sexta-feira, 4 de abril de 2008

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O Carteiro e o Poeta, por Carlos Baqueiro



Faz uns dias assisti novamente o filme O Carteiro e o Poeta.

Quando se fala de Pablo Neruda sempre associo sua imagem a aquele filme. Liberdade, rebeldia, paixão... sentimentos a flor da pele humana que Neruda sempre conseguiu ressaltar em suas poesias.

"Meu caminho se junta ao caminho de todos.

E em seguida vejo que desde o sul da solidão fui para o norte que é o povo,

o povo ao qual minha humilde poesia quisera servir de espada

e de lenço para secar o suor de suas grandes dores

e para dar-lhes uma arma na luta pelo pão".

Dirigido por Michael Radford, e lançado em 1994, o filme ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora, além de ter sido indicado em outras quatro categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Massimo Troisi, o carteiro) e Melhor Roteiro Adaptado.

O conjunto do filme é absolutamente bem feito. Mas acredito que devemos dividi-lo em duas partes. Uma segunda parte não tão bem elaborada, mas a primeira, belíssima.

Beleza encontrada na trilha sonora de Luiz Enríquez Bacalov, inclusive premiando-o com o Oscar; na genial fotografia de Franco Di Giacomo; e no rendimento plausível de todo o elenco, com destaque para Massimo Troisi, que faleceu um dia depois que o filme acabou de ser rodado (pois é, tem coisas na vida que são inexplicáveis) e conseguiu uma póstuma indicação ao Oscar pela sua atuação e ainda uma pelo roteiro que assinou ao lado de Anna Pavignano, Furio Scarpelli, Giacomo Scarpelli e do diretor. Massimo conduz o personagem com carisma, a ingenuidade que ele transmite faz com que o espectador torça por seu personagem. Um belo trabalho.

“O Carteiro e o Poeta” poderia facilmente se tornar mais uma daquelas pérolas que o novo cinema italiano solta de tempos em tempos. Poderia entrar naquele time liderado pelos “Cinema Paradiso” e “Mediterrâneo”, porém acaba ficando no meio do caminho por causa da meia hora final que realmente não teria a necessidade de existir. Mas quem somos nós para censurar a arte. Não quero ser bombeiro do Fahrenheit 451 , irritando Ray Bradbury.

Mas, avaliando o filme por sua 1 hora de 10 minutos iniciais, podemos dizer que o filme é soberbo. Por razões políticas o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) se exila em uma ilha na Itália. Lá um desempregado (Massimo Troisi) quase analfabeto é contratado como carteiro extra, encarregado de cuidar da correspondência do poeta, e gradativamente entre os dois se forma uma sólida amizade.

A segunda parte parece existir apenas para manter viva uma cartilha do cinema italiano-europeu, deixando-nos a impressão de algo bem trágico e melancólico (um retorno do espectador/fruidor ao mundo real), porém essa cartilha funciona perfeitamente para alguns filmes e para outros não, e ela não se encaixou bem no “O Carteiro...”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nenhum artista é `inocente` no que faz artisticamente.

De acordo com a democracia, as pessoas não precisam ser inocentes para serem protegidas.

`Os protetores são os piores tiranos`
Afirmação de Lima Barreto
(acredito eu ser uma afirmação política)

Anônimo disse...

já que vocês enveredaram por essa seara, que tal uma análise da "onda"!

... nestes tempos de controle das mentes e sentimentos...

ass.: kyw

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