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Dois militantes do movimento anarquista norte-americano (italianos de nascimento, mas cidadãos do mundo por opção) são executados na cadeira elétrica por ordem da justiça do estado de Massachusetts – E.E.U.U........
Este crime ocorreu há oitenta e um anos*. Para sermos mais exatos: no dia 23 de agosto de 1927. Na época, eles foram condenados pelo governo capitalista dos Estados Unidos da América do Norte sob a acusação de roubarem a quantia de quinze mil dólares da empresa Slater Merril Shoe Company e, também, da morte de dois funcionários da referida empresa.
Este caso, de perseguição política, inicia-se em um bonde com a prisão dos trabalhadores Bartolomeo VANZETTI (vendedor de peixe) e Nicola SACCO (sapateiro), com a justificativa de que era para averiguação por porte ilegal de armas de fogo... Fatídica tarde de 5 de maio de 1920, pois o drama ao qual foram convidados a participar se estenderá por sete longos anos num processo jurídico viciado, cheio de intrigas e falsidades. E cujo único objetivo era calar àqueles que se negavam a participar do falacioso “SONHO AMERICANO” de prosperidade da burguesia capitalista.
Durante aqueles sete anos, nos quais estiveram presos, desenvolve-se uma campanha de cunho internacionalista, onde a solidariedade humana e o desejo de justiça (que são basilares para a formação de uma verdadeira humanidade) nortearam a ação dos COMITÊS DE DEFESA espalhados pelos quatros cantos do globo, visto que este processo “comoveu meio mundo e mobilizou milhões de consciências para além das muralhas da ideologia”1. Os “COMITÊS” constituem-se para denunciar a forma irregular e arbitrária em que o processo estava sendo conduzido pela justiça norte-americana, que sempre se autodenominou como “a quintessência das civilizações requintadas”2 e clamar pela absolvição dos prisioneiros, já que as provas apresentadas não eram conclusivas, mas sim meramente especulativas.
Atados aos preconceitos mesquinhos da sociedade capitalista, o juiz, o promotor e os jurados negaram o direito de defesa aos dois anarquistas, quando com alegações pueris e sem consistência jurídicas, recusaram todas as declarações das testemunhas de defesa que foram apresentadas ao tribunal do júri pelos advogados dos réus. E, por conseqüência também, as testemunhas de acusação com declarações subjetivas, maliciosas e dúbias destilaram o seu ódio ideológico contra os “indesejáveis”, seus inimigos políticos declarados.
Só cinqüenta anos depois, em agosto de 1977, o governador do estado de Massachusetts, o Sr. Michael S. Dukakis, reconhece oficialmente, perante os senadores do estado, que os eletrocutados foram “submetidos a um processo viciado desde o principio e realizado numa atmosfera de intolerância, hostilidade e ódio” e depois, numa entrevista à imprensa, declara: “Deixemos claro em nossa proclamação que não estamos discutindo a culpa ou a inocência dos réus, mas a conduta do tribunal”. Entendemos que ao Sr. Governador do estado de Massachusetts, faltou coragem e dignidade, que são necessárias para reconhecer que a questão em julgamento era de caráter político, ou seja: estava em julgamento às convicções ideológicas desses desinteressados trabalhadores, militantes do movimento anarquista. E não um mero erro jurídico na interpretação do código penal, que sempre representa os interesses econômicos e a manutenção do status quo da burguesia capitalista e de seus apaniguados.
O extermínio (é a palavra certa, tenham certeza!!) dos opositores ao regime de exploração capitalista tem sido uma prática em vários momentos da história deste sistema econômico excludente, que coloca a grande maioria da população na miséria para lhe garantir o lucro fácil no final do balanço anual.
