segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

______________________________

ALÉM DOS MUROS, por Anderson Souza.



Um a um os tijolos são sobrepostos até que enfim o muro se dê por concluído. Mas, assim como Raul, quantos muros já não pulamos com os Zezinhos, Pedros, Alices, Marias, Ângelas, Pachecos, Lenas e tantos outros nos fundos dos quintais das escolas? Geralmente fugíamos das normas de uma educação manipuladora.

E por falar nos sistemas pedagógicos a que estamos submetidos desde nossa infância, lembro-me do Pink Floyd e começo a cantarolar “We don’t need no education. We don’t need no thought control. No dark sarcasm in the classroom. Teachers leave the kids alone. All in all you're just another brick in the wall”. (“Nós não precisamos de educação. Nós não precisamos de controle mental. Nada de sarcasmo negro na sala de aula. Professores, deixem as crianças em paz. No total, vocês são somente mais um tijolo no muro”).

Do muro das lamentações – parte do muro que cercava o templo de Herodes, na cidade velha de Jerusalém, considerado o lugar mais sagrado do judaísmo e onde os judeus rezaram e se lamentaram pela destruição de seu templo – aos muros de fuzilamento, onde muitos foram mortos pelas forças da repressão, censura e preconceito, podemos perceber fatos que marcaram a história mundial.

Nazismo, fascismo, ditadura militar e tantos outros sistemas de imposição que ainda se perpetuam, mesmo que camufladamente, também fazem parte dessa história. E muitos muros foram construídos para servir de alicerce ao autoritarismo e ao extermínio dos seus opositores.

Em 1961, na Alemanha, um muro foi construído de uma hora para outra dividindo o país em dois, Oriental e Ocidental. Assim, famílias foram separadas, vidas deixadas sem rumo e sem esperança, vítimas de picuinhas políticas. Mas, 28 anos depois, felizmente, pudemos ver a queda do muro de Berlim.

E a muralha da China, a maior construção humana que pode ser vista de fora do planeta. Seria isto motivo de orgulho? No Rio de Janeiro, traficantes também construíram sua muralha, claro que em proporção extremamente menor, mas a polícia não gostou nada disso e logo tratou de por todo muro a baixo. O que é isso seu polícia? Os meninos só queriam se proteger!

Mas, deixando de lado as gracinhas, a edificação de muros em nossa sociedade é crescente. Na busca de proteção, vivemos numa redoma de areia e pedras. Assim, assistimos a uma completa distorção social, onde nossa sensação de liberdade está associada a uma espécie de prisão domiciliar.

Em cima do muro! Para muitos é o melhor lugar que podem ficar. Visão privilegiada? Talvez! Mas a verdade é que esse ponto específico é o mais disputado por quem não tem opinião. Por não entender de determinados assuntos ou por não querer se assumir contra outras partes, pende descaradamente para o lado que no momento lhe for conveniente e oportuno. E Chico Science já cantava: “e você samba de que lado, de que lado você samba, de que lado você vai sambar?”.

Diversas são as representações dos muros em nossas vidas, concretas ou subjetivas. Muitas vezes barreiras internas são formadas e, sem controle, coíbem nossas ações. Na maioria das circunstâncias nos tornamos incapazes de reagir, com isto, nos submetemos à obediência e a acreditar que aqueles que ditam as ordens merecem nosso respeito e nossa submissão. Mas, diante de tudo isso, sugiro que um a um os tijolos sejam removidos, até que enfim todos os muros se dêem por demolidos.

2 comentários:

Jadiel disse...

Belo texto, bicho! Sem duvidas os muros de concreto são meras materializações daqueles nossos muros internos, subjetivos. E quantos de nós não construímos com tanta profusão e aleatoriedade a ponto de erigirmos verdadeiros labirintos psíquicos?! Símbolos de agregação e segregação, os muros são verdadeiros sintomas da propensão humana ao rebanho! Dentro dessa perspectiva, nada mais aceitável e louvável do que o convite à rebeldia e à depredação. Primeiro daqueles nossos muros internos, para, depois, com mais propriedade e sagacidade, botarmos abaixo alguns muros de concreto, verdadeiros baluartes da estupidez humana!

Um abraço, camarada!

MPadilha disse...

Eu gostei tanto do seu texto e foto que abri uma comunidade no orkut para discussões, com os dois. Gostaria de dar os créditos devidos, então, o texto eu sei que é Anderson Souza, mas e a foto? É uma pintura? Quem fez?
Favor me dizer ok?
O link da comu é esse:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=46169813

Arquivo do blog

Informações sobre o Blog