quarta-feira, 9 de julho de 2008

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Urbanismo anarquista: utopia cada vez mais perto, por Eduardo Nunes

Planejamento, burocracia, organização são palavras bastante criticadas pelos anarquistas, não sem razão. Desde a consolidação no início do século XX e sua plenitude a partir de meados desse século, a burocracia, estudada por Weber, e, aprofundada por outros tantos autores, tais como: Lefort, Lapassade, Castoriadis, e também, o nosso, Tragtenberg, provocou uma mudança profunda nas formas de sociabilidades no mundo moderno. A burocratização do mundo, da vida, das empresas, dos sindicatos, dos partidos, das cidades e países, do lazer, do amor rendeu não só teses e nem só literatura, a exemplo, da obra de Kafka (O Processo), Orwell (1984) entre outros, mas, sobretudo, muita mistificação, manipulação através da ciência, escola e mídia.

As ditaduras comunistas, a ex-URSS, China, a ex-Yugoslávia, Cuba e muitas outras foram e são ainda exemplos do que a burocratização e o planejamento centralizado podem fazer com sociedades que pretendiam a abolição das classes sociais, dos privilégios, da exploração. Frase antiga, mas muito repetida por toda uma literatura socialista a de que “o governo dos homens será substituído pela administração das coisas” resultou na reificação do homem tanto nos países do socialismo de estado, como nos países capitalistas e, provocou a despolitização das massas acuadas por um tipo de estado altamente belicizado, atomicamente armado.

Com as revoltas estudantis da década de 1960, os protestos anti-nucleares e pacifistas, os diversos movimentos ecologistas, feministas e étnicos nesse período, novas idéias influenciaram e invadiram os salões acadêmicos, gerando novas teorias, novas abordagens respaldadas em antigos pensamentos considerados utópicos do século XIX, como a auto-organização, auto-governo, participação, autogestão.

O anarquismo, desde seus primeiros pensadores, principalmente, Proudhon, Reclus e Kropotkin, influenciou o pensamento urbanista moderno. Os situacionistas (Debord, Vaneigem) e diversos outros movimentos criaram uma nova perspectiva para o mundo urbano. O termo anarquitetura foi proposto por Gordon Matta-Clark nos anos 60.

“O urbanismo anarquista se põe a serviço daquelas pessoas e comunidades que não são regularmente levadas em conta no processo de decisão relacionado à construção das cidades e da arquitetura que estas mesmas pessoas e comunidades terão de habitar.

Frequentemente, o urbanismo anarquista é gerido pela auto-construção. Em outras situações, ele consiste na apropriação/transformação de espaços produzidos por outros agentes e com outras finalidades, como especulação econômica, dominação ou o espetáculo.”. (Anarquitetura, por Osfavelados 2001-2002 (Filipe Marcel) 09/08/2003 In: CMI Brasil)

Sam Blower e o mini manual do anarquista urbano propunha por sua vez:

"una práctica arquitectónica aliada con aquellos cuyos puntos de vista y aspiraciones nunca son tenidas en cuenta en los procesos de toma de decisiones y construcción de la ciudad. Los planteamientos, tácticos, del minimanual eran los de la guerrilla: nomadismo, conocimiento milimétrico del lugar, estrecha vinculación con las comunidades locales y subversión -hoy podríamos decir hackeado de los espacios del poder" [Pérez de Lama, Vanguardia angelino alienígena, en: Pasajes, noviembre 2000].

Por conseguinte, para além do capital e do estado um novo urbanismo configura novas paisagens nas desoladas, pobres e famintas cidades da América Latina, África e Ásia.

Um comentário:

Help disse...

Cara, muito bom ler isto. Sou arquiteto e estudo o anarquismo há mais tempo que a arquitetura, mas desde o princípio vislumbrava esta co-relação evidente. Este é o futuro. E este blog é dos mais interessantes que eu conheço. Continuem! Saudações A!

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