O caso SACCO & VANZETTI, é uma pequena amostra dos estragos que se faz as vidas humanas, quando a sociedade se cala e com o seu silêncio referenda a perna capital... Colocar nas mãos do Estado, seja ele de direita, centro ou esquerda, um instrumento tão poderoso como a pena de morte, é um contra censo perigoso, pois provavelmente poderá vir a silenciar as vozes dos que clamam por liberdade, terra, paz, saúde, educação, etc. Mesmo que este silêncio seja por um curto espaço de tempo, é um grande estrago na construção de uma via revolucionaria. Utilizando-se do rótulo de defensores perpétuos da liberdade, da lei e da razão (meros fetiches para os burgueses capitalistas!!) para tentar calar a voz de protesto de um movimento político, no qual SACCO & VANZETTI eram membros ativos na conscientização dos explorados e oprimidos. E o único crime que cometeram foi tomarem para si: a bandeira negra da liberdade: O ANARQUISMO.
NOTAS:
1) MÁRIO PONTES, introdução ao livro de KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL.
2) MÁRIO RODRIGUES, Jornal AMANHÃ, de agosto de 1927.
FONTES:
1) KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL, Editora SALAMANDRA, 1977.
2) CLÓVIS MOURA: SACCO E VANZETTI – O PROTESTO BRASILEIRO, Editora Brasil Debates, 1979.
* Este texto foi publicado inicialmente no boletim da APPL (Associação em Prol do Pensamento Libertário): O LIBERTÁRIO, Nº. 17, AGOSTO DE 1997.
Dois militantes do movimento anarquista norte-americano (italianos de nascimento, mas cidadãos do mundo por opção) são executados na cadeira elétrica por ordem da justiça do estado de Massachusetts – E.E.U.U........
Este crime ocorreu há oitenta e um anos*. Para sermos mais exatos: no dia 23 de agosto de 1927. Na época, eles foram condenados pelo governo capitalista dos Estados Unidos da América do Norte sob a acusação de roubarem a quantia de quinze mil dólares da empresa Slater Merril Shoe Company e, também, da morte de dois funcionários da referida empresa.
Este caso, de perseguição política, inicia-se em um bonde com a prisão dos trabalhadores Bartolomeo VANZETTI (vendedor de peixe) e Nicola SACCO (sapateiro), com a justificativa de que era para averiguação por porte ilegal de armas de fogo... Fatídica tarde de 5 de maio de 1920, pois o drama ao qual foram convidados a participar se estenderá por sete longos anos num processo jurídico viciado, cheio de intrigas e falsidades. E cujo único objetivo era calar àqueles que se negavam a participar do falacioso “SONHO AMERICANO” de prosperidade da burguesia capitalista.
Durante aqueles sete anos, nos quais estiveram presos, desenvolve-se uma campanha de cunho internacionalista, onde a solidariedade humana e o desejo de justiça (que são basilares para a formação de uma verdadeira humanidade) nortearam a ação dos COMITÊS DE DEFESA espalhados pelos quatros cantos do globo, visto que este processo “comoveu meio mundo e mobilizou milhões de consciências para além das muralhas da ideologia”1. Os “COMITÊS” constituem-se para denunciar a forma irregular e arbitrária em que o processo estava sendo conduzido pela justiça norte-americana, que sempre se autodenominou como “a quintessência das civilizações requintadas”2 e clamar pela absolvição dos prisioneiros, já que as provas apresentadas não eram conclusivas, mas sim meramente especulativas.
Atados aos preconceitos mesquinhos da sociedade capitalista, o juiz, o promotor e os jurados negaram o direito de defesa aos dois anarquistas, quando com alegações pueris e sem consistência jurídicas, recusaram todas as declarações das testemunhas de defesa que foram apresentadas ao tribunal do júri pelos advogados dos réus. E, por conseqüência também, as testemunhas de acusação com declarações subjetivas, maliciosas e dúbias destilaram o seu ódio ideológico contra os “indesejáveis”, seus inimigos políticos declarados.
