segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Seminário Sobre a Economia Solidária..., por Carlos Baqueiro



Na sexta-feira à noite e sábado (22 e 23 de Fevereiro) aconteceu o Seminário ELOS (Educação Libertadora Organizando Solidariedade), no Colégio Estadual da Bahia (Central), em Salvador.

O seminário foi construído na forma de Mesa Redonda (na sexta) e Oficinas (sábado). A mesa, formada por Robson Patrocínio do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS-RJ), Jorge Henrique Mendonça, da Secretaria do Trabalho do Estado da Bahia (SETRE-BA) e a mediadora Gisele Schnorr, do Instituto Filosofia da Libertação (IFIL – PR), abordou o tema Economia Solidária.

O primeiro palestrante, Robson Patrocínio, fez sua apresentação de forma alternativa, descendo do patamar da Mesa para próximo da platéia. Desse modo, já fazendo uma crítica à hierarquia criada entre “os que falam e sabem” e “os que ouvem e não sabem”, a partir da existência da Mesa.

Questionando os presentes sobre o que entendiam por Economia Solidária, ouviu respostas como “descentralização”, “cooperação”, etc., coincidindo com sua própria opinião.

Ele avalia a necessidade de se entender a Economia Solidária dentro das comunidades como algo que nasce de baixo para cima, a partir das reais necessidades dos indivíduos que compõem aquela comunidade. Para ele, o sucesso dos projetos criados a partir da economia solidária só ocorrerá se aqueles indivíduos se engajarem de verdade.

Também critica o modo como vão se formando as lideranças dentro dos grupos que se pretendem alternativos, como aqueles que escolheram a economia solidária para se basear. Os líderes vão se tornando verdadeiros donos dos grupos e dos projetos criados pelos grupos. No fim das contas, a estrutura dos movimentos não muda e as coisas continuam como antes.

O importante, assim, para o palestrante é entender os projetos de economia solidária como ações autogestionárias e horizontalizadas, com o poder de decisão se democratizando entre todos os que participam dos projetos.

O segundo palestrante, Jorge Henrique, é representante do atual governo do Estado da Bahia, membro da Superintendência de Economia Solidária (SESOL), que faz parte da SETRE-BA.

Fez uma apresentação com auxílio de slides mostrando como o atual governo vem se preocupando com a necessidade de implementar os projetos de economia solidária. É, pelo menos no discurso, o que podemos ver em folder da SETRE-BA: “A Economia Solidária é uma prática regida pelos princípios de autogestão, democracia, cooperação, solidariedade, respeito à natureza, promoção da dignidade e valorização do trabalho humano, tendo em vista um projeto de desenvolvimento sustentável global e renda”.

Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), já havia ressaltado, em palestra aqui na Bahia, em 2007, que o problema para desenvolver a economia solidária no Brasil, que existe desde o início da sua trajetória, é a falta de capital, pois "os empreendimentos no nosso país são muito pobres. Precisamos construir um outro sistema financeiro chamado de Ética, que não vise apenas o retorno financeiro, mas, que principalmente busque o retorno social".

Mesmo com todo discurso de emancipação social e de sustentabilidade financeira, fico preocupado com a intervenção governamental em algo que deveria nascer de forma autônoma e independente. Governos têm uma característica intrínseca de aparelhamento das coisas em que interfere financeiramente. Mesmo os de esquerda.

Não é sem razão que o pensador inglês William Godwin, no livro Investigação Acerca da Justiça Política, publicado em 1793 (Sec.XVIII, mesmo), já se sentia inseguro com a participação hegemônica dos governos em ações educacionais:

“Todo projeto nacional de ensino deveria ser combatido em qualquer circunstância pelas óbvias ligações com o governo, uma ligação mais temível do que a velha e muito contestada aliança da Igreja com o Estado. Antes de colocar uma máquina tão poderosa nas mãos de um agente tão ambíguo, cumpre examinar bem o que estamos fazendo. Certamente que o governo não deixará de usá-la para reforçar seu próprio poder e para perpetuar suas instituições”.

Infelizmente, não pude participar das oficinas que ocorreram no sábado, quando alguns projetos e cooperativas iriam se apresentar, mostrando o que vêm fazendo neste momento no que diz respeito à Economia Solidária, como o Ecoluzia, na cidade de Simões Filho, vizinha de Salvador, por exemplo.

Mas, foi com grande prazer que percebi como homens e mulheres estão se juntando, mais uma vez, para agir e refletir sobre a necessidade de transformar suas vidas, e de suas comunidades, principalmente a partir de um projeto que se declara autogestionário em sua essência, da mesma forma que nós, do blog Mídia Rebelde, também nos declaramos.

Deixamos abaixo o endereço eletrônico de contato com o pessoal que planejou o seminário:

http://www.educadoressociaissalvador.org.br/index.php

3 comentários:

gil disse...

Caro CB!

A Economia Solidária tem emancipado muitas comunidades por este Brasil à dentro. Iniciativas extraordinárias vêm se desenvolvendo e otimizando a velha e desigual cultura estabelecida entre o capital e o trabalho.
Aqui em Cruz das Almas, por exemplo, estamos trabalhando em apoio aos trabalhadores de reciclagem de lixo ao que denominamos "Cata Renda" em comunidades carentes como: Sapucaia, Linha, Tabela.
A autogestão é possível desde que proporcionemos uma nova cultura de liderança com um novo perfil líder, oinde a solidariedade e o apoio mútuo se extenda entre os afins envolvidos na dinâmica construtiva da Economia Solidária.

Anônimo disse...

Parábens por ampliar o espaço de ação do Mídia Rebelde, incluindo além das análises de notícias e de dados que nem mesmo sabemos de onde nascem.
É muito bom incluir matérias em que o observador-jornalista está em loco no momento. Dá mais vida e atualiza as discuões e reflexões.
Abraços a todos do projeto mídiA Rebelde.

Suely disse...

Olá turma do Mídia Rebelde!
Parabéns pela cobertura do seminário ELOS. Pena vocês não terem participado das oficinas do sábado que foi onde as pessoas que de fato fazem economia solidária nas comunidades estavam apresentando seus trabalhos. Fica para próxima...
Foi uma honra receber vocês no seminário, a descrição do conteúdo da matéria revela a intesidade, engajamento e responsabilidade de vocês na comunicação de ações comprometidas e criativas na construção de um mundo mais justo, ético e solidário.
Nossos sinceros agradecimentos.
Abraço fraterno da equipe do Projeto Educadores Sociais em Salvador

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