sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Amigos de Infância ! (do conto, eu conto um ponto...), por el_brujo



toda forma de amor vale a pena
de Caetano Veloso

Noutro dia, andando à esmo pela cidade de são salvador, deparei-me com um velho amigo de infância: o Zé. Olhei uma vez, outra e mais outras e não reconheci. Mas eu tinha certeza que era o Zé, o meu amigo de infância. A dúvida perturbava as idéias, e como a um amigo nunca se esquece, fui conferir.

Não podia deixar passar batido aquele momento, cheguei até ele e o interroguei: você não é o Zé? A resposta soou um pouco desafinada para um tenor, mas afirmativa: sim sou o Zé! Mas pode me chamar Michelle... Um sorriso luminoso encanta o seu rosto e imediatamente é apresentada uma proposta de negociação explicita: o programa completo é uma onça... cabelo e barba, topas!

Eu, ainda apalermado, interroguei-o novamente: é você mesmo, Zé? Tá meio mudando! De pronto, sem o menor vacilo ou hesitação, veio-me a resposta direta e franca: completamente mudado, da cabeça aos pés e o que atrapalhava, cortei e dei prós gatos! Mais sorrisos, seguidos de sonoras gargalhadas, compõem a cena do reencontro de dois amigos, que não se vêem por mais de duas décadas de anos.

Agora sim, completamente apalermado, diante daquela figura em trajes femininos que nascerá Zé Antônio e fora meu amigo de infância. A insistência para fecharmos um contrato temporário de “amor”, vindo dele, provava que ele não me reconhecerá do tempo em que catávamos sapotis no chão das ruas do Dendezeiros, bairro de classe média e situado no sopé da Igreja mais famosa da Bahia!

Valei-me, meu Senhor do Bonfim, aceitei mesmo não sabendo para quê ou do por quê, a idéia de pagar-lhe uma onça. Para quebrar o gelo, que aquela situação provocava em mim, reforcei o contrato temporário com um convite para umas “gelosas”. Entramos numa dessas arapucas mal iluminadas e fedidas, que ficam abertas toda a noite, isto à espera dos desorientados nas noites frias e solitárias desse antigo centro financeiro da primeira capital deste imenso país, espaço da cidade vazio e triste nos seus dramas pessoais e coletivos.

Zé Antônio, aceitou com a condição que fosse uma e somente uma a “gelosa”, e que depois iríamos para às vias de fato – já que uma onça tinha que ser abatida. E, além do mais, a noite ainda era uma criança e tinha-se que faturar uns bons trocados para comprar o leite do gatinho que ele estava criando como a um filho...

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