segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Inimigos de todos os reis, por Carlos Baqueiro



O Inimigo do Rei nasceu, como muitos outros jornais nas décadas de 60 e 70, sob uma ferrenha ditadura iniciada em 1964 com um Golpe Militar apoiado por alguns segmentos da sociedade.

Em outubro de 1977 começava a ser publicado, por estudantes e trabalhadores baianos. Um jornal com “nome estranho”, como enfatizou um de seus colaboradores. Doutrinariamente anarquistas, aqueles indivíduos “pregavam” coisas semelhantes às que Proudhon, Bakunin ou Malatesta, por exemplo, tentavam demonstrar no final do Sec. XIX, isto é, a força da ação direta, da autogestão e do federalismo.

Lutavam por tudo aquilo que estava sendo vivido por muitos indivíduos e grupos pelo mundo afora, com uma nova cara, desde o significativo ano de 1968, em Paris. Como afirma o próprio jornal em sua primeira edição, na matéria Comunicado:

A luta deste fim de século é basicamente contra o autoritarismo em todas as suas formas. Nota-se isto sensivelmente na pedagogia moderna, na antipsiquiatria e nos movimentos estudantis de todos os lugares onde a ignorância e o subdesenvolvimento não existem, não gerando, assim, a mediocridade autoritária, centralista, e a alienação dos liderados.”

Ele se encontrava entre os chamados Jornais Alternativos, ou Nanicos, tais como O Pasquim, Movimento, Opinião, entre outros, que tentavam continuar vivos em contraposição aos grandes jornais, os quais, com freqüência, tiveram que se calar diante da força das regras impostas pelos ditadores.

Estamos hoje, há 31 anos de distância do início da publicação do jornal, e há 20 de seu fim, em 1988, após 22 edições publicadas. As questões a que "O Inimigo" se referia estão ainda ai expostas, à mesa. Autoritarismo, fundamentalismos religiosos e políticos, xenofobia, repressão sexual, manipulação da informação, racismo, consumismo...

Em O Inimigo do Rei seus colaboradores usavam da liberdade de expressão para ousar e falar de assuntos que eram, e que ainda hoje, são considerados tabus, para uma parte da sociedade, para a grande imprensa, chegando a incomodar até mesmo alguns anarquistas da época (e, quiçá, os de hoje também).

Estudar e dar visibilidade a um dos jornais que se encontravam dentro desta perspectiva e definição de mídia alternativa, e sempre no combate às mazelas do mundo, é fazer relembrar justamente a trajetória deste sentimento de resistência que se sobrepõe ao medo de lutar contra o autoritarismo e contra o conformismo.

Foi desejando essa visibilidade que foi criado um pequeno vídeo-documentário de pouco mais de 20 minutos sobre um jornal em redor do qual homens e mulheres se uniram, para com uma pitada de humor, e outras de ironia e coragem, tentarem destronar o Rei.

Vejam a seguir a primeira parte do documentário:


A segunda parte do vídeo encontra-se no endereço que segue:

http://br.youtube.com/watch?v=nSqgyUS7tQ4

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezad@s,

Gostei muito do vídeo. O "inimigo" teve importância na formação teórica da minha geração. Quem soube amealhar em seus textos, como imagino que boa parte dos conhecidos anarquistas soteropolitanos "iniciados" a partir de 1988 e boa parte da década de 90, mesmo alguns intransigentes (a maioria, punks recalcados)bebeu no IR.Inclusive eu.
Estou encadernando os meus 18 números.A posteridade agradecerá.

jailson

Anônimo disse...

o jornal “inimigo do rei” foi uma e se fez escola, como instrumento de educação/ formação política dos militante; organização das lutas ensejadas; e lógico na divulgação das idéias acratas na bahia, quiçá nesse brasil...

Pão, tesão e autogestão é a sua marca de melhor peso e apreço!!!

tavares

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