o fortalecimento da liberdade de expressão, cada dia mais a reboque dos políticos, empresários, donos de jornais, etc. É triste mesmo.

Um tempo atrás li uma entrevista com o José Arbex, e ele disse que “o partido mais forte neste país é a imprensa”. Concorda? (risos)

Na realidade, o partido mais forte no país é o PC, Partido dos Capitalistas. (risos) E como bem sabemos a imprensa (os donos dos jornais, das TVs, dos rádios) faz parte desse partidão. E ele está sendo disseminado nas micro-estruturas da sociedade justamente por todos os grandes órgãos midiáticos. E é isso que está gerando algo chamado de Pensamento Único por um cara chamado Ignacio Ramonet.

Os jornalistas que trabalham para os grandes órgãos de imprensa têm dificuldade de achar brechas para uma mudança de discurso. E, a cada dia que passa, os discursos de jornalistas e de assessores de comunicação das empresas, por exemplo, ficam mais parecidos. A gente não sabe mais se está recebendo informação isenta ou se é publicidade descarada. Infelizmente, para a população, até a Internet começa a ficar parecida com isso tudo, graças aos grandes portais, propriedades das mesmas famílias e corporações que são donos dos jornais clássicos.

Um comentário:

Janela_do_Inútil disse...

muito bom o blog, adicionei logo de cara aos meus links! parabens, continuem...abraços!

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