segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Até um fim, talvez..., Por Eduardo Nunes



Até um dia, até talvez, até quem sabe (...), como diz a letra dessa canção. Vou me perder, vou te perder pela cidade. Na cidade, perdido circulo à deriva pelos becos. Entro e saio em becos. Cruzo por barracos, de zinco, sem pintura, sem telhado. Lá no morro, as gerações sofrem ainda por falta de água, cultura, lucidez, loucura. Cidade de deuses, mitologias guerreiras urbanas, ancestralidades vitimadas pela escassez de feijoada, de literatura, de solidariedade.

4X4 é o tamanho do barraco, onde Doralice, eu bem que te disse, amar é tolice, morou... e criou seu filho e depois seu neto, que não chegou aos dezoito, nem mesmo aos oito! Se foi, para donde? Não foram as águas que o levaram, nem as enxurradas, foram balas, metralhadas por um justiceiro. Guerra de guerrilha na arte de Sun Tzu, do território traiçoeiro: fácil de entrar, mas difícil de sair. Mundo voraz, da cidade sem lei, sem as coisas belas que eu sei que há.

Verdade desdita, sem palavras, na fronteira da terra do nunca. Ponto de fuga, rota sem bússola (norte-sul), ideologia, eu quero uma pra viver. Redes de trocas solidárias nas ruas íngremes, ladeiras sem-fim, abaixo o pântano a céu aberto, infestado de ratos/relógios que marcam o dia do juízo final.

Tensão na cidade-mundo, na cidade-alta, na cidade-baixa, na cidade-média, na cidade-grande e pequena ribalta. Um quê de espanto, de pranto, de fim de mundo. Foram todos condenados pela cidade, ficaram todos presos na cidade, na sitiada-cidade do medo. Cidade-espelho, espectro, inflexível, ser-vil, sutil mensagem do amanhecer. Vou pro morro rezar! Cânticos, músicas, louvações, pro que deve ser louvado. Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

Louvo o amor que espanta a guerra.

Até um fim... até talvez,
Quem sabe.

PS: algumas frases são de letras de músicas que falam da cidade e da luta por uma vida melhor.

Um comentário:

Lucia disse...

Viva, viva Eduardo!!
Lindo o seu texto!! É um texto bem artístico, comparando as armadilhas da cidade, com a pobreza, a tristeza de um povo sem saída, e ao mesmo tempo dando uma esperança através dos cânticos, músicas e louvações. Amei !!!
Parabéns !!

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