Só cinqüenta anos depois, em agosto de 1977, o governador do estado de Massachusetts, o Sr. Michael S. Dukakis, reconhece oficialmente, perante os senadores do estado, que os eletrocutados foram “submetidos a um processo viciado desde o principio e realizado numa atmosfera de intolerância, hostilidade e ódio” e depois, numa entrevista à imprensa, declara: “Deixemos claro em nossa proclamação que não estamos discutindo a culpa ou a inocência dos réus, mas a conduta do tribunal”. Entendemos que ao Sr. Governador do estado de Massachusetts, faltou coragem e dignidade, que são necessárias para reconhecer que a questão em julgamento era de caráter político, ou seja: estava em julgamento às convicções ideológicas desses desinteressados trabalhadores, militantes do movimento anarquista. E não um mero erro jurídico na interpretação do código penal, que sempre representa os interesses econômicos e a manutenção do status quo da burguesia capitalista e de seus apaniguados.
O extermínio (é a palavra certa, tenham certeza!!) dos opositores ao regime de exploração capitalista tem sido uma prática em vários momentos da história deste sistema econômico excludente, que coloca a grande maioria da população na miséria para lhe garantir o lucro fácil no final do balanço anual.
O caso SACCO & VANZETTI, é uma pequena amostra dos estragos que se faz as vidas humanas, quando a sociedade se cala e com o seu silêncio referenda a perna capital... Colocar nas mãos do Estado, seja ele de direita, centro ou esquerda, um instrumento tão poderoso como a pena de morte, é um contra censo perigoso, pois provavelmente poderá vir a silenciar as vozes dos que clamam por liberdade, terra, paz, saúde, educação, etc. Mesmo que este silêncio seja por um curto espaço de tempo, é um grande estrago na construção de uma via revolucionaria. Utilizando-se do rótulo de defensores perpétuos da liberdade, da lei e da razão (meros fetiches para os burgueses capitalistas!!) para tentar calar a voz de protesto de um movimento político, no qual SACCO & VANZETTI eram membros ativos na conscientização dos explorados e oprimidos. E o único crime que cometeram foi tomarem para si: a bandeira negra da liberdade: O ANARQUISMO.
NOTAS:
1) MÁRIO PONTES, introdução ao livro de KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL.
2) MÁRIO RODRIGUES, Jornal AMANHÃ, de agosto de 1927.
FONTES:
1) KATHERINE ANNE PORTER: SACCO E VANZETTI – UM ERRO IRREPARAVEL, Editora SALAMANDRA, 1977.
2) CLÓVIS MOURA: SACCO E VANZETTI – O PROTESTO BRASILEIRO, Editora Brasil Debates, 1979.
* Este texto foi publicado inicialmente no boletim da APPL (Associação em Prol do Pensamento Libertário): O LIBERTÁRIO, Nº. 17, AGOSTO DE 1997.
2 comentários:
Eu conheço o livro mas no filme a respeito além da questão das testemunhas... Há uma clara referência a sabotagem das provas legais, a erros do testemunho pericial... entre outras coisas.
Sempre é bom lembrar!
Bela lembrança, el brujo!!
É sempre muito emocionante lembrar desses dois trabalhadores militantes anarquistas, vítimas do Estado capitalista!! Condenados por serem anarquistas, sem nenhuma prova concreta, tudo armado!!
Até chorei lendo o texto, me emociona muito cada vez que penso neles. Há pouco tempo revi o filme que conta a história deles, para quem não viu, vale a pena ver!! É um filme muito bem feito, que mostra com detalhes toda a injustiça nesse caso deles, e a armação jurídica. E, principalmente mostra a mensagem que eles deixaram. Na última carta que Sacco deixou para o seu filho é realmente emocionante, é uma mensagem de luta contra o sistema, e a solidariedade incondicional aos oprimidos. A luta dos dois até o final, a esperança de Vanzetti até o final na justiça. A defesa dele dos princípios da anarquia é realmente emocionante. Dá muita força a todos nós de continuarmos essa luta contra esse Estado monstruoso,tirano, seja ele de que vertente for.
Viva a Anarquia !!
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